Siron. Tempo Sobre Tela

Siron. Tempo Sobre Tela Crítica Documentário Pôster

Sinopse: “Eu lembro mais das coisas que pintei do que das coisas que vivi”, diz, em certo ponto da abertura do filme, Siron Franco, 71, tido por pensadores como Ferreira Gullar como um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos. Encadeando pensamentos e memórias em associações inusitadas e reveladoras, a dar foco ao tempo que brota da interação de um arquivo pessoal inédito com novas filmagens, o documentário “Siron. Tempo Sobre Tela” ilumina a personalidade inquieta e a mente criadora do artista, onde fronteiras entre realidade, memória e sonho se dissolvem.
Direção: André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos
Título Original: Siron. Tempo Sobre Tela (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 31min
País: Brasil

Siron. Tempo Sobre Tela Crítica Documentário Imagem

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O artista goiano Siron Franco tem uma carreira marcada por polêmicas e reviravoltas estéticas. Em “Siron. Tempo Sobre Tela”, os diretores Andre Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos exploram a complexidade do artista.

Inquieto, Siron se envolveu em muitas empreitadas que foram desacreditas por muitos ou sobreviveram somente na cabeça do goiano, como o Monumento às Nações Indígenas, criado em ocasião da Eco 92 e destruído quase inteiramente em pouco tempo pela falta de entendimento de seu simbolismo. Mas, ao contrário do que possa parecer em uma leitura rasa, a obra de Franco pouco tem a ver com fracasso. Em verdade, até quando fracassa, ela revela algo – nesse caso, a persistência de um olhar rígido e colonizador (mesmo que essa parta de uma reprodução dos colonizados). As questões judiciais que envolvem a obra não definem o artista.

Considerado um de nossos maiores artistas vivos, Siron brinca com o tempo – como sugere o título do documentário – fazendo de suas obras verdadeiros campos de experimentações. No fazer e refazer em cima de uma mesma tela, reinventa seu método deixando fluir nas pincelas um novo tempo. Como o próprio diz, seu trabalho nasce da exaustão.

Lopes e Campos acompanham através de fitas antigas gravadas pelo próprio artista e imagens representativas dessa constante reconstrução, o fazer de Siron. Assim, temos algumas cenas que lembram bastante o emblemático filme de Henri-Georges Clouzot sobre Picasso, na qual a câmera parece inserida dentro da tela. Os diretores não são os primeiros a repetir esse expediente, porém ao fazê-lo compor em conjunto com o repertório de Siron ganham em qualidade narrativa e propositiva. Trata-se mesmo da investigação da obra no tempo e do tempo na obra.

Misturando realidade, sonho e arte o artista plástico transfigura alguns momentos traumáticos de sua vida (como memórias dolorosas da infância e uma juventude assombrada pela ditadura) em possibilidades artísticas. Talvez, por isso, tenha essa vontade de mudar sempre. Suas apostas são arriscadas porque somente assim poderiam existir (e, é possível que somente assim ele possa existir). Sem se prender a uma forma única de fazer arte, multiplica e reinventa seu poder.

O documentário se mostra em pequenos detalhes e frases soltas que escolhe para inserir na construção que faz de Siron. Mais do que desvendar ou afirmar algo sobre o artista, trabalha com Franco. Um pouco como todas – boas -biografias poderiam propor. Longe de querer aqui afirmar como regra o que deve ou não fazer um filme, imagino que ele possa se apresentar como um convite. “Siron. Tempo Sobre Tela” assim o faz na figura de um Siron selvagem, sem amarras definitivas e, que parece bem mais interessado em vasculhar a modelar.

Lançado pela Pandora Filmes, com estreia marcada para dia 25 de março nos cinemas e em plataformas de streaming de locação sobre demanda, como Belas Artes a La Carte, Looke e Now, dentre outros, pode oferecer boas reflexões àqueles que gostam de pensar a produção artística e suas relações com as subjetividades e acontecimentos históricos e políticos.

Veja o Trailer:

 

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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