Sinopse: Jean-Louis e Anne tiveram sua aventura e se separaram. Em “Um Homem, Uma Mulher: 20 Anos Depois”, ele ainda está namorando várias mulheres e ela é uma grande diretora cujo filme mais recente foi uma bomba muito cara. Anne teve a ideia de fazer um romance baseado em seu caso com Jean-Louis. Ele aceita e parte para um rali no deserto enquanto ela começa a filmar, mas ela acha o clima de seu romance difícil de recapturar em seu filme.
Direção: Claude Lelouch
Título Original: Un homme et une femme, 20 ans déjà (1986)
Gênero: Romance
Duração: 1h 52min
País: França
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Os créditos iniciais de “Um Homem, Uma Mulher: 20 Anos Depois” trazem um leitura diferente da trilha sonora clássica de Francis Lai, imortalizada em “Um Homem, Uma Mulher” (1966). Como se nos transportasse para um thriller oitentista, a segunda incursão do cineasta Claude Lelouch às desventuras amorosas de Anne Gauthier (Anouk Aimée) e Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant), não se funda tanto na narrativa espaçada, ligeiramente contemplativa da obra original. Pelo contrário, atrai algumas amarras tradicionalistas que ampliam a sensação de torná-lo um caça-níquel saudosista, expediente que se tornaria comum com a popularização do home video e todas as formas de distribuição de conteúdo a partir dali.
Talvez por isso o cineasta tenha ignorado a existência desta produção ao pensar o projeto que se transformou em “Os Melhores Anos de uma Vida” (2019), estreia desta semana no circuito brasileiro e que motivou esta revisitação. Além de desenvolver subtramas menos interessantes, a forma como ele explora sua paixão pela velocidade a partir do protagonista é bem mais caricata, se esgotando em si. Após essa introdução um pouco vampiresca da trilha, somos sufocados por uma longa sequência de corrida de carros. Assim como a montagem do filme de 1966, a ideia aqui é nos colocar na realidade distanciada dos dois personagens.
Se o lado de Jean-Louis é pura testosterona, as representações que nos leva ao reencontro com Anne retoma o Cinema enquanto linguagem, uma das formatações que trouxemos no texto anterior. Após se tornar produtora e se arriscar na direção de longas-metragens, ela é um nome consolidado no audiovisual francês. Sua filha é a estrela de uma película que passa por uma camada de dublagem e foley em um mergulho na pós-produção dos tempos áureos. Enquanto objeto, ali o cineasta já nos impõe uma aura saudosista, mostrando que as criações ficcionais da mulher vivida por Aimée já traziam memórias perdidas do relacionamento interrompido vinte anos antes.
Um início promissor, que passa pelo lamento exagerado sobre o fim de um amor durante a guerra – e a maneira de concluir a história de forma diferente. “Um Homem, Uma Mulher: 20 Anos Depois” começa com esta carga que torna curiosa sua revisitação – fazendo aquela trilha soar ainda mais deslocada. Porém, infelizmente ela não está deslocada. Lelouch cria amarradas narrativas envolvendo a fuga de um maníaco sexual de um centro de internação e o fracasso do lançamento do filme de Anne para dar uma guinada improvável. Provoca um reencontro da dupla, ao mesmo tempo que cria bases para criar suspense. Ao lado de Pierre Uytterhoeven (roteirista que venceu o Oscar pelo outro filme), traz nos créditos os nomes da veterana Monique Lange e do novato Jérôme Tonnerre, que estreou na carreira dois anos antes com “Viva a Vida“, do mesmo diretor.
Lelouch parece ter perdido a fórmula de apostar no exercício de esgotamento do prazer, tão celebrado até hoje. Já as marcas de expressão de Aimée e Trintignat combinam bem com as conversas em seu reencontro. Eles nos lembram que só há saudade naquilo que não existe – ou não existe mais. O segundo ato quer promover a ideia de “filme dentro do filme“, prende a atenção ao transformar a história que marcou uma geração nos anos 1960 em um musical melancólico – para tempos onde amor e música andavam esquecidos em um audiovisual comercialmente fantasioso ou visceral demais. A incapacidade de amar da mesma forma, outro tema com o qual lidamos na outra crítica, se desdobra não apenas na reaproximação dos protagonistas, mas da relação de Duroc com a atual esposa.
É aqui que reside o grande momento de rompimento. Quem conseguir se envolver nas grandes cenas no deserto envolvendo o rali que conecta Dakar a Paris e viaja no risco pelo qual o homem passa pelos ciúmes da jovem apaixonada, pode ver em “Um Homem, Uma Mulher: 20 Anos Depois” uma tragédia menor do que a abominação – que parece ser o tom pelo qual seu próprio criador optou por seguir. Por mais contemplativa que a obra anterior seja, seus encontros com os afetos, as cidades e aspectos da sociedade no qual estava inserido eram mais efetivos. Neste, perde-se tempo tentando engessar suas representações em prol de uma narrativa – fazendo da repercussão midiática do romance, por exemplo, uma muleta ao invés do grande destaque.
Porém, aqueles que ainda se emocionam com a idealização por trás da criação originária deverão tratar este romance, que sempre poderemos sonhar que se consolidou – mesmo que em um mundo alternativo – como novos argumentos para provar seu ponto.
Veja o Trailer: