Tuesday – O Último Abraço

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Sinopse: Em “Tuesday – O Último Abraço”, Zora é uma mãe dedicada que vive com sua filha Tuesday, que está doente em estágio terminal. Certo dia, elas recebem uma visita inusitada: a própria Morte, através de um pássaro falante que muda de tamanho. Esse encontro leva as duas em um caminho de reflexão sobre vida, amor, morte e família enquanto se preparam para o adeus.
Direção: Daina Oniunas-Pusic
Título Original: Tuesday (2023)
Gênero: Fantasia | Drama
Duração: 1h 50min
País: Reino Unido | EUA

Tuesday - O Último Abraço (2023) Crítica do Filme

Papagaio!

A produção da A24, sem dúvida, deve ter atraído Julia Louis-Dreyfus para a liderança do elenco de “Tuesday – O Último Abraço”, drama com grande toque de insólito que chegou ao catálogo do Amazon Prime Video há alguns dias. Na história, ela é Zora, uma mãe que não aceita a iminente partida da sua jovem filha Tuesday (Lola Petticrew), quando um pássaro responsável pela mau agouro as visita. Apesar da performance emocionante da atriz, mais conhecida pelas ótimas séries de comédia “Veep”, “The New Adventures of Old Christine” e “Seinfeld” – com as quais empillhou alguns prêmios na última década – as escolhas narrativas da diretora e roteirista croata Daina Oniunas-Pusic não encontram o mesmo tom da boa atuação de Julia.

Com um prólogo que flerta com o perturbador, o público inicia a sessão conhecendo o trabalho da ave que movimenta a trama. Ela mostra seu poder, não apenas se avizinhando como um prelúdio da morte, mas por atuar de forma direta para que o término da missão daquelas pessoas nesse plano de existência ocorra. Ao encontrar Tuesday, uma menina de quinze anos em tratamento de homecare, o pássaro se surpreende com a receptividade da moça. Ao contrário do medo ou do conformismo com os quais os humanos se comportam diante da morte, ela parece inverter o jogo e acolher aquele que selará seu destino.

Isso faz com que o animal desenvolva certa ansiedade a partir da resposta da garota. “Tuesday – O Último Abraço” segue, então, na tentativa da jovem em negociar com a morte. Por trás de toda a alma espirituosa que conduz a conversa está a grande preocupação dela em avisar à mãe. Zora se revela alguém que não aceitou a doença da filha. Sob a desculpa de se afundar no trabalho, ela foge da realidade dentro da própria casa. Sobrecarrega as enfermeiras que cuidam da menina, ao ponto do seu celular ter a atual como nome de contato Enfermeira nº 8. A maturidade precoce de Tuesday, entretanto, não permite que esse afastamento gere qualquer ruído no amor que ela sente.

Após um primeiro terço baseado no estranhamento causado pela figura pouco habitual de um pássaro da morte falante, Oniunas-Pusic nos propõe um drama familiar mais cru. O bicho sai de cena para que mãe e filha tenham uma manhã de “vida normal”. Na busca de cada uma pela aceitação do fim, pequenas doses das desavenças começam a borbulhar. Se em meio a um ambiente fantástico, Tuesday  parecia comandar as ações, agora é Zora quem tenta tomar as rédeas. Acreditando que tinha espantado o mau agouro, ela quer parecer durona para encontrar algum aspecto de normalidade.

O filme tem poucas cenas, de fato, curiosas. Tuesday mostrando uma enciclopédia para o pássaro e ele comentando o trabalho que deu ao buscar figuras históricas como Elizabeth I, Stálin e Jesus é um dos poucos exemplos em que os desdobramentos do insólito ficcional se apresentam eficientes. Os acontecimentos extraordinários externos, mencionados pela enfermeira Billie (Leah Harvey) e um pouco demonstrado na tela, não encontram sua linha de desenvolvimento. Isso porque o longa-metragem é uma caminhada instável de uma narrativa cansada de aceitação da morte – principalmente de alguém mais velho. No restante do tempo, repete a brincadeira da ave ou Zora crescerem e diminuírem de tamanho acreditando dar dinâmica à narrativa.

Tuesday – O Último Abraço” cai para o lugar-comum de fazer a protagonista “sentir na pele” o que é ser a antagonista original. Zora lidará na prática com o ofício do pássaro, algo que o cinema tradicional já explorou em demasia. Tudo isso para chegar no ponto final de que, independente da dor e da fragilidade de cada um, todos podem ajudar ou serem ajudados. Daina Oniunas-Pusic acha que faz isso de forma mais lúdica e a partir da encenação omitindo o diálogo em muitas das cenas. Porém, a impressão que fica é que eles não estão lá em prol da representação – e sim porque soaria ainda mais repetitivo.

Veja o trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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