Glória à Rainha

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Sinopse: Durante a Guerra Fria, quatro enxadristas lendárias da Geórgia revolucionaram o xadrez feminino no mundo inteiro. Nona Gaprindashvili, Nana Alexandria, Maia Chiburdanidze e Nana Ioseliani tornaram-se símbolos soviéticos da emancipação feminina. “Glória à Rainha” explora a biografia entrecruzada das quatro mulheres, revisita seu legado e lança um olhar raro à vida que levam hoje. Materiais raros de arquivos soviéticos expandem a narrativa, revelando um lado inesperado da propaganda soviética.
Direção: Tatia Skhirtladze
Título Original: Glory to the Queen (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 22min
País: Áustria | Geórgia | Sérvia

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Gerações Unidas

Abrindo a competição de longas-metragens internacionais do Festival É Tudo Verdade 2021, “Glória à Rainha” é um olhar sobre a Geórgia a partir de quatro referências femininas. Uma história que, ao mostrar o motivo do êxito do xadrez entre mulheres, algo incomum pela prática pouco incentivada em outros países do mundo, reforça na origem a reprodução do machismo naquela sociedade.

O filme de Tatia Skhirtladze tem um toque de curiosidade, resgatando a história de quatro atletas, de gerações diferentes, que viajaram o mundo ganhando títulos. Viraram ferramenta de propaganda do governo soviético. Celebradas pelo povo da Geórgia, que as recebia com festa a cada novo torneio mundial, promoviam eventos na linda Tiblissi, capital do país e no interior. Lá exibiam seus talentos, mas acabaram esquecidas após a revisão cultural provocada pelo fim da Guerra Fria.

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Pensando sob perspectiva, “Glória à Rainha” parece ter o poder de um tweet – ou de uma boa thread. Reflexo de uma forma de se consumir informações fora da rotina e do eixo de assuntos do grande público – sempre em busca de uma dinâmica que nos leva à descartabilidade. O que a cineasta propõe, então, é montar o documentário de forma a tornar as possíveis leituras como elementos paralelos, por vezes entrecruzados – garantindo a dinâmica jornalística, sem perder as potencialidades das imagens históricas.

Com isso, traz sempre que possível imagens de arquivos – a parte mais interessante do filme. Nelas, somos confrontados em vários momentos a partidas coletivas de xadrez. Uma daquelas mulheres contra cinco, dez homens – jogando simultaneamente vários jogos. Uma sensação de força, de poder, que esconde naquele exibicionismo a mesma reprodução de machismo.

Esse vínculo só ganha sentido na captação de imagens atuais das biografadas. Skhirtladze se revela uma realizadora que sempre acredita que há algo mais a ser acrescentado, transporta a mesma curiosidade da abordagem inicial para todos os estágios da sua obra. Com isso, antes dela confrontar a popularização de mulheres xadrezistas na Geórgia com a proibição de frequentar espaços de jogos na Áustria até o início do século XX, ela traz depoimentos que justificam o primeiro fato. Era comum em seu território de origem os dotes das futuras noivas serem dados, em parte, com tabuleiros e peças de xadrez. Ou seja, por trás do que seria uma inovadora diferença naquela sociedade, nada mais é do que o desdobramento do patriarcado.

Completando esse círculo de possibilidades, Skhirtladze une ao passado e ao presente das protagonistas as falas de outras mulheres. Em comum, os nomes dado pelos pais, comprovando a influência e a referência de Nona Gaprindashvili, Nana Alexandria, Maia Chiburdanidze e Nana Ioseliani no país. A primeira, por sinal, sempre foi uma pessoa muito competitiva, ampliando seu talento para outros esportes – mas a nação a queria como xadrezista. Um avanço, porém limitado, como sempre acontece. Quando elas não faziam mais sentido, toda a glória e o poder de inspiração de suas vidas foi limado. Muitos resumirão a experiência da sessão de “Glória à Rainha” também a um tweet e que bom que ainda há jovens como Tatia dispostos a materializar e dar uma força perene a histórias como essa.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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