Sinopse: Babak é um estudante iraniano que mora na Grécia. Quando seus pais vão visitá-lo, ele não aparece para recebê-los no aeroporto. Pari e o marido, um homem mais velho, ambos muçulmanos devotos, fazem sua primeira viagem para o exterior e não estão preparados para procurar pelo filho em um ambiente desconhecido e intimidador. Todas as tentativas dos dois para encontrar uma pista que pudesse guiá-los ao paradeiro do garoto não os leva a lugar algum e eles logo chegam a um beco sem saída. Mas Pari não desiste de procurar por Babak, mesmo quando retornar ao Irã parece ser a única opção. Seguindo os passos do filho rebelde nos cantos mais sombrios da cidade, ela usa sua força interior para realizar mais do que a busca de uma mãe pelo filho desaparecido.
Direção: Siamak Etemadi
Título Original: Pari (2020)
Gênero: Drama | Thriller
Duração: 1h 41min
País: Grécia | França | Holanda | Bulgária
Sem Relutar
Exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim deste ano, “Pari” é um ótimo exemplar de filme de convergência de público. O longa-metragem dirigido por Siamak Etemadi e parte da Competição Novos Diretores da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, pode ser considerado um thriller social. Parte de uma premissa carregada de suspense, com os pais de Babak buscando notícias do filho que não os encontrou no aeroporto quando o casal de iranianos chega para visita-lo na Grécia. A partir daí, sob os olhos da personagem-título interpretada por Melika Foroutan, nos leva a uma jornada pelas várias formas de opressão e tensões convivendo em um mesmo espaço.
Há uma condução narrativa e de criação de ganchos que fez lembrar a incursão de Mira Nair sobre a Guerra ao Terror na obra “O Relutante Fundamentalista” (2013). A diferença é que aqui arestas são aparadas, sem que sub tramas ou novos sentimentos tirassem o foco da procura de uma mãe pelo filho. Ela e o marido Farrokh (Shahbaz Noshir) chegam à Europa como visitantes, mas em nenhum momento são tratados com o respeito devido. As instituições o enxergam como potenciais refugiados ou o julgam por sua religião não hegemônica e carregada de conceitos pré-concebidos, o que torna mais difícil encontrar pistas sobre o paradeiro de Babak.
A maneira como Etemadi nos leva alia essa carga de suspense aplicada (de linguagem clássica de gênero), com a representação do olhar de Pari a partir do território. São raros os momentos em que a protagonista sai da zona periférica do grande centro grego onde se encontra. Isso faz com que ela sempre esteja à margem – com a diferença de que foi atirada para o ambiente por força das circunstâncias. Aliando as descobertas sobre as experiências do filho longe de casa, ela acaba criando um envolvimento político com as questões sociais. Humanizando as relações, da luta de classes à xenofobia, há uma comunhão de anseios por justiça que faz com que ela dialogue mais com a anarquia do que com a burocracia governamental.
A forma como Etemadi equilibra esse desenvolvimento de motivação da personagem com a manutenção da alta dose de tensão é mais do que envolvente. É o tipo de filme que pode agradar um arco bem maior de cinéfilos que buscam na Mostra filmes de produções fora do eixo, com questões urgentes – e, mesmo assim, com uma linguagem atraente ao espectador-médio. Consegue abarcar não apenas as dificuldades que muçulmanos ou migrantes vindos do Oriente Médio passam na Europa. Vira o holofote para a juventude da própria Grécia, uma nação que completa duas décadas de crise e já formou gerações inteiras marcadas pela ausência de perspectiva.
Talvez afete aqueles que se incomodem com o uso de uma ou outra ferramenta mais clichê. Em determinado momento, a mulher acha que viu o rosto do filho na multidão, por exemplo. Cena calculada para quebrar a narrativa, impor uma trilha mais densa e frustrar propositalmente o público. Ao longo de “Pari” são poucas as vezes em que essas formulações se impõe com ausência de objetivo. O iraniano Siamak Etemadi trabalhou apenas em curtas – sendo “Cavo D’Oro” (2012), parte da competitiva do Festival de Locarno, o mais bem sucedido deles. Esperou muito para realizar um primeiro longa-metragem, sem chance de errar. E entrega uma obra universalista e que emociona desde a projeção sobre nossa relação ao meio em que vivemos até as rememorações dos laços familiares, todos primordiais para nossa existência.
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