Sinopse: O filme é o lindo resultado de um esforço do diretor Félix Viscarret em fazer um retrato íntimo do lendário cineasta espanhol Carlos Saura, mas o próprio Saura – que não gosta de falar de seu passado –, deixa as mais preciosas revelações por conta dos seus sete filhos.
Direção: Felix Viscarret
Título Original: Saura(s) (2017)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 26min
País: Espanha
Só Você Está Bem
Um dos maiores cineastas da história de seu país aporta duas vezes na mostra Volta ao Mundo: Espanha, que fica disponível para os assinantes do streaming Petra Belas Artes à La Carte até o dia 16 de junho. De 1975, a sua obra mais famosa, “Cria Cuervos” – e que esperamos revisitar nos próximos dias. A outra é “Saura(s)” documentário, de 2017 e até então inédito no Brasil, de Félix Viscarret – indicado ao Goya em sua categoria. A ideia é quebrar a aura introspectiva do diretor trazendo um conjunto de conversas dele com seus sete filhos, começando pela caçula (e única mulher), Anna. Porém, em virtude da liturgia por trás da própria criação de uma obra documental, o filme acaba chamando mais atenção nesta tentativa de superar um obstáculo criado pelo seu próprio personagem.
Quase toda a cria de Saura se vinculou às artes e à criatividade, de certa maneira. Isso torna as reflexões de seus depoimentos um pouco condescendentes pela maneira como seu pai se comportou ao longo de toda a vida. Relações familiares dificultadas por uma genialidade que depende da solidão para desenvolver seus projetos. O cineasta é um alguém convicto – até demais – das prerrogativas que cercam aquilo que se transformou sua trajetória. Mais do que uma pessoa reservada, o longa-metragem começa a consolidar aspectos de sua personalidade que, por vezes de forma irônica, destoam do impacto que sua filmografia nos causa.
Com Anna ele surge um pouco mais pragmático, a tática usada por alguém mais jovem e que tenta naturalizar o diálogo a partir da revisão de uma agenda lotada de compromissos. Por mais que Carlos objetive não explorar essa via notória de sua rotina, parece conformado com a ideia de que certos espaços querem ser ocupados por ele. Inserido no audiovisual pela via acadêmica, lança seu primeiro curta-metragem, “La Tarde del Domingo” ao término de sua formação em 1956, com 24 anos. Já na década de 1960 vence dois troféus no Festival de Berlim, incluindo o Urso de Prata em 1967 por “Peppermint Frappé“.
Na década de 1970 leva seus trabalhos quatro vezes seguidas à mostra competitiva do Festival de Cannes e vence duas vezes o Grande Prêmio do Júri, incluindo em 1975 o já citado “Cria Cuervos”. O futuro ainda lhe reservaria duas indicações ao Oscar de filme estrangeiro (“Mamãe Faz Cem Anos” de 1979 e “Carmen” de 1983) e muitos Goyas, incluindo o recorde de treze na superprodução “Ay, Carmela!” de 1990.
Porém, “Saura(s)” mostra um biografado pouco disposto a essas releituras, ainda mais nessa cronologia forçada de sua existência. Em mais de uma oportunidade, o diretor reitera que não gosta de rever seus filmes e nem mesmo pensar no passado. Ou seja, um dos responsáveis por importantes registros de memória e identidade de parte da Espanha não gosta de tomar para si este ideal. Mais uma vez, a palavra que melhor define sua relação com o que muitos entendem como seu legado é a do conformismo.
Cada novo filho que entra em cena traz nos aspectos pessoais e profissionais do pai. Sobre a transformação e o abandono de parte de suas narrativas na produção a partir dos anos 1990, até os fatores que envolvem a distribuição internacional. Há momentos em que parecemos assistir um exercício de fuga de Carlos Saura, que apela de todas as formas para não ter que se repetir, algo que ele odeia e que torna quase impossível elevá-lo a objeto tal qual Felix Viscarret, enquanto diretor e roteirista, almejava. Por isso não tinha como evitar que parte do desenvolvimento da obra assuma que falhou em parte das intenções.
Em uma das poucas falas mais assertivas de Saura, o registro de que ele e Luis Buñuel sempre procuraram fugir do sentimentalismo. Mal sabe o protagonista que boa parte dos familiares que atravessaram o documentário registraram a frieza e a insensibilidade pela qual Carlos ficou marcado. A vida adulta de parte da cria trouxe a tal condescendência em relação a este fato – e é aqui que, enquanto filho de um pai parecido, que criei essa identificação por sempre nos tornarmos aquilo que mais temíamos.
Mesmo assim, “Saura(s)” guarda momentos tocantes aos mais observadores, como a mudança no comportamento do cineasta quando um dos garotos, que superou uma leucemia com apenas seis anos de idade, conduz a entrevista. Não imaginávamos nada diferente deste encontro de vida e obra de um artista, mesmo que de maneira atravessada. É que Carlos Saura sabe que seus esforços merecem se concentrar para que algo realmente importante ganhe o impacto que merece.
Veja o Trailer:
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