Sinopse: Em “Tom e Jerry: O Filme”, um gato de rua chamado Tom é contratado por uma garota chamada Kayla, uma jovem empregada que trabalha em um hotel glamouroso em Nova York, para se livrar de Jerry, um rato travesso que se mudou para o hotel, antes que ele seja a ruína de um importante casamento.
Direção: Tim Story
Título Original: Tom & Jerry (2021)
Gênero: Comédia | Animação | Avenura
Duração: 1h 41min
País: EUA | Reino Unido
Cine-Madorna
Saindo das profundezas do cancelamento, “Tom e Jerry: O Filme” foi uma das apostas da Warner para usar parte de seu extenso elenco de figuras do imaginário popular como caça-níquel no cada vez mais preguiçoso cinema comercial norte-americano. Com uma pós-produção feita de maneira remota pelo impacto da pandemia de covid-19 e lançado nos cinemas no início do ano (atraindo apenas os muito corajosos), o filme chegou esta semana no catálogo da HBO Max, seu serviço de streaming lançado há poucos dias no Brasil. Talvez o ideal para o meio de uma tarde de domingo, em que nada parece fazer muito sentido após um bom prato de macarronada? Sim, pode ser que esta seja a melhor maneira de degustar as obras, gastronômicas e audiovisuais, sem que o risco de qualquer problematização passar pela sua mente.
Animada com a possibilidade de reviver o sucesso de “Space Jam – O Jogo do Século” (1996) com a adição do craque Lebron James – o melhor que a NBA viu desde que Michael Jordan se aposentou – a estética de união entre cartoons e humanos é resgatada em imagens de arquivos do próprio William Hanna – que fez todos os desenhos e sons dos personagens entre 1942 e 1957. Uma técnica parecida com o que assistimos em “Charlie Brown: Peanuts, o Filme” (2015) em relação a Bill Melendez – bem mais genial do que as inúmeras gags de histórias de “gato e rato” (exatamente o que eles são) que fizeram a infância de uma geração que, sem dúvida, já tomou a segunda dose da vacina até mesmo em um país pouco preocupado com isso como o Brasil.
Uma leitura que teve em Jerry uma das primeiras cobaias. Os cinéfilos românticos deverão lembrar da cena de “Marujos do Amor” (1945) em que ele dança – após um aprendizado dinâmico – com Gene Kelly em uma das espetaculares sequências de sapateado do artista. Já “Uma Cilada para Roger Rabbit” (1988) se tornou um marco pelas seis indicações ao Oscar e quatro troféus – incluindo um especial para Richard Williams pelo comando do departamento de animação. Aqui o roteiro de Kevin Costello precisa inserir uma trama ao que já existe previamente dos protagonistas, mantendo a fidelidade de suas personalidades – e com espaço para uma redenção da leitura reducionista de suas representações no fim.
Já o diretor Tim Story, que menciona em entrevistas o filme de Robert Zemeckis como referência, precisa transformar as locações – quase todas na rua e dentro de um hotel de luxo – em um cenário que torne as desventuras da dupla divertidas. A experiência do cineasta em longas-metragens com a principal função de entreter ajudou, claro. Depois de uma sequência de videoclipes de R&B e hip hop no final da década de 1990, em 2002 ele começou sua carreira no cinema com “Uma Turma do Barulho” (2002). Se Barber Shop foi um barulho positivo, “Táxi” (2004), “Quarteto Fantástico” (2005) e “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado” (2007), trinca seguinte de produções, se tornaram grandes projetos em que ele se envolveu sem a mesma receptividade.
Após alguns anos em filmes menores, ele ganha uma nova chance em “Tom e Jerry: O Filme“. Contudo, não há muito espaço para a obra ser aquilo pela qual ela é pensada para ser. Em um fiapo de narrativa, Kayla (Chloë Grace Moretz) é uma jovem que, desesperada por emprego, finge ser uma experiente trabalhadora do ramo de turismo em hotéis de luxo. É contratada para a equipe de um deles na semana de um casamento de poderosos e se depara com a chegada de um rato nas dependências do local. Ela, então, elege um gato como especialista no assunto. Tom, então, ocupa uma curiosa posição de poder, de autoridade e até de heroísmo em sua caça desenfreada a Jerry.
Houve um tempo em que se discutiu o estímulo à violência nas representações da Hanna-Barbera, mas parece que o debate soa superado em nome de personagens que valem alguns milhões de dólares. Entretanto, a forma como a história se coloca, desde as motivações dos humanos baseadas no desconhecimento da dupla – até um arco que se completa com uma antes impensável união dos protagonistas no ato final, uma trégua por um bem maior – não deixa de ser o resultado da ação do tempo, da leitura que se tem sobre eles. O cineasta tenta compensar as sequências limitadas por interpretações “no vazio” das interações com os desenhos. Porém, nem a divertida abertura com alguns pombos cantando (com a voz do próprio Tim Story) sobre a realidade das ruas e nem os engraçados Michael Peña e Ken Jeong conseguem trazer um alívio cômico eficaz – o que funciona mesmo é a ação, usando a cidade como pano de fundo.
A primeira meia hora de “Tom e Jerry: O Filme“, por sinal, deve ser a que mais entretém. Não apenas pela curiosidade de quem aperta o play, mas porque gato e rato se mantêm à margem da narrativa, com suas gags próprias. Porém, é compreensível que permanecer nessa lógica tornaria o filme um compilado de sequências de produções anteriores – todas elas listadas em um pé só pelos fãs. Quando começa a interação, eles precisam se inserir em um contexto que tira um pouco o brilho da aventura e das cenas de conflito épicas, com direito a referência a Batman e coisas do tipo.
Se Kayla coloca como condição para eles se manterem presentes a coexistência, podemos entender que será preciso um lapso de memória para que uma continuação ganhe forma – ou, no futuro, teremos os treteiros do mundo animal mais caretas que o Cinema já presenciou.
Veja o Trailer: