Sinopse: Em “The Voyeurs: Observadores”, depois de se mudarem para um lindo apartamento no centro de Montreal, um jovem casal começa a se interessar cada vez mais pela vida sexual de seus vizinhos excêntricos do outro lado da rua. O que começa como uma curiosidade inocente aos poucos se transforma em uma obsessão doentia, depois que descobrem que um dos vizinhos está traindo o outro. A tentação e o desejo fazem com que suas vidas se enredem de maneiras inesperadas, levando a consequências mortais.
Direção: Michael Mohan
Título Original: The Voyeurs (2021)
Gênero: Thriller | Mistério | Drama
Duração: 1h 57min
País: Canadá
Alheia Vida
Ah, o thriller erótico, outro filão da produção audiovisual norte-americana que parece longe de decair. Pelo contrário, “The Voyeurs: Observadores“, que estreou na última semana no Amazon Prime Video, é fruto de um tipo de narrativa que ganhou capilaridade de Ocidente a partir do mercado editorial nos últimos anos, na gourmetização da literatura pornográfica. Tendo como marco a trilogia “Cinquenta Tons de Cinza” (que foi adaptada para os cinemas a partir de 2015), as histórias que colocam mulheres em algumas enrascadas a partir da libertação do sexo reprimido conseguiu encontrar seu público.
Aqui, a jovem Pippa (Sydney Sweeney) não está sozinha. Ele acaba de se mudar com Thomas (Justice Smith) para um bonito apartamento. Entretanto, na janela do prédio em frente, a empolgação do casal formado por Sebastian (Ben Hardy) e Julia (Natasha Liu Bordizzo) – ainda com nomes inventados pelos vizinhos – chama sua atenção. A ponto deles ficarem em dúvida se há, naquela relação criada, um voyeurismo por parte deles ou um exibicionismo por parte dos outros. O embate ético de olhar sorrateiramente o que estranhos fazem de sua vida ganha novos contornos quando eles descobrem que Seb é um fotógrafo que costuma trair sua companheira.
O diretor e roteirista Michael Mohan disse que desenvolveu o projeto após visitar a casa de um amigo e ver um homem e uma mulher nus pela janela. Como é fácil ter bons contatos, não é mesmo? Algo tão trivial da vida se transforma uma produção “original Amazon” e consegue atingir os lares de todo o planeta com um elenco razoável, de rostos em ascensão. “The Voyeurs: Observadores” não é, em sua representação, nem um pouco diferente dos mistérios movidos pelo desejo de outros exemplares do gênero. A plasticidade das cenas à distância traz a sensualidade para a narrativa, enquanto que os protagonistas ficam remoendo suas frustrações sexuais em closes de mãos e bocas.
Por sinal, se há algo que o longa-metragem trabalha bem é essa decepção que o voyeurismo pode criar na mente de quem se vê nessa situação. Pippa e Thomas começam a desenvolver uma obsessão pela vida alheia que desequilibra seu próprio relacionamento. Isso vai tornando o sexo alheio algo cada vez mais interessante e o seu (ou a falta de) mais inquietante. O tesão pelo proibido ganha outros contornos quando os personagens conseguem colocar uma escuta dentro do apartamento de Seb e Julia, além do destino (será?) pregar algumas peças que estreitam os laços daquele grupo. Além disso, se deparam com um relacionamento extremamente abusivo do outro lado da rua.
Longe do soft porn, com um erotismo de manual contemporâneo, o filme tem sido recebido por muitos pela ideia do “tão ruim que chega a ser bom”. Nunca acredito que me caiba esse juízo de valor. De fato, temos uma obra repetitiva, que pulveriza os acontecimentos para estender essa aura de sensualidade. Os mais jovens (ou mais carentes) devem embarcar com facilidade no jogo de sensações do cineasta. Porém, o que faz a trama subir ao ponto que muitos a qualificam é a meia hora final. Depois que chafurda na lama, Pippa terá uma cota de tragédia grega nunca antes vista nas narrativas do gênero.
Ao mesmo tempo que afasta a vinculação do desejo e da lascívia à ideia de culpa – uma barreira para o prazer e a autodescoberta que perdura até hoje na sociedade – as revelações de “The Voyeurs: Observadores” flertam com o alegórico. Nos impacta de uma forma mais engraçada e próxima do absurdo, contrariando o clima criado pela própria obra. Claro que a protagonista, ao se vincular de maneira obsessiva a uma outra realidade, receberá mais respostas sobre si do que sobre os outros.
Mas, o clímax que mistura “Jogos Mortais” (2004) e Telegrama Legal deve desapontar quem só queria a redenção para quem pratica o esporte favorito de todos nós: tomar conta da vida dos outros.
Veja o Trailer:
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