Por Trás da Inocência

Por Trás da Inocência Crítica Filme Netflix Pôster

Sinopse: Em “Por Trás da Inocência”, ficção e realidade se confundem quando uma escritora de sucesso com bloqueio criativo contrata uma nova babá para os filhos.
Direção: Anna Elizabeth James
Título Original: Deadly Illusions (2021)
Gênero: Drama | Thriller
Duração: 1h 54min
País: EUA

Por Trás da Inocência Crítica Filme Netflix Imagem

Nem de Grace

Por Trás da Inocência” há trinta anos, teria feito você ter colocado o nome na fila de espera da locadora, para conseguir na sexta-feira à tarde levar para casa o filme novo com aquela atriz daquela série muito engraçada, “Sex and the City” (1998-2004). Ou faria você pedir para alguém te acordar ou colocar o despertador para umas 22:30 de um sábado à noite por medo de cochilar durante a novela e perder o Supercine com aquele ator de “O Casamento do Meu Melhor Amigo” (1997). Talvez as cenas de sexo e de violência, todas softs, inseridas em uma trama que você é capaz de trilhar o caminho – e saber que não levará a nada – garantiria a diversão de uma época em que você não conseguia ter controle sobre o tipo de filme que consumia.

Aos poucos as plataformas de streaming, representadas aqui pela líder do mercado, a Netflix, querem tirar novamente sua liberdade. Porém, desta vez o filme escrito e dirigido por Anna Elizabeth James não se permite um mínimo de atualização. É uma volta no tempo no pior sentido e se valendo de alguns elementos que farão parte desse texto.

Para não dizer que há uma tentativa de modernização, a relação extraconjugal é entre duas mulheres, sendo o homem o traído. Mary Morrison (Kristin Davis) é uma escritora milionária que passa por um bloqueio criativo. Porém, como o marido, Tom (Dermot Mulroney), torrou metade da fortuna da família, ela aceita um polpudo adiantamento de sua editora para escrever um novo livro. Para ajudar a ter tempo livre, ela procura uma agência de babás, que envia para sua mansão Grace (Greer Grammer) uma jovem tão falsamente inocente que só falta vir com uma placa escrito “cilada” na testa.

A montagem inicial de “Por Trás da Inocência” já nos revela que estamos em um thriller dos mais clichês. Sem o mínimo esforço, a cineasta quer facilitar nossa experiência pontuando todas as cansadas referências de gênero. Começando pelos créditos que trazem a névoa na costa da casa da família Morrison. A trilha sonora demarca as cenas de suspense e em outros momentos parece ter uma crise de personalidade, tal qual a protagonista. Ela desenvolve uma obsessão pela babá. Inocência e obsessão, quem diria que esse seria o caminho? O que vem mais adiante, você também já sabe. Aliás, o título em português mantém a aura de uma fórmula tão desgastada que foi abandonada por Hollywood e depois pelas produtoras independentes.

No meio de estereótipos e objetificações, o longa-metragem acha que faz um grande serviço ao subverter a lógica da infidelidade heterossexual. Como se a mudança da posição de uma peça do tabuleiro fizesse o jogo ser outro. Como chamar o bispo de torre no xadrez e manter as mesmas regras. Grace é uma babá que está em todos os lugares da casa, menos cuidando das crianças. Uma proposta de narrativa que, mesmo que ultrapasse o bom senso em prol da trama, não nos conecta porque tudo na produção é envelhecido. Os diálogos, as atuações e até mesmo os sons inseridos posteriormente. A atriz pula na piscina devagar e o barulho é de um mergulho profundo. O ator tira uma foto com o celular e o som é daquelas máquinas dos anos 1990 – isso, igual quando as colegas de auditório do Silvio Santos pedem um registro.

A fita (aqui cabe até o resgate de tal palavra) parece feita naquela época. Em todos os aspectos. Não como uma homenagem. Com a adição de tantos elementos (até mesmo girando entre o psicótico e sobrenatural), a apresentação desconjuntada quase dá um tom de paródia. Vai de “O Iluminado” (1980) a “Atração Fatal” (1987) da pior maneira possível. Uma piada sem graça, só com Grace mesmo.

Na subversão atravessada, “Por Trás da Inocência” soa ainda mais fetichista – e desde já assusta o próximo projeto da diretora, já em pós-produção, chamado “Fraternidade Sinistra”. A conclusão “aberta” era barbada, mas o longa-metragem ainda (não) nos surpreende com um clímax constrangedor, inclusive na qualidade técnica. A única coisa boa ao final da sessão é que você não precisará rebobinar e nem correr na locadora na hora do almoço de segunda-feira para não pagar multa.

Veja o Trailer:

 

Clique aqui e leia críticas de outros filmes da Netflix.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *