Sinopse: Certa manhã, uma mistura eclética de pessoas enfrenta a batalha cotidiana – como trabalho, escola e lavagem de louça. À medida que o dia avança, seus relacionamentos são testados e, por fim, sua capacidade de enfrentamento.
Direção: Gísli Darri Halldórsson
Título Original: Já-Fólkið | Yes People (2020)
Gênero: Animação | Comédia
Duração: 8min
País: Islândia
Eu Digo Sim e Vou Vivendo
Até ser publicado este texto sobre “Yes People“, curta-metragem de animação da Islândia, indicado ao Oscar 2021, assisti à produção quatro vezes. Em dias diferentes, sob perspectivas e em momentos do dia que não se assemelhavam. E foi impossível não se divertir em todas elas. Não à toa, a cosmopolita “New Yorker” distribui via YouTube a obra de Gísli Darri Halldórsson. Trata-se de uma visão de cotidiano como uma das melhores crônicas gostavam de fazer, quando nossa rotina nos permitia ler mais, nos debruçar sobre a existência, parar e refletir sobre a vida.
Não há nada mais simples do que essa narrativa. O filme mostra um grupo de vizinhos fazendo suas atividades mais corriqueiras. Apenas uma palavra é dita: sim. Claro, entre resmungos, gemidos e outras manifestações de opinião que gostamos de espalhar para os mais próximos através de sons ininteligíveis. Uma vez José Saramago, em sua época de blogueiro, ao criticar o Twitter, dizia que as línguas estavam morrendo. Nosso acervo de palavras caminha para a extinção pela maneira como nos comunicamos. Ele profetizou que chegaria o dia em que nos manifestaríamos apenas por grunhidos.
Transportando para a realidade de boa parte do planeta, que passou os últimos meses se deslocando apenas para fazer o essencial, a proximidade e constante sensação de confinamento pode nos tirar o desejo do diálogo. Por sinal, uma preocupação que atinge diretamente a saúde mental. Passamos todos os momentos do dia com nossas famílias e parece que não há mais nada a ser dito. Há quem brigue, se separa, se isole ainda mais. Nunca a verbalização foi tão importante. “Yes People“, então, surge na outra ponta, naquela em que a cumplicidade dos personagens faz a interação entre eles ser completa.
O “Sim” dito de várias formas, com diversos objetivos e inúmeras conotações. Talvez uma sessão conjunta do curta-metragem seja um exercício ainda melhor, visto que é fundamental projetarmos as nossas vivências para interpretar alguns dos movimentos daquelas pessoas. Ou seja, pode acontecer uma diferença de leitura. Halldórsson valoriza as caracterizações, os traços dos personagens dizem muito – e o filme é muito engraçado. Encontra um ritmo na segunda metade que mostra como nossos comportamentos se reproduzem, se reiteram, geram consequências que não conseguimos alcançar.
O realizador islandês tem formação na ISA (Irish School of Animation) e com “Yes People” comprova que as boas histórias não encontram os mesmo obstáculos de alcance de outros tempos. O que pode parecer uma pequena peça de animação, que te faça consumir e descartar a tempo de ir para outra produção nomeada pela Academia, talvez tenha o poder de ressignificar suas atitudes cotidianas. Como uma boa crônica sempre conseguiu fazer.
Assista “Yes People”:
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