Sinopse: Em “O Tremor”, um fotojornalista recebe a missão de ir até uma pequena vila na Índia atingida por um terremoto, para registrar imagens da tragédia. Ansioso por ser sua primeira grande cobertura, ele chega ao lugar antes dos outros jornalistas. Lá, porém, encontra apenas locais vazios e poucas pessoas, que não sabem ou fingem não saber sobre o terremoto. O fotógrafo passa a explorar a região das montanhas em busca do desastre, e, à medida em que o mistério aumenta, a neblina que ele enfrenta fica cada vez mais densa.
Direção: Balaji Vembu Chelli
Título Original: Nilanadukkam (2020)
Gênero: Mistério
Duração: 1h 11min
País: Índia
Esperando o Pior
Vem da crise, a oportunidade. “O Tremor” usa elementos de mistério para contar a história de um fotojornalista (Rajeev Anand) escalado para cobrir as consequências de um terremoto em uma vila no interior da Índia. Balaji Vembu Chelli produz, roteiriza e dirige uma obra que, à primeira vista, é um exercício de pura suspensão de expectativa. Todavia, o que desperta mais atenção não é a linguagem de gênero, que está até um pouco desgastada. O filme pinça um protagonista que permite uma interessante discussão sobre a urgência midiática, ao mesmo tempo que traz a produção da imagem como centro da trama.
A trajetória do personagem é quase como as fases do luto (ou da embriaguez). A caminho de uma tragédia em potencial, ele fala ao telefone no quarto de um hotel, antes de pegar a estrada para o local do trabalho. Nos poucos momentos em que a narrativa apresenta um diálogo construtivo (dali em diante ele passará quase todo o tempo perguntando onde está a parte da cidade destruída pelo abalo sísmico), ele entrega seu dilema: se sente culpado por lamentar o ocorrido e por ser, a partir dele, a sua grande chance de ascender na carreira.
Esse afastamento moral ou entendimento ético acerca de sucesso é uma árdua missão para os profissionais do jornalismo (também o é para operadores do Direito, médicos… mas não estamos entre eles por aqui). Um ofício que se destaca nos piores momentos de uma sociedade. “O Tremor“, então, nos informa que o jovem fotógrafo está em busca do sucesso. Longe do desrespeito à civilidade do protagonista de “O Abutre” (2017), de Don Gilroy. Ele quer conquistar pelos próprios méritos – e isso se reflete em um respeito na sua chegada.
Só que, antes de chegar, o cineasta faz uma intrigante construção em duas sequências – as mais inspiradas do filme, posto que dali em diante o material é bem menos inventivo. Vembu Chelli nos coloca em uma longa cena dentro do carro, com uma trilha de perseguição. Dificilmente alguém que goste de cinema, ainda mais de narrativas ficcionais, não tenha se envolvido com longas-metragens deste tipo. “Encurralado” (1971), por exemplo, que inaugurou a carreira de de Steven Spielberg. Geralmente nos provoca lembranças saudosas de filmes não necessariamente bons. No meu uma produção que vi quando era criança, “Breakdown – Implacável Perseguição” (1997), fracasso na carreira de Jonathan Mostow, estrelado por Kurt Russell.
O jogo aqui é interessante, porque – apesar do fotojornalista vivido por Anand parecer e se portar em cena como quem é perseguido, na verdade é ele quem persegue. Até que um plano-sequência amplifica essa trilha incidental de thriller, quando ele para em um acidente na estrada e entende que, ali, há potencial para a grande matéria que levará na bagagem. Outra cena que se estende, que prende a atenção mesmo que o espectador não tenha o que esperar a não ser um CGI de caos e destruição. Mas, nada acontece. A quebra de expectativa é o destaque da parte inicial de “O Tremor” e nos fez sonhar que estaríamos diante de algo fora da curva.
Porém, o diretor segue com novas tentativas de aplicar linguagens de gênero a tal ponto que esgota seu arsenal. A neblina densa demais, que não entrega nada de novo. Uma trilha de mistério mais ao estilo de detetive clássico – uma montagem onde ele é mais agressivo em sua busca. Balaji Vembu Chelli imputa totalmente ao estilo uma construção que passa por outros elementos. Não há por parte de Rajeev Anand uma trajetória de personagem.
Podemos supor que aquelas fases do luto e da embriaguez o levam do respeito pela tragédia à ansiedade por não identificar o ocorrido. Afinal, para um produtor de imagens jornalísticas – se ela não existe, é como se não houvesse fato. Dali ao desespero que desumaniza e à frustração da derrota seria um salto. Só que todas essas conclusões dependem de um desenrolar exclusivamente virtuosista do comandante da obra. Ao não executar os momentos que se sucederam vinte minutos iniciais irretocáveis com a mesma eficiência, “O Tremor” não mantém o envolvimento – causando a mesma frustração do fotojornalista em nós.
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