Worstward Ho!

Worstward Ho

Sinopse: “Worstward Ho!”, na interpretação de Miro Bersi estabelece uma relação entre a experiência de isolamento e a vivência interna com o texto homônimo de Samuel Beckett de 1983. O vídeo percorre, em um lento e contínuo movimento, o espaço de um apartamento reconstruído através do processo de fotogrametria. Essa câmera fantasmática observa o apartamento vazio, apontando tão somente para uma atenção sem foco que, ao cabo de um longo percurso retorna ao ponto de início. Entre a cadência rítmica do texto e a imagem fluida, o vídeo habita um tempo dilatado de leitura, que confunde espaços “reais” e “virtuais” ou um possível lugar mental, encerrado em si mesmo. Com trilha sonora de Bruno Palazzo.
Direção: Ilê Sartuzi
Título Original: Worstward Ho! (2020)
Gênero: Experimental
Duração: 7 min
País: Brasil

O Medo do Vazio

Na peça “Worstward Ho!“(1983) (e fale aqui uma reflexão a partir de um artigo de Ana Helena Barbosa Bezerra de Souza), uma das últimas de Samuel Beckett, o artista Ilê Sartuzi parece encontrar “cenário/palavra” ideal para nos conduzir por entre as paredes de um quarto (o qual imagino seu) e procurar em cada canto, cada livro mal encaixado na estante, cada dobra de uma cama não feita,c ada espacinho no chão… um espaço para fugir do vazio.

O problema é que o vazio não está no espaço, mas no tempo. Assim, logo nos deparamos com uma nova maquete que parece ser um simulacro desse espaço, fazendo com que a sensação de claustrofobia aumente. Sartuzi, também pesquisador, sabe jogar com a ideia de múltiplas dimensões plásticas as quais estaríamos todos fadados.

Uma busca sem fim pelo além do vazio.

Não encontramos saída ao constatar que, não estando no espaço, mas no tempo, está em todos nós.

Tal embate do realizador é o mesmo pelo qual todos  passamos durante esse momento de clausura. Utilizo essa palavra sabendo de sua carga religiosa, mas não necessariamente entendendo que todos nós precisamos passar por um movimento religioso, mas precisamos efetivamente nos concentrar no que há de comum entre todos nós: o medo da morte. Como uma espécie de novo rito iniciático inaugurado para que entremos , de fato, na Pós-Modernidade.

Tentamos por diversas vezes durante as últimas décadas. Talvez, agora, o medo da morte de maneira mais palpável a todas pessoas que habitam esse planeta permita uma reconfiguração social. O que é o medo da morte, senão o medo de não saber o que vamos encontrar do lado de lá? E, qual lá?

Estamos todos presos dentro de um grande vazio e abrimos a Caixa de Pandora.

“Worstward Ho!” se faz extremamente perturbador por revelar que, até mesmo nossos medos mais internos, são coletivos. E, tanto sua reflexão imagética, quanto a linguística, nos faz permanecer na penumbra. A própria obra de Beckett traz consigo essa penumbra.

O curta talvez seja uma das experimentações visuais mais complexas , assustadoras e propositivas- de uma mudança para além do vórtice, essa espiral contínua – que o projeto IMS Convida convida promove.

VEJA O FILME:

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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