Valentina

Valentina Crítica Filme Pôster

Confira a estreia de “Valentina”, relembrando nossa crítica e entrevista com o diretor Cássio Pereira dos Santos.


Assista à nossa entrevista com o diretor Cássio Pereira dos Santos, durante a 24ª Mostra Tiradentes:

Logo Mostra SP 2020Sinopse: Valentina, uma menina trans de 17 anos de idade, muda-se para uma pequena cidade mineira com sua mãe Márcia para um recomeço. Com receio de ser intimidada na nova escola, a garota busca mais privacidade e tenta se matricular com seu novo nome. No entanto, a menina e a mãe começam a enfrentar dilemas quando a escola pública local começa a exigir, de forma injusta, a assinatura do pai ausente para realizar a matrícula. Apresentando a estreia no cinema da atriz e youtuber trans Thiessa Woinbackk, Valentina é um reflexo dos obstáculos que a sociedade obriga uma jovem mulher a superar, a fim de abraçar quem ela realmente é.
Direção: Cássio Pereira dos Santos
Título Original: Valentina (2020)
Gênero: Drama
Duração: 1h 35min
País: Brasil

Valentina Filme Brasileiro Cássio Pereira dos Santos Crítica Mostra SP Imagem

Cancela?

Em um momento no qual o cancelamento, infelizmente, caminha ao lado das políticas identitárias, se torna quase impossível falar de “Valentina” (2020), destaque brasileiro da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, sem ressaltar sua atriz principal, Thiessa Woinbackk. A primeira vez que tive contato com a jovem atriz foi em seu canal do Youtube há alguns anos. Em um vídeo corajoso, Thiessa confirmava pela primeira vez que, sim, era uma mulher trans. Ela nunca negou tal fato, mas as piadas e boatos a fizeram criar um vídeo com um título como “quando contei a meu namorado que eu era homem” para chamar atenção. Funcionou. Rapidamente a jovem se transformou em um dos ícones trans da web e virou referência para muitos adolescentes e jovens adultos que não se viam representados na rede.

Por que falar disso? Embora saiba que “Valentina” inaugura uma nova fase na vida de Thiessa e que devemos pensar o filme em todo seu conjunto, é inegável que o caráter político se faz central em obras como essa. O fato da atriz ter conseguido chegar ao papel principal de um filme, carregando consigo sua história e nos apresentando a de outra jovem que, como ela, passou pelas dificuldades da transição, nos mostra que, ainda de maneira incipiente, caminhamos.

Pensando no filme em si, Thiessa surpreende. Ainda que não consiga se desvencilhar de gestuais e trejeitos bem pessoais – que poderão ser identificados por quem acompanha suas redes, ela tem uma atuação segura. Embora sua personagem tenha somente 17 anos, o rosto e personalidade joviais ajudam na composição. Mas, para além disso, o espectador embarca na história. O elenco do núcleo jovem segue por esse caminho. Com um escorregão ou outro, acompanhamos os dramas da menina que enfrenta o preconceito em uma pequena cidade do interior.

Há um certo descompasso entre o núcleo jovem e o núcleo adulto da trama. Isoladamente funcionam, mas colocados em uma mesma cena causam certo estranhamento. Esse ruído – ora apresentado pelo estranho sotaque de alguns atores – causa incômodo. Talvez, seja o único “porém” do filme de Cássio Pereira dos Santos que alcança seu objetivo e, de sobra, nos oferta um outro lado de Thiessita.

Sabemos que cancelar é sempre mais fácil que dialogar. Filmes como “Valentina” podem ser lidos como verdadeiros manifestos em uma sociedade como a nossa, na qual assassinatos e agressões a transexuais são absurdamente numerosos. Dar nome, contar histórias e evidenciar fragilidades é essencial para que consigamos atingir àqueles que ainda não entendem a pluralidade das pessoas. Assim, ao trazer uma narrativa direta e realista, Cássio se aproxima de debates cruciais.

Veja o trailer de Valentina:

Clique aqui e veja os textos produzidos na cobertura da Mostra SP.

Clique aqui e seja direcionado à página oficial do evento.

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *