Leia a crítica de “Verão de 85”, de François Ozon, que estreia no dia 3 de junho.
Sinopse: O que você sonha quando tem 16 anos e em um resort à beira-mar na Normandia na década de 1980? Um melhor amigo? Um pacto adolescente ao longo da vida? Sair em aventuras em um barco ou moto? Viver a vida a uma velocidade vertiginosa? Não. Você sonha com a morte. Porque você não pode dar um chute maior do que morrer. E é por isso que você o salva até o fim. Em “Verão de 85”, as férias estão apenas começando, e essa história relata como Alexis cresceu em si mesmo.
Direção: François Ozon
Título Original: Été 85 (2020)
Gênero: Drama
Duração: 1h 30min
País: França
Sem Medo do que Ficou
“Verão de 85“, que estreia no circuito comercial brasileiro no dia 3 de junho, começa com um de seus eixos centrais, Alexis (Félix Lefebvre), assumindo sua obsessão pela morte. O jovem de 16 anos parece ser atraído pela temática que ocupa grande parte de seus pensamentos até conhecer David (Benjamin Voisin) e naufragar no mar do primeiro amor. Baseado em “Dance on My Grave” (1982), livro de Aidan Chambers, o filme traz através das imagens de François Ozon e de uma trilha sonora fantástica a atmosfera da década.
Embora a morte atravesse a narrativa a partir da história de várias personagens, é mais interessante perseguir os recursos com os quais trabalham Ozon e Chambers e pensar na morte simbólica que é a passagem para a vida adulta. Assim, o primeiro amor fica marcado como aquele que jamais poderá se repetir porque mudará a nós mesmos. Posteriormente, é claro, percebemos que se há algum padrão possível de se estabelecer entre as relações que construímos durante a vida, esse padrão é a mudança. Mas nesse momento melodramático dos 16, no qual temos certeza de tudo (e/ou de nada), esse primeiro rompante apaixonado é um dos grandes definidores e balizadores para experiências futuras.
O encontro entre Alexis e David inicialmente parece a clássica história do amor de verão, mas Ozon anuncia as reviravoltas que a história dará. No caso de “Verão de 85“, essa antecipação não faz ruído e é estratégica, pois não se trata de saber o que acontecerá, mas como se dão as experiências e os resultados desses acontecimentos. A antecipação é uma de nossas companheiras durante a história que Alexis conta.
Como dois polos opostos que conseguimos ler desde o início, os rapazes orbitam um ao outro até certo ponto sem perceber e sem querer perceber tudo o que os afasta. Além do temperamento, com a personagem de Lefebvre bem mais retraída e tímida tendo como seu contraponto um Voisan provocante, sedutor e livre, a própria relação com a família também é um dos pontos conflitantes. Enquanto Alexis, que se sente realmente impelido a mudar – tanto que passa a responder como Alex, convive com uma família tradicional, David encontra na mãe uma figura mais flexível.
Essa relação parece, no entanto, ser alimentada pelo recente trauma que viveram. Sem muito tato para lidar com a feridas ainda abertas, David parece buscar socorro em relações intensas e passageiras. Não que isso seja problema (o verão dos anos 80 combina com essa intensidade), mas no caso dele parece também parte de um sintoma (que o faz agir, por vezes, como boy lixo).
Tendo as duas personagens desenhadas poderíamos imaginar que o romance não passaria de algumas semanas ou meses, mas a história de um primeiro amor nunca é tão efêmera. Aqui também ela deixa marcas perenes. A habilidade de Ozon (já mostrada anteriormente em “Swimming Pool“, “Uma Nova Amiga” e “O Amante Duplo“, por exemplo) em desenrolar os dramas e o encontro com suavidade e pitadas de situações cômicas faz a história ficar mais leve e ainda nos apresenta à fada sensata Kate (Philippine Velge) – e essa poderia ser melhor aproveitada – que nos faz crer que pode existir vida após o amor.
Veja o Trailer de “Verão de 85”: