Sinopse: Em um funeral judeu com seus pais, uma estudante universitária encontra seu sugar daddy.
Direção: Emma Seligman
Título Original: Shiva Baby (2020)
Gênero: Comédia Dramática
Duração: 1h 17min
País: EUA
Com açúcar e sem amor
“Shiva Baby” (2020) tem em sua sinopse e roteiro características que nos lembram as boas comédias ácidas de Todd Solondz em meados da década de 1990. Revelando toda a contradição e hipocrisia da sociedade média capitalista, vem do argumento de um curta-metragem de mesmo nome (2018) que merecia virar longa.
Apresentado no Brasil como parte do Festival Mix de 2020 foi escrito e dirigido por Emma Seligman, realizadora que já vinha flertando com as fronteiras entre a comédia e a tragédia social. Talvez, esse tipo de comédia seja o que (pessoalmente) mais me interesse, não que vocês estejam preocupados com isso, mas posso a partir daí destrinchar os motivos e dizer porque considero esse filme umas das comédias estadunidenses mais interessantes que foram lançadas no ano passado.
A trama trata de acompanhar um dia na vida de Danielle (Rachel Sennott) jovem que, logo sabemos, ganha seu dinheiro como sugar baby e tem uma relação conflituosa com sua família. A relação, porém, não advém de sua profissão, guardada à sete chaves pela jovem, mas de uma tensão sobre seu futuro e sua (des)conexão com a religião judaica. O fato da trama se desenrolar em um funeral, faz com que as situações se tornem mais insólitas e possamos assistir à angústia de Danielle se consolidar por entre petiscos e sanduichinhos de patê em um ambiente no qual conhece a todos desde que nasceu, embora não se recorde de quase ninguém. Tudo piora quando seu sugar daddy aparece no espaço e demonstra conhecer sua família.
Seligman poderia ter escorregado em algumas das diversas inquietações que o filme possui, mas não o faz. Nos entrega um filme que transita na linha tênue entre a graça, a jocosidade e o falso moralismo tratando de religião, sexualidade e a profissão de Danielle sem que ela própria caia na armadilha que armou. Não é alimentando-se do julgamento amargo que “Shiva Baby” cresce, é a partir e apesar dele. Atentando-se para todas relações mal resolvidas e quase esgotadas em si mesmas, a diretora faz piada com os conflitos internos que todos nós temos, principalmente aqueles que querem demonstrar ser o que não são e vivem do olhar julgador dos demais. Quer dizer, todos nós mesmo…
O encontro com a ex-namorada Maya (Molly Gordon), essa bem-sucedida aos olhos da própria Danielle, completa o caos de nossa protagonista que só quer saber o que fazer amanhã. Os pormenores da trama que recorre à um crescente desamparo e julgamentos silenciosos (algumas vezes, não tanto) deixamos para que vivenciem em agonia.
Quase inteiramente condensado em uma casa de periferia estadunidense, “Shiva Baby” é uma estufa de pesadelos juvenis com todas as figuras presentes: os pais aparentemente compreensivos – porém desacreditados, a ex ainda magoada, as senhoras perguntadoras e os monstros que a própria Danielle deixou crescer.
Veja o Trailer: