Terra Selvagem

Terra Selvagem Crítica Filme Telecine Pôster

Leia a crítica de “Terra Selvagem”, que chegou na Première Telecine.

Sinopse: Em “Terra Selvagem”, um relutante boxeador e seu irmão devem viajar pelo país para uma última luta, mas uma inesperada companheira de viagem expõe as fissuras em seu vínculo ao longo do caminho.
Direção: Max Winkler
Título Original: Jungleland (2019)
Gênero: Drama
Duração: 1h 29min
País: Reino Unido | EUA

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A produção independente “Terra Selvagem“, após passagem pelo circuito comercial brasileiro, chegou no meio desta semana ao catálogo do Telecine com o selo première do serviço de streaming. Apesar de um cineasta e elenco pouco conhecidos, o drama dirigido por Max Winkler se torna atraente para o espectador pela simplicidade e por não perseguir um desdobramento que fuja desta escolha. Usando o universo das lutas, a relação entre irmãos e questões envolvendo trabalhadores de periferias das grandes cidades, é possível que o público encontre certa zona de conforto a partir da repetição de uma narrativa, que não inova, mas não se compromete sendo exatamente aquilo que busca ser.

Lion (Jack O’Connell) é um jovem e talentoso boxeador. Trabalha com seu irmão Stanley (Charlie Hunnam) em uma indústria têxtil, enquanto alimenta o sonho de se profissionalizar. Nos finais de semana e noites livres, treina e se inscreve em competições para ser visto e levantar algum dinheiro. Usa a chance de retorno financeiro como justificativa para seguir adiante, por mais que o tempo passe e a ideia de “acontecer” no esporte soe cada vez mais distante. Já o irmão atua como treinador, empresário, incentivador e até irmão, tudo o que Lion precisa para manter viva a chama. Quando surge a oportunidade de participar em outra cidade de um torneio de alta visibilidade, eles conseguem o suporte de um conhecido, que condiciona o auxílio à viagem com o transporte de Sky (Jessica Barden), uma misteriosa garota.

O longa-metragem, então, se desenvolve pela crueza. Um leque de personagens reduzidos, poucas informações sobre suas origens, um objetivo direto. Um road movie obscuro, de uma escolta improvável de dois homens a uma mulher e que nos envolve pelo constante clima que parece levar seu protagonista da expectativa à frustração, de uma realidade em que a perspectiva já deixou de existir há tempos. Há uma dose de universalismo que ultrapassa até mesmo o mundo das lutas. Lion é um homem que parece sempre na beira do sucesso, mas ele não se materializa. A ponto dele refletir se deve seguir neste ciclo, se o sonho com o qual ele se alimenta não se transformou há tempos em uma utopia indefensável. O roteiro nos leva a uma sequência de acontecimentos enquanto consequência dele e de Stanley não terem mais nada a perder.

Quando confirmados os motivos que fizeram Sky parte da caravana, o filme amplia esta carga de submundo, uma troca de experiências baseadas na falta de confiança. Um desejo de fuga de todos, que acaba se transformando em uma aliança. Novas relações de dependência, agravando ainda mais o que há de pouco esclarecida no que Stanley entende de importante em seus atos perante Lion. Sem a dinâmica e a diversão pelo imponderável de histórias parecidas, como “Vida Bandida” (2001) e bem menos metafórico na relação com o esporte do que incontáveis exemplares do gênero.

Reflete uma leitura do cidadão-médio norte-americano, incluindo a dupla referência a Bruce Springsteen: o título original, “Jungleland“, nome da faixa épica do clássico “Born to Run” de 1975; e quanto toca a recente “Dream Baby Dream“, no toque adocicado de seu ato final. De tão enxuto, “Terra Selvagem” pode soar até um pouco vazio. Extrair dessas poucas relações e informações um sentindo que nos incentive a chegar ao fim é, de fato, um pouco difícil. Porém, Winkler não se estende sob nenhum aspecto da narrativa – olha para frente, desenlaça o que há de mistério, explora o drama e pronto. Nos entrega a luta final de Lion, tal qual prometeu desde o início. Voa alto para não se perder, sonha pouco para não se frustrar. Quem escolheu baseado na ousadia, pode perder tempo. Quem queria um drama expresso, se incomodou bem menos.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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