Viva a Vida

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Sinopse: Quando dois medalhões idênticos unem os destinos de Jéssica (Thati Lopes), uma jovem desiludida com relacionamentos, e Gabriel (Rodrigo Simas), que parece incapaz de ficar sozinho, eles embarcam em uma busca pelo terceiro medalhão ou pela misteriosa Hava. Hava, há anos casada com Ben, anseia reviver a aventura dos primeiros dias de seu relacionamento. Enquanto desvendam segredos familiares e se envolvem em confusões, todos descobrem que o amor pode ser encontrado quando menos se espera.
Direção: Cris D’Amato
Título Original: Viva a Vida (2024)
Gênero: Comédia | Drama
Duração: 1h 43min
País: Brasil

Viva a Vida 2024 Crítica do Filme Cinema Brasileiro Imagem

O Soft Power Tem que Continuar

Estreando em circuito exibidor brasileiro no final de janeiro deste ano, a mais nova comédia protagonizada por Thati Lopes nos leva à Israel. Em “Viva a Vida”, ela é Jéssica, uma jovem que viaja ao Oriente Médio com o primo Gabriel (Rodrigo Simas) em busca dos avós, Hava (Regina Dourado) e Benjamin (Jonas Bloch). Dirigido por Cris D’Amato – que também comandou outro lançamento de 2025, “Missão Porto Seguro”, disponibilizado diretamente em streaming no catálogo do Amazon Prime Video, o humor funciona mais quando aposta no situacional, abrindo mão do esquema de esquetes comuns às produções populares do gênero nos últimos vinte anos.

O longa-metragem destoa de outro trabalho da cineasta que pude acompanhar, “Os Parças 2” (2019). Sinal de que estamos diante de uma realizadora capaz de se adequar aos objetivos do projeto no qual faz parte. Aqui, o roteiro de Natalia Klein apresenta uma premissa simples, a partir da busca pelo passado e do encontro com suas próprias origens. Jéssica é uma protagonista de viés crítico, como se denota na cena em que ela tenta convencer um casal mais velho a comprar um produto na loja de antiguidades em que trabalha. A brincadeira coloca em conflito a ideia de saudosismo e as memórias do passado traumático do país nos anos 1960.

Partindo dessa ideia, “Viva a Vida” apresenta flashbacks em preto e branco. A partir deles, conhecemos o trio de amigas: Raquel, Miriam e Hava. A terceira foge do país por conta de um casamento arranjado que não quer consumar, além de um amor proibido que deseja viver – justamente com Benjamin. Já Jéssica rememora sua infância dos anos 1990 e a crise dos trinta a coloca em um cenário no qual a ausência de estabilidade financeira tem um peso muito grande. O texto de Klein é ardiloso nesse sentido, pensa a personagem nos moldes da contemporaneidade, de adolescência e juventude duradoura e menos apegada aos laços familiares.

Talvez parta daí o choque – que se torna parte importante da comédia – quando ela decide viajar para Israel para se apresentar aos avós não enquanto acerto de contas com o passado, mas de olho na herança iminente. Gabriel aparece como contraponto mais racional das atitudes da prima, formando uma dupla nos moldes do gênero, dividindo as funções entre humor (a comediante Thati Lopes) e romance (o galã Rodrigo Simas). Só que a produção é mais do que isso.

Não podemos nos esquivar do fato de que “Viva a Vida” apresenta uma Israel no que há de mais cosmopolita e digna do soft power que ela busca há tantos anos. O projeto para as massas não deverá sofrer questionamentos por romantizar um país em meio a uma guerra sangrenta, lançado nas salas de cinema poucos dias após a assinatura de um cessar-fogo frustrado. Ao mesmo tempo em que, em boa parte do Ocidente, as manifestações culturais russas foram banidas desde o início do conflito contra a Ucrânia.

Até por isso a ideia de uma comédia em esquetes soaria atravessada. Há uma busca pelo alívio cômico do guia de turismo Ramirez (Diego Martins), por exemplo. São tentativas de articular piadas com a cultura israelense pelo olhar debochado de Jéssica, sendo esse justamente um dos pontos que menos funciona na obra.

O elenco e a condução de D’Amato se saem muito melhor quando apostam na comédia situacional. Hava e Benjamin são um casal em crise prestes a completar cinquenta anos de casado. Enquanto Hava é uma mulher que afasta a ideia ultrapassada de “velhice”, almejando continuar vivendo sob forte emoção, Benjamin é um homem que não quer sair de sua zona de conforto. A rotina e o pragmatismo dele gera um afastamento dela, que parece ter chegado ao limite. São a partir dos comportamentos e desencontros deles e de Jéssica com Gabriel que encontra o riso.

Ao mesmo tempo, “Viva a Vida” passa longe dos riscos de uma comédia que tenta promover um choque cultural. Novamente, a saída se dá pela leitura cosmopolita de Israel. Algo que movimente apenas a parcela mais crítica da massa de espectadores. Fica também como ressalva a forma um pouco fria como é construída a cena principal do filme, envolvendo a grande revelação e que aproveitaria o tom mais dramático que a experiência de Jéssica encontraria. Nada que comprometa a diversão de quem busca uma sessão de comédia enlaçada com a nossa cultura, ao invés de um enlatado qualquer de streaming.

Veja o trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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