The Moon: Sobrevivente

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Sinopse: Em “The Moon: Sobrevivente’, um homem é deixado no espaço devido a um acidente, enquanto isso, na Terra, outro homem luta para trazê-lo de volta em segurança.
Direção: Kim Yong-hwa
Título Original: 더 문 (2023)
Gênero: Ficção Científica | Ação | Aventura | Drama
Duração: 2h 9min
País: Coréia Do Sul

The Moon: Sobrevivente (2023) Crítica do Filme

Grave Crise sem Gravidade

Chegando aos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, a ficção científica “The Moon: Sobrevivente” não deixa de usar como argumento um dos aspectos contemporâneos da própria sociedade sul-coreana, país de origem da produção do longa-metragem. Estrelado por Do Kyung-soo, o filme é centrado na história de Hwang Sun-woo, jovem astronauta que fica à deriva nas proximidades da Lua após a morte dos outros dois tripulantes. A direção do popular cineasta Kim Yong-hwa se vincula às características narrativas do gênero escolhido, não se apresentando como uma obra desafiadora para o espectador-médio, que deve ter uma agradável sessão.

A base narrativa está no sonho da Coréia do Sul em atingir a superfície da Lua, um marco para todas as nações que se propõem a investir parte de seus recursos na chamada corrida espacial. Todavia, há um traço da personalidade política do país por trás desse objetivo direto e que comanda uma fatia considerável do orçamento do Estado. Desde a separação das Coréias, enquanto resultado da guerra iniciada em 1950 e com o cessar-fogo que as dividiu em 1953, com o progresso da parte sul, o passo seguinte do lado capitalista foi obter protagonismo mundial, sobretudo pela relevância cultural de sua sociedade – e não apenas levando à órbita um astronauta que se alinhará ao negacionismo após tentar ser comerciante de travesseiro, o que ocorreu no Brasil.

Não à toa “The Moon: Sobrevivente” tem como líder de elenco o idol Do Kyung-soo, parte da banda de k-pop EXO. A exploração espacial não deixa de ser uma forma de publicizar esse progresso. O roteiro (também de Kim Yong-hwa) faz uma proposta interessante de crise interna, permitindo ao público entender as motivações de seus personagens. Na cosmologia da obra, que se passa em 2029, uma missão de pouso na Lua cinco anos antes abalou a credibilidade do programa sul-coreano. Um fracasso de grande proporção, que fez com que o país deixasse de fazer parte do Conselho Espacial, ficando de fora da cooperação internacional em seus projetos e pesquisas.

A realidade é diferente, com o lançamento da primeira sonda lunar pela Coréia do Sul ocorrendo em 2022 e sendo bem sucedida. Seu objetivo é ter uma missão tripulada em 2032 para o satélite terrestre, além de outra para Marte em 2045. Voltando ao filme, uma repentina tempestade solar surpreende os três tripulantes bem próximos do pouso lunar. O Tenente Cho e o Comandante Lee são vitimados, permanecendo somente Hwang, que não sabe operar a nave que precisará levá-lo de volta à Terra. Como dificultador, tanto a NASA quanto o Conselho Espacial não ajudarão a Coréia do Sul a resgatar o astronauta, pelos motivos já expostos.

Até chegar nesse ponto, Yong-hwa mistura a clássica aventura de ficção científica com a exploração dramática dos personagens e um pouco de dinamismo audiovisual. Um dos mortos, por exemplo, estava se preparando para ser pai pela segunda vez, em processo de escolha do nome da filha, sendo dedicado a ele momentos mais emotivos. Já o prólogo do longa-metragem emula um documentário institucional para auxiliar a compreensão do espectador, misturada com uma edição de apresentação de participantes de reality-show. Boa parte da atratividade da sessão ocorrerá nestes primeiros minutos, eis que as duas horas que a sucedem são pouco inspiradas.

Enquanto trama política, “The Moon: Sobrevivente” permitia mais destaque. Muita pela forma como o Ministro interpretado por Jo Han-chul se comporta no início da crise, entrando em desespero a ponto de convocar o recluso Kim Jae-gook (Sul Kyung-gu), diretor na época da famigerada missão de cinco anos atrás. Afastado após se sentir responsável pelo fracasso, é por ele que a esperança de retorno acontece. Mais adiante, outras leituras políticas ocorrerão, tanto internamente com o auxílio infiltrado de Moon Young (Kim Hee-ae, que pode ser vista no k-drama “O Mundo dos Casados”, novidade no catálogo do GloboPlay), ex-esposa de Jae-gook com pretensões de crescimento dentro da NASA; quanto externamente, pela maneira como a comunidade internacional é pressionada a cooperar com os esforços de resgate pela viralização do caso de Hwang na imprensa e nas redes sociais ao redor do mundo.

A produção, entretanto, se vale desses desenvolvimentos como aposto da narrativa principal. Investe mais em flashbacks dramáticos sobre o passado de Hwang e seu pai e promove sequências de ação criando novas crises dentro do problema inicial e do panorama tão bem apresentados. Seja pela insistência da Coréia do Sul em pousar uma nave em estado crítico na Lua até a negativa do protagonista em ser ajudado por Jae-gook, gerando um diálogo exagerado e fora de propósito acerca do perdão e culpa – atitudes que não deixam de carregar seu teor político e explorado com uma frontalidade ineficiente.

Jae-gook, por sinal, é o personagem mais complexo de “The Moon: Sobrevivente”, mas não ganha o destaque merecido. Apesar da história comum do veterano que é resgatado para um último trabalho com o objetivo de salvar vidas, seu comportamento de outsider usando a comunicação externa para expor o problema do programa espacial sul-coreano, era muito promissor. Atitudes políticas bem mais louváveis do que as tomadas por um ex-vendedor de travesseiro.

Veja o trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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