Space Jam: Um Novo Legado

Space Jam: Um Novo Legado Filme Crítica Pôster

Sinopse: Em “Space Jam: Um Novo Legado”, o superastro do basquete LeBron James se junta à gangue Looney Tunes para derrotar o Goon Squad e salvar seu filho.
Direção: Malcolm D. Lee
Título Original: Space Jam: A New Legacy (2021)
Gênero: Aventura | Comédia | Animação
Duração: 1h 55min
País: EUA

Space Jam: Um Novo Legado Filme Crítica Imagem

Um Novo Tempo

Vinte cinco anos depois da união de grandes marcas do entretenimento com Michael Jordan e Looney Tunes, a Warner lança “Space Jam: Um Novo Legado“. Desta vez, estrelado por LeBron James – que apesar dos 36 anos segue competindo em alto nível pelos Los Angeles Lakers. Uma nova NBA foi construída, sob influência do sucesso da geração de Jordan. Há também um novo público, que não se conecta apenas aos elementos que fizeram de “Space Jam: O Jogo do Século” uma obra atraente em 1996. Enquanto filme, o diretor Malcolm D. Lee segue o mesmo propósito, a busca pela diversão. Porém, a produção vai por caminhos modernos desta fórmula que se transformou o cinema norte-americano.

O que se repete na relação com o longa-metragem anterior é trazer um verniz que aproxima o espectador da família do protagonista. Se o passado de Michael foi marcado pela relação com o pai – e comentamos em nossa crítica como seu assassinato foi fundamental para que ele decidisse por um hiato na carreira de jogador de basquete – aqui um prólogo breve mostra as dificuldades do menino LeBron, que não conseguia ter o acompanhamento da mãe de perto, pela necessidade de trabalhar. Da mesma maneira, esposa e filhos do atleta aparecem, interpretado por atores e com os nomes alterados.

Porém, entendendo que parte do público jovem não achará o magnetismo do esporte o suficiente, a família se torna parte desta história. Dom James (Cedric Joe) não parece disposto a seguir os passos do pai, que exagera na cobrança às crianças para levarem a sério os treinos. Seu talento está na criação de jogos, um choque geracional comum, ampliado pela visão competitiva de LeBron. Ele, ao ser chamado para uma reunião na Warner com o objetivo de celebrar um contrato milionário, acaba sendo pego pelos planos de Al G. Rhytm (Don Cheadle), programador que colocará o astro dentro da Warnerverse para que ele monte um time e desafie os seus jogadores, pensados a partir do melhor que a Inteligência Virtual poderia criar. Como líder da equipe adversária, o filho Dom.

Além de ampliar o público-alvo por uma leitura moderna e as possibilidades que o mundo do videogames permite, o estúdio abre sua caixa de ferramentas ao entulhar “Space Jam: Um Novo Legado” de referências sempre que possível. Batman, Game of Thrones, Harry Potter e até Casablanca e Laranja Mecânica, tudo o que de há de relevante em seu catálogo foi colocado na mira do roteiro, em uma profusão de eastern eggs que não víamos desde “Jogador Número 1” (2018). Isso não enfraquece o filme, apenas infla a narrativa que quer pegar todo o tipo de espectador possível.

LeBron James, desde criança, foi trabalhado por ser um atleta fora da curva – algo que as quase duas horas do longa-metragem explora apenas na montagem dos créditos iniciais. A NBA, como dissemos antes, mudou muito nessas quase três décadas. Michael Jordan consolidou a internacionalização da marca, iniciada pela geração de Larry Bird e Magic Johnson. Não apenas o mundo acompanha a liga, como possui representantes de seus países nas franquias – a ponto do grego Giannis Antetokounmpo ter sido convidado para fazer parte do filme. Por outro lado, no mundo do cinema popular norte-americano há uma busca pelo referencial saudosista, aliada a uma inserção em sagas, franquias, universos paralelos. A realização aqui acaba se tornando bem mais difícil – e desequilibrada – do que a simplicidade da película de 1996.

Enquanto linguagem, a obra se divide em três momentos. O arco introdutório, que nos leva para a realidade virtual, é extenso, de quase meia hora e termina quando Cheadle dialoga com James no espaço por ele criado – bem mais parecido com a estética de “Tron: Uma Odisseia Eletrônica” (1982). Mais adiante, o protagonista encontrará um solitário Pernalonga, que viu seus amigos de Looney Tunes serem levados para pontos distantes da Warnerverse. Usando a nave de Marvin (talvez a única surpresa da história), eles formarão a esquadra que competirá mais a frente.

Ao contrário do expediente de fazer a interação entre atores reais e desenhos animados, que o primeiro Space Jam reproduziu e foi a escolha em “Tom e Jerry: O Filme” (2020) há pouco tempo. De forma bem mais divertida, LeBron se transforma em um desenho até que os outros personagens ganhem uma atualização em seu visual, adequado aos novos tempos. Com uma trama ultra tecnológica, o filme não deverá encontrar dificuldades em achar essa nova plateia, parte importante das pretensões do jogador enquanto embaixador da Liga. Ao contrário de Jordan, que propagandeava seu retorno às quadras, a mensagem que o veterano James parece querer passar é a de um notório gênio do esporte sempre disposto a se adaptar a um novo jogo.

Talvez seja esse o grande diferencial, que o tornou um dos maiores em seu ofício. Se mantendo focado, produtivo e eficiente, ele alcançou finais em dez temporadas consecutivas de um dos campeonatos mais equilibrados que existem. Aqui ele brinca com essa necessidade de espetacularização do esporte e da própria figura, em um desafio onde fazer apenas a cesta não é o suficiente. Seus passos e comportamentos são monitorados e fazem parte do que entendem enquanto sucesso.

Por mais que tudo o que envolve seja um molde para divertir a família reunida nos cinemas ou no sofá, “Space Jam: Um Novo Legado” é fiel ao que se propõe. Uma aventura baseada no basquete, com as ferramentas, linguagens e estéticas de seu tempo. Feita para formação de plateia, atualização de público – tanto para a veterana turma dos Looney Tunes, quanto a essa coisa meio velha chamada esporte, que tem na NBA uma de suas grandes tradições. Assim como a crítica de 25 anos atrás, será considerado uma grande bobagem – até ser lembrado com saudade pela futura geração de adultos.

Ah, mesmo que você se decepcione por ser fã de LeBron ou achar que o filme seria um grande fan service da Liga, tente não rir da “participação especial” de Michael Jordan.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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