Planta Permanente

Planta Permanente Filme Crítica Pôster

Sinopse: Há 30 anos, Lila trabalha como faxineira em um prédio municipal de província. Ela é uma figura importante na sociedade cuidadosamente unida do escritório por causa do refeitório não oficial dos funcionários, que ela administra junto com sua amiga Marcela. Quando Lila tem a oportunidade de reformar o refeitório e administrá-lo oficialmente como chefe, essa repentina elevação de seu status causa a inveja de Marcela e inicia uma lenta decadência do delicado status quo do escritório.
Direção: Ezequiel Radusky
Título Original: Planta Permanente (2019)
Gênero: Drama
Duração: 1h 19min
País: Argentina | Uruguai

Planta Permanente Filme Crítica Imagem

Permanecemos Derrotados

O quarto e o último longa-metragem exibido na mostra competitiva latino-americana do 49º Festival de Cinema de Gramado, “Planta Permanente“, nos coloca diante da encruzilhada da classe trabalhadora, que não possui alternativa a não ser se adaptar ao discurso empreendedor e meritocrático propagado pela classe empresária, formada em sua maioria por privilegiados que gostam de: 1. pinçar exceções para transformar sua regra em algo aceitável ou 2. supervalorizar seus desafios para dar um ar épico às suas conquistas.

A coprodução entre Argentina e Uruguai, dirigida por Ezequiel Radusky, é uma drama situacional simples. Nos apresenta Lila (Liliana Suárez) e Marcela (Rosario Bléfari), duas amigas que tocam um refeitório – ou comedor (chamado de forma bem mais direta e, ao mesmo tempo, poética, por nossos hermanos) de um prédio da Administração Pública, acumulando funções de limpeza. Elas desempenham o trabalho que ninguém quer fazer. Ao mesmo tempo que se colocam como salvadoras de um microcosmo da sociedade ao lhes fornecer higiene e alimentação, são invisibilizadas pelos outros agentes.

Contudo, no processo globalizante e neoliberal de desmontar qualquer base de dignidade, o comedor deixará de ser um anexo mal colocado naquele edifício. Isso em um discurso cheio de incentivos com uma capa de choque de gestão, representado na figura da diretora interpretada pro Verónica Perrotta. De plano, ele será descontinuado, o que faz com que um rompimento entre elas ocorra. Entendendo que a relação horizontal entre as protagonistas seria danosa às pretensões dos chefes locais (afinal, tudo nesse mundo é comunismo para as mentes ignorantes), Lila é motivada a ir além. Ter seu próprio negócio, administrar o refeitório, mas a troco de puxar o tapete de Marcela. Sai uma espécie de cooperativa, sem a hierarquização típica de uma empresa, entra a ideia de propriedade.

Sendo assim, “Planta Permanente” desenvolverá sua narrativa a partir do abalo desta amizade. Uma desavença, um ranço instalado entre as mulheres que absorviam a ideia de servidora pública sem que o Estado ou seus colegas de repartição dessem o respeito que merecem. Juárez venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Mar del Plata em 2019 e, passados dois anos, o longa-metragem permanece transitando pelo circuito de festivais, enquanto “A Vida Invisível” (2019) e “Os Sonâmbulos” (2019) – presentes no mesmo evento – ganharam vida própria.

Há uma representação que pode ser menos atraente para o público em geral. Radusky explora ao máximo uma situação, fazendo boa parte do filme uma narrativa de permanência. Avança bem no rompimento do que era considerado a normalidade e só fará a outra ponta se encontrar bem mais adiante. Quando o realiza, é de forma bem envolvente e faz a roda girar a ponto de tornar aquele comedor um espaço atraente para o capital, como não deveria deixar de ser.

Faz dessa trama simples, de poucos personagens, mais um reflexo da trajetória do povo trabalhador na América Latina. Um fluxo constante de pequenas vitórias e grandes derrotas. Ela se dá em relação a Marcela pela perda de competitividade, que a retira do mercado mesmo com todos os esforços e a boa relação com a, agora, concorrente. Se dará, por fim, à Lila, quando o empresariado avança sobre o seu sucesso como um touro, transformando todo o seu idealismo em pó.

A mensagem de “Planta Permanente” é clara: não acredite no canto da sereia burguês de que você pode se ver livre das amarras que a especulação financeira e o poder impõe à sociedade. No fim, ou você se tornará parte dessa lógica e olhará do topo reproduzindo a humilhação à massa vulnerável ou sofrerá com confisco de seus sonhos.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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