Sinopse: “Fuga de Pretória” é a história real de Tim Jenkin e Stephen Lee, jovens sul-africanos brancos declarados “terroristas” e presos em 1978 por trabalharem em operações secretas para o ANC, grupo de Nelson Mandela. Encarcerados na prisão de segurança máxima de Pretória, eles decidem enviar uma mensagem clara ao regime do apartheid e fugir! Com engenhosidade de tirar o fôlego, vigilância meticulosa e chaves de madeira criadas para 10 portas de aço, eles fazem um grande caminho até a liberdade.
Direção: Francis Annan
Título Original: Escape from Pretoria (2020)
Gênero: Thriller
Duração: 1h 46min
País: Reino Unido | Austrália | EUA | África do Sul | Alemanha
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Presente agora no catálogo da HBO Max, “Fuga de Pretória” se utiliza das estruturas clássicos de narrativas sobre fugar de temidos presídios enquanto uma aventura épica. Talvez a grande diferença e atratividade aqui sejam as motivações por trás dos atos de Tim (Daniel Radcliffe) e Stephen (Daniel Webber). Inspirado em fatos e adaptando o livro de memórias do próprio Tim Jenkin, o cineasta londrino Francis Annan (em seu longa-metragem de estreia) mantém o foco no que ocorreu após a condenação da dupla de protagonistas.
Todavia, não apenas o contexto histórico, mas também a reflexão acerca desses personagens formam os exercícios críticos mais interessantes da obra. Em 1973, durante o regime o do apartheid na África do Sul, os dois – homens brancos se preparando para um futuro carregado de privilégios – decidem transformar a indignação velada na identificação de um ruptura social racista em atitudes propositivas, se aliando às lutas de forma direta em grupo organizado. Com isso, são presos e acusados de terrorismo. Jenkin fez parte da produção, com visitas ao set que possibilitaram uma interpretação ainda mais próxima do real de Radcliffe e Webber – e que talvez tenha sido um dos motivos para que essa busca pela reconstituição tire parte da força narrativa.
O ato inaugural de “Fuga de Pretória” é o mais instigante, não se deixa levar pelas ferramentas de gênero e foge de um filme de tribunal que não vai além. Constrói Tim e Stephen em suas complexidades e é assertivo na forma como mostra os outros homens brancos, em posições de autoridade e poder, pré-julgando aqueles atos. Há um sentimento, que depois é verbalizado pelo juiz que os condena cinco anos depois, que entende que há ingratidão dos acusados para com sua bolha privilegiada. Como se fosse uma missão de vida reproduzir a ciranda meritocrática e não deixar passar as “oportunidades”.
Chamados por imprensa e parte da opinião pública de “Mandelas brancos” – o que já carrega consigo o olhar racista da sociedade – eles chegam à Pretória já motivados a realizar uma fuga rápida. Observam à distância a comunidade onde o presidio está inserido para se misturarem ao povo quando consolidarem seus planos. Daqui em diante, o longa-metragem é uma reconstituição biográfica, mas tão refletida em outras produções ao longo do tempo, que pode soar ao espectador quase como uma obra genérica. No caminho eles vão encontrado aliados entre os detentos, mas precisam administrar seus interesses.
Afinal de contas, viver em sociedade é conviver com pessoas e atos de preconceito e ódio naturalizados pelos outros. Em um centro de detenção exclusivo para brancos em um regime que objetiva a segregação (e que não precisa ser oficial para existir), era óbvio que eles encontrariam alguns desses exemplares. Contudo, por trás das metas de uma missão de salvamento segue a postura antirracista de seus agentes. Outra ótica pouco explorada por Annan, que não deixa a liberdade poética e ficcional se refletir em dinamismo.
Aos poucos “Fuga para Pretória” vai se mostrando uma narrativa ainda mais engessada, sem que um olhar crítico sobre aquela sequências de eventos seja identificado, como se tentasse convencer de que é uma história edificante independente de qual lado o espectador se coloca.
Veja o Trailer: