Sinopse: Em “Shaun, o Carneiro: O Filme”, o protagonista é o líder de seu rebanho. Ele decide tirar um dia de folga com seus amigos para se divertir. Mas as coisas saem de controle e o rebanho vai parar numa cidade grande e caótica. O grupo se mete em muitas confusões e Shaun ainda precisa guiar todo seu rebanho, em segurança, de volta para a fazenda.
Direção: Mark Burton e Richard Starzak
Título Original: Shaun the Sheep Movie (2015)
Gênero: Animação | Aventura | Comédia
Duração: 1h 25min
País: Reino Unido | França | EUA | Austrália | Japão | Alemanha | Finlândia | Irlanda | China | Bélgica
A Revolução Atrapalhada na Cidade
Para não ser surpreendido por “críticas à crítica” da continuação de “Shaun, o Carneiro: O Filme” por puro desconhecimento do emissor, adentrei ao universo caprino das personagens criadas pelo inglês Nick Park, vencedor de quatro Oscars (três por curtas-metragens em animação e um pelo longa “Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais“, de 2005). Ele também é responsável por “A Fuga das Galinhas” (2000), que me dói a alma e a coluna lembrar que assisti há mais de vinte anos nos cinemas – e, pior, já era um adolescente cinéfilo.
Apenas a menção a essas obras dá uma noção da estética aplicada a essa criação em stop-motion, muito bem realizada sob a direção de Mark Burton e Richard Starzak. A história é quase uma junção da tentativa de controle de uma fazenda sem intervenção humana pelos animais tal qual George Orwell e as trapalhadas de Babe, o porquinho que vai para a cidade grande na continuação de seu filme (que, além de indicação ao Oscar de melhor filme e fenômeno de bilheteria gerou um boom no vegetarianismo entre os mais jovens em meados da década de 1990). A velha tática de migrar personagens de seu reduto original e transportá-los para uma jornada com forte intercâmbio cultural.
Sem querer antecipar que a recepção ao outro filme da franquia foi bem diferente, mas o resultado aqui beira o brilhante. Os sons e as dinâmicas de uma fazenda são usadas no período inicial da obra para caracterizar os protagonistas e reforçar elementos que, acredito, são de conhecimento de quem acompanha a série. O cachorro responsável por fiscalizar os outros animais observando que a disciplina nem sempre ajuda quando lhe exigem a proatividade, as pequenas participações de galos e patos que não precisam fazer nada a não ser emitir seus barulhos característicos, reforçam a ideia de que os cineastas têm total controle da criação. Usam os espaços e as representações para auxiliar a boa história a ser contada.
“Shaun, o Carneiro: O Filme” encerra seu ato inaugural mostrando que os planos dos animais, que queriam a ausência de intervenção do fazendeiro no território, parecem arriscados quando um acidente na cidade o leva a perder a memória. Entendendo a relação de dependência criada pelo sistema em que vivem, não lhe resta alternativa a não ser uma operação para resgatar o próprio opressor, aceitando a partir dali um ideal de desigualdade harmônica, que os faz sobreviver. O filme, entretanto, amplia essa base criada quando os bichos da fazenda encontram outros, na metrópole. Com novas dinâmicas a serem percebidas, eles não só têm dificuldade em se adaptar (com cenas hilárias como a do restaurante), como conhecem novas mazelas ao se inserirem em outro contexto. A fome, por exemplo, é uma delas.
Aqui no Brasil, a obra foi a vencedora do prêmio do Júri do Anima Mundi de 2015. Na temporada de premiações, foi indicada no circuito Oscar, Annie, Globo de Ouro e BAFTA – mas perdeu todos para o imbatível “Divertida Mente” (2015). Talvez em um ano com uma safra mais fraca (como a dos indicados ao Oscar de 2021), “Shaun, o Carneiro: O Filme” se tornasse mais memorável, porque é um exemplo de boa condução de uma trama há muito explorada, em uma linguagem desgastada. O uso de referências pop são bem sutis, todas funcionando porque não são o fim da cena, não engessam a narrativa (o que não foi observado na produção seguinte). Conseguir divertir dessa maneira é um feito e tanto para esses tempos.
Veja o Trailer: