24ª Mostra Tiradentes | Mostra Foco | Série 1

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Disponível entre as 22hs do dia 25 e as 22hs do dia 27 de janeiro, a Série 1 abriu a Mostra Foco do 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes com quatro curtas-metragens: “Drama Queen“, dirigido por Gabriela Luíza; “A Destruição do Planeta Live“, dirigido por Marcus Curvelo; “Céu de Agosto“, dirigido por Jasmin Tenucci; e “Lambada Estranha“, dirigido por Luisa Marques e Darks Miranda. Falamos das quatro produções, nessa ordem.

Curta Drama Queen Gabriela Luíza
Drama Queen (Gabriela Luíza, 2020)

Cadê Mirela?

Gabriela Luiza é de uma jocosidade contagiante. Antes que possam questionar a qualidade de seus filmes (que coisa antiquada e com padrões meio estranhos, né?), ela mesma o faz. Assim como assume a postura de drama queen. Sim, Gabriela nos parece (ao menos no curta-metragem), uma dramática inveterada e parece gostar disso.

Ao começar explicando a produção do que iremos ver a seguir, também quebra a expectativa por surpresas que esse filmes híbridos, em geral, geram. Um filme de Quarentena, diz.

No entanto, “Drama Queen” consegue, mesmo quando passado no interior do apartamento, fugir das repetidas imagens de isolamento social. Afinal, estamos falando de uma dramática que sane muito bem como reatualizar seu drama.

Assim, o que os curadores da Mostra Tiradentes têm dito em suas reflexões fica explícito no filme de Gabriela. Em uma situação como essa, é muito fácil cair no óbvio, mas ela não o faz. A reflexão e o desespero ficam mais nos corpos de cada pessoa que aparece do que nos objetos que as rodeiam. E Gabriela caminha em direção à internet. Veículo o qual consegue utilizar muito bem.

Com conteúdo extraído do YouTube e outras plataformas em uma edição insana, muitas imagens e sons aparecem ao mesmo tempo provocando, surpreendentemente, uma sensação similar à de esgotamento que sentimos no isolamento social. Essa geração de Gabriela mescla as formas de acesso e as utiliza nos produtos audiovisuais sem querer definir muito bem o que aquilo será.

E tem como não gosta de um filme que assume o posto de rainha do drama que nossa querida Maysa divide com Angela Ro Ro? Rir de desespero tentando produzir um filme no meio do caos, às vezes, é o que nos resta.

Dá para dizer que nosso mundo caiu mesmo.

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Curta A Destruição do Planeta Live Marcus Curvelo Mostra Tiradentes Mostra Foco | Série 1
A Destruição do Planeta Live (Marcus Curvelo, 2021)

O que Resta do Resto?

A Destruição do Planeta Live“, dirigido por Marcus Curvelo, poderia ser um filme autobiográfico e, talvez, seja um pouco, pois as personagens se colocam vivendo situações às quais enfrentam. A mais marcante (e que funciona como pano de fundo) é a crise política e econômica do país. Assim, Marcus tem pensamentos suicidas que não sabemos o quão são gerados por questões mais pessoais ou o quanto a realidade do Brasil afeta a sua vivência.

Tentando gravar uma live, encontra pessoas tão deprimidas quanto ele, mas que procuram alternativas para lidar com o sentimento. Todo em preto e branco, não importa o que é real ou ficcional no curta-metragem. Essa aura de destruição permeia os sentimentos e imagens do curta.

Entre desejos e ações, os jovens vivem.

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Curta Céu de Agosto Jasmin Tenucci
Céu de Agosto (Jasmin Tenucci, 2020)

Céu Laranja

No curta-metragem “Céu de Agosto“, Badu Moraes vive a enfermeira Lucia, que – grávida de sete meses – se vê assoberbada e confusa com a chegada do filho e os cuidados com a avó já não muito lúcida. Ao levar doações a uma igreja pentecostal para aquela senhora, ela acaba por fazer parte da congregação. Assim, ainda mais confusa, se sente atraída por uma das integrantes.

Em uma cidade que se vê tomada por chamas com os incêndios florestais, a angústia da protagonista às vezes é sutil e, em outras, nem tanto. Os constantes exames para ver se o bebê se encontra bem também revelam suas próprias dúvidas e aflições. Parece que a confusão é tanta, que nem mesmo o céu alaranjado seria capaz de dar conta.

“Céu de Agosto” mostra de maneira leve a atração que surge entre as duas moças, no entanto, deixa o fogo queimar ao redor, trazendo uma conotação que já conhecemos e é repetida constantemente nas igrejas evangélicas (e, não somente nelas).

O filme de Jasmin Tenucci é singelo no seu fazer e em seu ritmo, revelando os conflitos de Lucia aos poucos e fazendo com que o espectador se torne generoso com suas dúvidas.

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Curta Lambada Estranha Luisa Marques e Darks Miranda Mostra Tiradentes Mostra Foco | Série 1
Lambada Estranha (Luisa Marques e Darks Miranda, 2020)

Luiz Caldas e Magma

Em “Lambada Estranha” nos é apresentado um Rio de Janeiro caótico. Mais que o real. Com magma e incêndios tomando a cidade, a água também está contaminada (bem, isso não está tão longe do real) fazendo aflorar estranhas criaturas do interior da Terra.

Com roupas coloridas e encenando uma coreografia do ritmo que dá nome ao filme, as criaturas permanecem em uma piscina vazia até que todo o fogo invada a região e seus corpos. Como uma aula de dança em que vemos em cruzeiros ou na orla da praia.

O curta-metragem dirigido por Luisa Marques e Darks Miranda traz um 2020 distópico, porém baseado em fatos. Fogo e água contaminada já fazem parte de nossa realidade. Assim, em mais uma aposta pela linguagem da edição eletrônica (vimos alguns exemplos no festival), a sensação de destruição compõe um bizarro casamento com a coreografia encenada.

Como se, mesmo que estivessem cientes do que ocorre, aqueles seres não se importassem muito com o caos ao seu redor. Infelizmente, mais um fato que o conecta à realidade da cidade.


Ficha Técnica Mostra Foco | Série 1

Drama Queen (Gabriela Luíza, 11′ – Brasil, 2020)
Sinopse: Os dilemas da diretora que mirando realizar um documentário acaba por acertar no filme- ensaio. Uma ode à arte dramática surpreendida por uma enxurrada tragicômica.
A Destruição do Planeta Live (Marcus Curvelo, 18′ – Brasil, 2021)
Sinopse: Marcus está dividido entre trabalhar em uma live, ou dar um tiro na própria cara.
Céu de Agosto (Jasmin Tenucci, 16′ – Brasil, 2020)
Sinopse: Em um mundo em chamas, uma enfermeira grávida de sete meses lida com uma crescente ansiedade enquanto e se vê, aos poucos, atraída por uma fiel da igreja pentecostal e por sua comunidade.
Lambada Estranha (Luisa Marques e Darks Miranda, 12′ – Brasil, 2020)
Sinopse: Rio de Janeiro, 2020. A cidade se incendiou e sua água secou ou está contaminada. Das profundezas da terra e do céu surgem seres extra-humanos desorientados.

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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