O Mistério da Casa Assombrada

O Mistério da Casa Assombrada Filme Crítica Netflix Pôster

Sinopse: Em “O Mistério da Casa Assombrada”, quando uma família se muda para o interior, dois irmãos e seus novos amigos tentam resolver o mistério que assombra sua nova casa.
Direção: Daniel Prochaska
Título Original: Das Schaurige Haus (2020)
Gênero: Fantasia | Horror | Aventura
Duração: 1h 40min
País: Áustria

O Mistério da Casa Assombrada Filme Crítica Netflix Imagem

Um Terror de Verão

O que esperar de uma aventura familiar chamada “O Mistério da Casa Assombrada“? Sem buscar surpresas, a produção da Áustria que chegou esta semana ao catálogo da plataforma de streaming Netflix é uma fantasia capaz de entreter aqueles que admiram este tipo de narrativa. Misturando a ficção sobrenatural com o coming of age, um elenco jovem que parece transportado dos anos 1980 e dos clássicos do gênero se destacam na obra dirigida por Daniel Prochaska. O diretor, por sinal, é o único que parece tentar sair de uma zona de conforto, mas nem sempre as ferramentas utilizadas funcionam.

Com experiência também em montagem, o austríaco de 38 anos tenta criar uma dinâmica que foge da abordagem atual de produções desta natureza. Baseado no livro infantil de Martina Wildner chamado “Das schaurige Haus“, o filme quer ir direto ao ponto. Sabine (Julia Koschitz) viaja para o interior com os filhos Hendrik (Leon Orlandianyi) e Eddi (Benno Rosskopf), onde eles passaram uma temporada em uma mansão antiga e, claro, cheia de segredos. Se “Vozes e Vultos” (2021), que chegou ao mesmo serviço na semana passada, é daquelas narrativas que demoram a engrenar, aqui a trama vai bem direto ao ponto. Uma cena no carro da família traz a leitura que precisamos ter dos três personagens, que aparecem em montagem paralela com as lindas paisagens da região de Caríntia, uma das mais bonitas do país.

Todavia, o cineasta precisa dar alguns passos para trás para formar o pequeno grupo de jovens que viverão a aventura. Isto porque Hendrik, o mais velho, será o responsável por levar a história para fora da residência. Um contraste importante das imagens que Prochaska usa como premissa para provocar inquietação. Nos ambientes fechados, a forte luz amarela, como se algo de fora tentasse iluminar os segredos que ali residem, é uma constante. Já nas lentes e posicionamentos, o diretor abusa de uma câmera que faz o segundo plano uma confusão de cores, tornando nossa visão turva para tudo o que não seja os protagonistas. Nosso respiro depende dos momentos em que o adolescente sai dali, explora o território que ele tem como nova morada.

Banner Leia Também Netflix

São esses trechos, carregados de luz e de uma dinâmica social mais intensa, que mais nos interessa em “O Mistério da Casa Assombrada“. Eisenkappel-Vellach, a cidade onde tudo acontece, tem uma estrutura medieval, um classicismo quebrado porque acompanhamos um agente em descoberta de si. Já Eddi vive um momento comum na infância de qualquer pessoa. Ele está em uma relação obsessiva com a nova casa, ampliada pela possibilidade de ter alguns espíritos tentando se comunicar com ele.

Quando o espectador passa a ser levado por uma narrativa que almeja revisitar um caso envolvendo aquela comunidade, estamos mais perto do manual Stephen King do que imaginávamos. Um conto de verão, cheio de elementos de fantasia, conduzido por jovens, tal qual “Conta Comigo” (1986) e o o filão que o seguiu. O cineasta traz para a periferia da trama elementos que vão dos passeios de bicicleta ao uso de uma super-8 como peça do quebra-cabeça a ser desvendado por Hendrik e seus amigos – Ida (Marii Weichsler), a paixonite e Fritz (Lars Bitterlich), fiel, inteligente e segurador de vela.

Os jovens parecem uma comissão da verdade contra a versão oficial de uma sociedade, leitura que lembra um pouco algumas questões que trouxemos em nossa crítica de “Quem Matou Lady Winsley?“. Às vezes a tentativa de manter a segurança e a paz social pode gerar injustiças. Nisso, tanto as perturbações dos mortos quanto dos envolvidos que permanecem vivos é parte importante da conclusão do filme.

Se essas dificuldades de percepção promovida pelas angulações da câmera ou a revisitação de forma e estilo comum ao gênero ajuda ou atrapalha é uma questão pessoal. A existência delas é inegável, mas o efeito dependerá de quem está sentado no sofá vendo a TV (ou, bate na madeira, segurando seu celular com o fone no ouvido). Há um fator que causa um pouco de incômodo. Por ser tão direto no início, criando uma convenção de obra carregada de dinamismo e que não pode se sustentar no desenvolvimento, o roteiro de Marcel Kawentel e Timo Lombeck precisa propor uma soluções um pouco atravessadas. Com isso, alguns desafios aparecem primeiro para o que o levará a ser superado se materializasse imediatamente depois.

Além disso, a interessante trilha sonora de Karwan Marouf é mal aproveitada. Um bom trabalho, que nos remete também a clássicos de fantasia, porém parece ser lembrado apenas na parte final, nas cenas mais agudas. Mesmo assim, “O Mistério da Casa Assombrada” consegue nos envolver. A ideia de uma investigação pretérita sobre mortes mal resolvidas na cidade, movidas por espíritos não encarnados que almejam a justiça sobre seus nomes engrena, tropeça nas já mencionadas relações de causa e efeito, mas o saldo final é positivo.

Veja o Trailer:

 

Clique aqui e leia críticas de outros filmes da Netflix.

 

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *