Tomates, Molho e Wagner

Tomates, Molho e Wagner

Sinopse: Selecionado para representar a Grécia no Oscar, “Tomates, Molho e Wagner” conta a história do engenhoso plano de dois primos gregos: com a ajuda de cinco mulheres de um pequeno povoado rural, pretendem invadir o mercado mundial com seus tomates orgânicos para sobreviver à austeridade e revitalizar o comércio de seu pequeno vilarejo grego.
Direção: Marianna Economou
Título Original: Όταν ο Βάγκνερ συνάντησε τις ντομάτες (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 11min
País: Grécia

Tomates, Molho e Wagner

Compotas Globais

O primeiro longa-metragem internacional disponibilizado na 9ª Mostra Ecofalante de Cinema representou a Grécia na lista dos postulantes a uma das vagas de indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2020. “Tomates, Molho e Wagner“, dirigido por Marianna Economou, traz uma vila de apenas trinta e três moradores no interior do país. A economia local gira em torno do mel e do tomate produzido por uma família. Eles criam um novo produto (uma refeição pronta que, de forma resumida e generalista, é uma espécie de risoto de tomate, porém com muito mais tomate do que arroz). Conseguem se encaixar bem no mercado, exportando para países da Europa, como a Bélgica – aliado aos outros produtos, que chegam aos Estados Unidos, Hong Kong, Reino Unido, dentre outros.

O documentário é um microcosmo do Velho Continente e da própria Grécia. A ênfase no Velho, em relação à Europa, é cada vez maior. Uma região que vê sua população cada vez mais idosa e cidades antes pequenas beirando a extinção. É isso que ocorre aqui, com um dos depoentes chegando a dizer que Deus e o Homem esqueceram aquele território. Sequer há comércio local (antes eram duas cafeterias, diz ele cheio de saudades). Mas a atividade agrária se reinventou na propriedade que abriga mais da metade da população – seja como administradores ou trabalhadores. Aproveitando o interesse cada vez maior na produção orgânica, os responsáveis pelos tomates aplicam técnicas naturais e, digamos, alternativas.

Isso porque “Tomates, Molho e Wagner” não tem esse nome à toa. Um dos procedimentos é uma espécie de musicoterapia para aquela plantação. Uma caixa de som gigante e ordens diretas: Richard Wagner durante o crescimento e música tradicional grega na colheita. Curioso observar como há uma crença do poder da arte sobre o produto final, inclusive com histórias de material perdido quando o aparelho não funcionou. Sobre a Grécia, são nítidas as consequências da longa e forte crise econômica pela qual o país passa há quase duas décadas, mesmo fazendo parte da União Européia. Muitos filmes usam a ausência de perspectiva como mote, mas há muito não via um vazio tão grande (e tão consciente) quanto no longa-metragem de Economou.

Mesmo assim, a obra ganha força pelo alta carga de adaptação daquelas pessoas. Entendendo a importância do estudo formal e da pesquisa para a agricultura, da diminuição de distância entre a ponta da produção e do consumidor direto, os reflexos da automação do trabalho… Todos esses temas surgem ali de alguma maneira, em pouco mais de uma hora de documentário. Até as relações de trabalho antigas e a maneira com a qual a exploração das mulheres era naturalizada aparecem como formas de ressignificar o ofício daquelas pessoas.

Cumprindo todo o processo, “Tomates, Molho e Wagner” nos coloca no caminho final, levando os responsáveis pelas refeições orgânicas prontas para a Bélgica, onde poderão ver seus produtos nas prateleiras dos mercados e conversar com chefs de cozinha. Ainda ampliam suas garras ao entender que devem se adaptar às demandas e retomam para o vilarejo à beira da extinção com a intenção de aplicar quinoa à receita – já que o arroz é um dos vilões da vez para aqueles que se importam com comida saudável.

Sem tentativas de reinvenções, a obra de Marianna Economou nos transporta para um território que dificilmente teríamos acesso sem essa particularidade da narrativa. Ao final consegue, de forma sucinta, provar que o “efeito borboleta” é real e aqueles tomates fazem parte de um grande quebra-cabeça globalizado, em que todas as peças são importantes – e todas as histórias merecem ser contadas.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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