Continuando com o foco sob filmes universitários, a Mostra Latino-Americana de Curtas agora apresenta uma seleção da UFF (Universidade Federal Fluminense), localizada em Niterói, Rio de Janeiro. Com três curtas -metragens contemplados pelo fomento ao curta universitário da Cesgranrio em conjunto com a Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, a produção mostra-se novamente diversa.
Com “A Casa de Ana”, de Clara Ferrer e Marcella de Finis, podemos acompanhar a relação entre duas irmãs após a mais nova decidir fugir para morar com a jovem ainda em início da fase adulta. Algumas perguntas que podem ser sugeridas pelo curta talvez nunca sejam respondidas. Quando exatamente nos tornamos adultos? Qual é o momento exato no qual cuidar de nós mesmos passa a ser trivial e rotineiro? E, quando conseguimos ser responsáveis o suficiente para formar outra vida? É a responsabilidade a grande qualidade a ser buscada? Ou autoridade, dinheiro, sabedoria, afeto? Sem querer responder exatamente a esses questionamentos, mas aos problematizá-los, “Casa de Ana” inicia a sessão de curtas universitários da UFF com sensibilidade.
“Broto” segue aproximando-se de uma esquisitice quase surrealista. O primeiro dia de Clementina em um escritório começa com dificuldades aparentemente esperadas até que a secretária encontra uma planta nascendo em uma das paredes da sala dos fundos. O que se segue é uma brincadeira de portas que se abrem nos colocando cada vez mais pertos de um mundo insólito para o espectador, mas perfeitamente lógico para as personagens. Clientes estranhos, mais plantas, diálogos entre humanos e samambaias falantes… Caso nos deixemos levar pelo roteiro e direção de Antonio Teicher, o curta-metragem funciona. E ainda nos brinda com um beijo multicolorido no final.
Ana Galizia fecha o trio com “Inconfissões”. Ao revirar o passado imagético de seu tio, Luiz Roberto Galizia, Ana conta um pouco da história de um dos fundadores da Companhia Teatral Ornitorrinco em 1977, mas também revela a atmosfera desse período. Com fotos e vídeos gravados em super 8, a cineasta descobre conosco um pouco sobre o artista que faleceu de AIDS em meados da década de 80, quando a doença ainda não era tão conhecida no Brasil e havia muito estereótipo ao redor da mesma – hoje podemos falar que avançamos um pouco, embora alguns estigmas permaneçam.
É também com sensibilidade que termina essa Sessão UFF, ao mostrar o olhar de Ana para as imagens que a conectam ao seu tio. Um percurso rápido, porém, atento que revela gestos, paixões e um pouco da personalidade do poeta e ator que nos deixou cedo. Motivos suficientes para fazê-lo ganhador do Prêmio de Crítica no 23º É Tudo Verdade.
Ficha Técnica da Sessão Brasil | UFF da Mostra Latino-Americana de Curtas:
A Casa de Ana (Clara Ferrer e Marcella C. de Finis, 20′ – Brasil, 2017)
Sinopse: Aos onze anos de idade, Ana foge em circunstâncias enigmáticas e, sem outra opção, abriga-se na república onde sua irmã mais velha mora com outras três jovens mulheres. Entre pias de louça suja, pacotes de macarrão instantâneo, purpurina colorida, garrafas de cerveja e filmes suecos, Ana aprende algumas importantes lições. E ganha, no processo, uma nova família.
Broto (Antonio Teicher, 20′ – Brasil, 2018)
Sinopse: A doce Clementina acaba de conseguir um emprego como secretária. Sua nova colega, a fria Marilene, parece inquieta com sua chegada. Será que isso tem a ver com as plantas que nascem do chão da empresa?
Inconfissões (Ana Galizia, 22′ – Brasil, 2017)
Sinopse: Luiz Roberto Galizia foi uma figura importante para a cena teatral nas décadas de 1970 e 1980. Foi também um tio que a cineasta Ana Galizia não conheceu. O documentário traz fotografias e filmes super-8 encontrados 30 anos após sua morte.
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