A Última Carta de Amor

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O romance “A Última Carta de Amor” é uma das novidades da Netflix. Leia a crítica!

Sinopse: Após encontrar uma série de cartas de amor da década de 60, uma jornalista decide resolver o mistério de um romance secreto.
Direção: Augustine Frizzell
Título Original: The Last Letter from Your Lover (2021)
Gênero: Romance | Drama
Duração: 1h 50min
País: Reino Unido

A Última Carta de Amor Crítica Filme Netflix Imagem

Cedo Demais para Esquecer

Após algumas semanas jogando a bola para o lado, a Netflix ressurge com uma estreia de peso em seu catálogo, ideal para o público brasileiro que segurou o botão do cancelamento da assinatura após o anúncio do aumento de mais de 20% do seu valor pela plataforma de streaming. “A Última Carta de Amor” é daquelas produções feitas para o público específico, mas que consegue ir além de seu nicho, ignorando os preconceitos sobre os caminhos que uma adaptação literária de um romance nos leva.

Baseado no livro da popular escritora britânica Jojo Moyes, que iniciou sua trajetória de transposições para o cinema (esperem, serão muitas) com “Como Eu Era Antes de Você” (2016), o longa-metragem conta a história de um amor através das décadas, interrompido por desencontros, como uma clássica narrativa do gênero o faz. A diretora Augustine Frizzell (elogiada pelo piloto da série “Euphoria“) persegue essa áurea tradicional enquanto unidade. Portanto, a montagem em duas linhas temporais, na Londres atual e na de 1965, se diferenciam mais pela condução do design de produção do que pelas ferramentas de linguagem utilizadas por ela.

Com uma fotografia que valoriza a iluminação de elementos cenográficos, de abajures a lâmpadas de árvores de Natal ou simulando uma luz externa – como se sempre viesse pelas frestas das janelas, essa atmosfera cria um diálogo e faz convergência dentro da obra. Um pouco o que Todd Haynes promoveu de forma tão bonita em “Longe do Paraíso” (2002) enquanto estética, mas sem vincular apenas ao passado, mantendo também na contemporaneidade. Até porque, nela estão Ellie (Felicity Jones) e Rory (Nabhaan Rizwan), uma jornalista e um arquivista com certo apego saudosista pelo material, como discos antigos e cartas. No caso dela, até mesmo uma predileção por figurinos que remetem a outros tempos. Em uma incursão para encontrar uma boa história para publicar, Ellie conhece a história de Jenny (Shailene Woodley), que na década de 1960 deixou o verdadeiro amor escorrer pelas mãos.

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Ao não demarcar, “A Última Carta de Amor” acaba por nos envolver pela imagem, um passo importante para as histórias adocicadas com leves toques de drama das criações de Jojo, assim como são de Nicholas Sparks ou John Green. Todos já foram bem e mal adaptados para as telas, porque é fundamental a criação de conexões como as que a cineasta promove – algo variável de acordo com o desenvolvimento dos projetos. Isto porque, quando o acerto é no nível deste longa-metragem, ele se vale para vários propósitos. Agrada os que admiram o livro ou os escritos da autora, apresenta a mesma para novos potenciais consumidores e também encontra uma boa receptividade entre aqueles que precisam, apenas, de um bom romance para assistir no final de semana.

Poderíamos traçar paralelos e mencionar inúmeras referências de produções parecidas que fizeram sucesso nos últimos anos. Porém, para aqueles que aqui chegaram para ir além de revisitações a filmes como “Diário de uma Paixão” (2004) ou “A Culpa é das Estrelas” (2014), deixamos um mosquito zumbindo no seu ouvido para uma abordagem documental que cuida desta busca pela origem de uma história de amor através de cartas. O lindo “Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem” (2020), de Natara Ney, que em breve será lançado pela Embaúba Filmes, é uma das obras que se aprofundam nas ideias de memórias em imagens e palavras de uma forma que não existe mais.

Este é um elemento muito atraente no filme de Frizzell. Ele soa anacrônico se pensarmos que os desencontros (aqui não tratados para mantê-los livres de spoilers) seriam sanados na pós-modernidade de forma mais célere, pelo acesso a meios de comunicação. Todavia, ainda é uma trama que encontra empatia porque estamos diante do amor que pode se consolidar ou não a partir de um momento-chave de nossas vidas. Uma decisão, uma ausência, um adiamento em nossos comportamentos e atitudes. Para aqueles que vivem ou já viveram um grande romance, sempre volta à mente: o que teria acontecido com a minha vida se eu não fosse para aquele lugar, naquele dia, naquela hora? Pense que aquele relacionamento que se mantém há anos também é uma grande história de amor que deu certo, aqui estamos diante de uma trama marcada pelo que não aconteceu. Soa mais intensa, mas não pense que uma vida inteira juntos é menos encantador.

Sem ousar na forma e mantendo um ritmo regular, o longa-metragem resolve a linha do passado quando passado um pouco mais da metade. Sua construção dramática tem aquele toque de tropeço cruel do destino que arrebatou o público na Era de Ouro com histórias como “Tarde Demais para Esquecer” (1957). O amor que vira rancor, de tanto que amamos. A partir dali, “A Última Carta de Amor” nos mantém ainda mais conectados com os acontecimentos, cria – de forma sóbria – uma montanha-russa com subidas melancólicas, loopings de esperança e descidas que nos faz temer que o pior aconteça. Tão perto e tão longe. Lembranças tão vivas, mas paradas no tempo. E que falta faz um celular.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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