Se Algo Acontecer… Te Amo

Se Algo Acontecer... Te Amo Crítica Curta Netflix Oscar 2021 Imagem

Sinopse: Pais enlutados lutam com a perda de sua filha após um tiroteio na escola. Uma elegia ao luto. “Se Algo Acontecer… Te Amo” foi produzido pela Gilbert Films e Oh Good Productions.
Direção: Will McCormack e Michael Govier
Título Original: If Anything Happens I Love You (2020)
Gênero: Animação | Drama
Duração: 12min
País: EUA

Se Algo Acontecer... Te Amo Crítica Curta Netflix Oscar 2021 Imagem

Histórias para uma Era de Luto

Se Algo Acontecer… Te Amo“, um dos cinco curtas-metragens de animação indicados ao Oscar de 2021, está disponível na Netflix. Uma obra de pouco mais de dez minutos que serve como triagem de consulta com cardiologista. Se você não se emocionar com o filme de Will McCormack e Michael Govier é provável que você não tenha mais coração. Lançado na plataforma no dia das crianças dos Estados Unidos – 20 de novembro – usa todos os elementos de condução de sentimentos do espectador, funcionando como pouco se vê nas animações atuais.

Um deles é a trilha sonora de Lindsay Marcus, que age quase como uma timoneira. Sem créditos em produções maiores, apenas em elementos adicionais de alguns seriados, aproveita bem a chance da carreira. Somos levados por aquela música, que combina com o cinza dos traços da equipe de animadores. Entre eles a brasileira Julia Gomes Rodrigues. Com produção executiva de Laura Dern, que tomou a frente como porta-voz do filme na temporada de premiações, todos os meios oficiais da obra (incluindo seu simples e bonito site oficial) nos conduz ao Everytown for Gun Safety, ONG que luta pelo fim da violência praticada por armas de fogo, uma das óticas mais problemáticas da sociedade norte-americana.

A realização é liderada por dois atores que migram para a direção a partir deste curta-metragem, que põe holofote a um grande problema da sociedade norte-americana e que, com o fim do governo Trump, parece voltar com força total. A diminuição dos ataques com armas de fogo por cidadãos em conflitos internos arrefeceu quando um lunático ocupou a cadeira da Casa Branca. Infelizmente, nos últimos dias observou-se uma nova onda, já que é comum tais eventos ocorrerem em série. A visibilidade na imprensa serve de motivação para aqueles que estão se preparado para fazer o mesmo (quando não há um coordenação direta). Um tipo de notícia que cada vez mais abala menos as estruturas das comunidades. Houve uma banalização, uma naturalização. O que é previsível, visto que o mesmo aconteceu em menos de um dia ano com a covid-19.

É justamente por chegar em um momento em que a morte paira sobre nossas cabeças como uma nuvem constante que a obra encontra sua força. O mundo dos pais da jovem é sem cor. A primeira que aparece, como um desdobramento da tristeza, é o azul. Depois outros tons surgem, mas tudo parece lembrar aquela que partiu. Perder um ente querido, de forma abrupta, violenta e ter que voltar para a casa e para as coisas daquela pessoa é um dos piores momentos da vida de quem fica. “Se Algo Acontecer… Te Amo” consegue materializar, texturizar esse sofimento, usando as táticas de sempre.

Depois do cinza quebrado por lembranças, a memória afetiva de viagens, atividades e os espaços ocupados pela menina. O quarto de quem partiu tem as marcas e elas, no início do processo de luto, provocam uma dor física inigualável. Dói de lembrar, dói por escrever. Dói pensar quantos “eu te amo” urgentes não foram ditos nas últimas semanas, por conta de um mal que nos isola.

O filme também nos lembra que o choque da morte repentina é algo que sempre nos acompanhou e acompanhará. Superaremos o obstáculo atual enquanto sociedade, mas aqueles que queremos bem precisam sempre de proteção e afeto. Vivemos um tempo em que perdemos o controle sobre qual será o próximo luto, a próxima perda. Difícil mensurar o impacto de uma obra como esta, disponível para milhões de assinantes no mundo todo. Como parte da espetacularização, em mistura com a carência por trocas humanas, é possível achar no YouTube as reações mais emocionadas a “Se Algo Acontecer… Te Amo“. Talvez ela seja até mesmo contraindicada para boa parte de nós. Para outros, pode ser um chamado para expor seus sentimentos. Fique bem ao fazê-lo.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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