Confira novas oportunidades para assistir “Trem do Soul”:
Sinopse: Trem do Soul segue a linha do tempo traçando uma cartografia memorial e afetiva de um movimento jovem, preto e periférico que mexeu com corações, corpos, mentes e até com as fardas na década de 1970 na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Direção: Clementino Junior
Título Original: Trem do Soul (2021)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 23min
País: Brasil
Pista Negra
Um dos destaques do festival Visões Periféricas de 2021, “Trem do Soul“, de Clementino Junior, tem uma sinopse que antecipa um pouco da importância do soul para a história do Rio de Janeiro – importância essa que será trabalhada ao longo do documentário. “Traçando uma cartografia memorial e afetiva de um movimento jovem, preto e periférico”, como podemos ler em sua apresentação, o filme assume o papel de rememorar algumas das figuras culturais mais importantes do Estado. Podemos dizer que a música da cidade e suas redes estão bem apresentadas por Clementino que procura realmente ir além de uma constelação de personalidades do movimento e alcançar a força política e simbólica do estilo na década de 70 e suas posteriores reverberações.
Com roteiro de Milena Manfredini que também é antropóloga, pesquisadora da cultura diaspórica e tem em sua filmografia “Eu Preciso Destas Palavras Escrita” (2017); “Camelôs” (2018); “Guardião dos Caminhos” (2019) o filme começa ao longo da linha de trem com uma narração em off que nos transporta para os bailes de música black do século passado. Filó, importante nome do soul que floresceu nas ruas da cidade em meados da década de 70, é o primeiro a aparecer e ressalta: a música para os jovens negros funcionava como um encontro cheio de referências culturais.
Nos fazendo entender como a música entra na vida de cada um dos participantes do movimento Clementino deixa em evidencia que as sonoridades já faziam parte do cotidiano antes de se transformarem em conexões e estratégias. As referências estrangeiras não são esquecidas nesse início de formulação do movimento cultural, no entanto, a reconfiguração que ela toma no Rio (como aconteceu também em São Paulo) faz com que pensemos em como essas alternativas de lazer acabam por ganhar corpo de conscientização da própria formação em um momento de Ditadura Militar.
Começando com o Canecão, casa de show história no bairro de Botafogo – zona sul da cidade -, em determinado momento, o baile ganha força e ocupa espaços mais possíveis para uma população que precisava de um espaço de socialização, mas não tinha dinheiro para enfrentar o alto custo da casa. É aí que o movimento soul toma os clubes de diversos bairros na Zona Norte e ganha uma força que só poderia ter mesmo para além, caminhando também para as ruas.
Ao mesclar imagens recentes de dançarinos em espaços culturais atuais, como o Parque Madureira, e depoimentos de quem viveu o movimento desde seu início, o diretor traz também a história da própria cidade – Sandra de Sá, Gerson King Combo e o próprio Filó, dentre outros, imprimem sua essencialidade. Os trânsitos revelam. Com início no Catumbi, o ritmo ganhou outros espaços.
Os bailes eram capazes de reunir em um mesmo local, pessoas das mais diversas regiões do Estado e a simplicidade ressaltada, talvez, tenha sido o motor do sucesso. Em um momento de repressão, era preciso estar atento.
Um pouco tal como o próprio movimento, “Trem do Soul” também aposta na simplicidade. Sem grandes truques, mas como uma pesquisa de imagem e personagens bem feita, é um documentário para quem quer conhecer melhor os trajetos negros do Rio de Janeiro. Muito bom andar por esses trilhos.
Veja o Trailer:
Agradecido por assistir e resenhar o filme.
Viva o Soul!
Viva o Cinema!
Obrigada, Clementino Jr. 🙂 Acompanhamos suas obras com prazer.