Uma Skatista Radical

Uma Skatista Radical Crítica Filme Netflix Pôster

Sinopse: Em “Uma Skatista Radical”, quando uma adolescente na Índia rural descobre uma paixão pelo skate que mudou sua vida, ela enfrenta uma estrada difícil enquanto segue seu sonho de competir.
Direção: Manjari Makijany
Título Original: Skater Girl (2021)
Gênero: Drama | Aventura
Duração: 1h 47min
País: Índia | EUA

Uma Skatista Radical Crítica Filme Netflix Imagem

Salve o que Puder

Uma Skatista Radical“, produção que une Índia e Estados Unidos, é uma das estreias da semana da plataforma de streaming Netflix. Assim como “Milagre Azul” (que gerou uma pequena chuva de haters que amaram o filme e atacaram a visão da Apostila de Cinema), o drama edificante é novamente cozinhado em fogo baixo. Porém, desta vez a história de Manjari Makijany, diretora e roteirista em uma promissora estreia em longas-metragens, ainda consegue trazer boas questões territoriais e de gênero, apesar de se basear em uma figura que insiste em ser condutora de narrativas do cinema comercial: o white savior.

No filme estamos na vila de Khempur, no norte da Índia. Prerna (Rachel Saanchita Gupta) é uma adolescente que não consegue frequentar a escola porque seus uniformes estão em más condições. Seus pais não veem muito sentido em resolver o problema e completar a educação formal da menina, que já está na idade de ser prometida em casamento para alguém. Ela, então, encontrará Jessica (Amy Maghera), uma inglesa descendente de indiano, que viaja para lá a fim de conhecer o passado de sua família. Ela paga um novo uniforme para a menina, que – mesmo sofrendo ataques dos colegas – tenta retornar às lições.

Com a chegada do norte-americano Erick (Jonathan Readwin) à vila, a garotada fica empolgada com um skate, uma versão mais moderna do carrinho de rolimã que eles costumam usar. Os dois ocidentais, então, implementam uma cultura deste esporte naquele espaço, o que gerará resistência da população carregada de tradicionalismo. Ao mesmo tempo que somos envolvidos em relação que torna o futuro da protagonista mais aberto, ainda incomoda a ideia de uma transformação provocada por terceiros, quase que tentando impor uma leitura etnocêntrica da realidade.

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O tempo passou o suficiente para que “Uma Skatista Radical” seja bem menos desastroso do que produções audiovisuais de outras épocas. Há respeito às dinâmicas da localidade e até mesmo uma pequena insurgência, na forma de protesto pelos adolescentes “perseguidos” por praticar skate, acontecendo após uma aula sobre a importância da não-violência de Gandhi, chamado de pai da liberdade indiana pelo professor. Ao se encontrar com a ancestralidade de seu pai, Jessica acaba contribuindo para alterar aquela sociedade, promover uma mudança de comportamento que acaba deturpando o que ela mesma entendeu como missão.

O que torna qualquer análise sobre o filme algo ainda mais nebuloso, é que este procedimento aconteceu na vida real, por conta da produção da obra. O Desert Dolphin Skatepark se tornou o primeiro e um dos maiores parques de skate da Índia até hoje. O clássico caso de vida imitando a arte, com a construção de uma pista de skate em locações verdadeiras e realizando a integração desta atividade com o povo. Por outro lado, os créditos registram o, sempre bem-vindo, benefício de promoção de mais de trezentos empregos naquele território por conta da produção. É provável que a resistência ficcional tenha sido muito maior e hoje a proibição de uma prática como esta sob o argumento de restabelecer a disciplina soe um pouco alegórica.

Porém, ainda é preciso ultrapassar essas questões para se sentir, de fato conectado à obra. O ritmo parece quase tão perdido quanto o já citado “Milagre Azul”, pois foge do melodrama excessivo, mas não encontra abordagens paralelas, subtramas ou situações que ilustrem sua mensagem. É preciso dizer bastante, como nas duas participações da veterana atriz Waheeda Rehman como a ricaça Maharani. Detentora de poder a partir de propriedades, ela decide apoiar a construção da pista usando Prerna como símbolo de uma geração de mulheres que podem ser mais do que esposas prometidas.

Trazendo pelas beiradas uma crítica ao sistema de castas longe de ser abolido na Índia rural, “Uma Skatista Radical” aposta tudo em um dilema simples (de ser construído, mas difícil de ser vivido, claro). Um drama bem composto, mesmo que a atriz Amy Maghera não segure a responsabilidade de ser a tutora e (white savior) dos garotas e garotas daquela comunidade. Traz uma trilha sonora pop liderada por Salim Sulaiman (e boas canções como “Shine on Me” e “Maari Chhalangein“) para agradar os mais novos e deixa uma lição bonita para quem se sente atraído pela proposta de feel good movie. Ou seja, tão inofensivo – mas também de pouca substância – quanto o “Milagre Azul”. Só não culpem aquele que apenas deu esta opinião.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

5 Comments

  1. O filme, assim como “Milagre Azul” é ótimo. A crítica é péssima, não foca no filme e sim em questões políticas de cunho esquerdista. Um filme, para divertir, não precisa ser panfletário. O critico chega a ser tão radical, que considera “hater” todo aquele que expõe uma opinião contrária à sua.

    1. perfeita sua resposta! eu estava com algo entalado na garganta mas sem até sem vontade de responder então faço minha a sua opinião se me permite….. o mundo anda chato ao extremo mas espero que a arte e sendo assim o cinema nos salve aos poucos dessas posturas radicais que não contribuem em nada, pelo contrário. Um abraço!

  2. Filme todo clichezão. E eu tava com esperança de que fosse baseado numa história real, mas quando confirmei que não percebi o que temia: em pleno 2021 ainda tem gente insistindo na construção narrativa do branco salvador – pior ainda, com a aparente tentativa de amenizar dando pra personagem londrina uma origem indiana. Preguiça.

  3. …a vida não é toda perfeitinha, nossas intenções as vezes sim. Adorei
    simples, e bonito de se ver e rever.
    Tem gente que gosta do roxo e do amarelo, outros nem do azul.

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