Paju

Paju 2009 Filme Crítica Poster

Sinopse: “Paju” conta a história de Choi Eun-mo, jovem de 15 anos, que se apaixona pelo futuro marido da sua irmã mais velha, um professor sete anos mais velho que ela. Um dia, sua irmã morre em um acidente e Eun-mo começa a viver com o cunhado viúvo. Mas a garota começa a desconfiar que seu amado pode estar envolvido na morte da irmã dela, sem imaginar que, na verdade, ele a está protegendo de algo ainda mais terrível.
Direção: Chan-ok Park
Título Original: 파주 (2009)
Gênero: Drama
Duração: 1h 50min
País: Coréia do Sul

Paju 2009 Filme Crítica Imagem

Sistema de Proteção

Disponível durante Festival de Cinema Coreano do Petra Belas Artes à La Carte, o segundo longa-metragem escrito e dirigido por Chan-ok Park (que não lançou mais nada desde então) nos leva a “Paju“, um local estratégico no território da Coréia do Sul. Fronteiriço à Coréia do Norte, ali se encontravam instaladas algumas bases militares do país e também dos Estados Unidos. Um território que passa por um processo de gentrificação, desde que foi considerada oficialmente uma cidade no final dos anos 1990 – com a desmilitarização do local. Nela, Joong-sik (Lee Sun-kyun) lidera um grupo de ativistas contra as remoções forçadas do Estado na tentativa de garantir o direito universal de habitação. A obra abriu o Festival de Roterdã de 2010.

Bem recebido pela crítica, que entendeu que havia um toque bergmaniano na narrativa da cineasta, o filme se opera em linhas temporais que se cruzam. A cena mais forte acontece no prólogo, quando descobrimos que o homem é foragido da polícia e sua esposa, Eun-soo (Yi-yeong Shim) faz visitas semanais a um centro de detenção. Uma noite, um acidente doméstico provoca fortes queimaduras de água quente eu seu filho pequeno. Na primeira metade da obra, Park usa o passado, intenções e motivações dos personagens como parte do mistério que envolve o espectador. O drama familiar acaba sendo menos intenso do que o de costume nas produções coreanas mais populares.

A protagonista de “Paju” será Eun-mo (Seo Woo). Ela aparece de forma diferente em vários momentos e desenvolvê-los é entregar toda a construção da trama. Nos vínculos iniciais com o público, ela é uma jovem adulta que retorna para aquele espaço e reencontra seu cunhado, Joong-sik. Após um tempo morando na Índia, descobrirá que sua irmã morreu em outro acidente doméstico, envolvendo escapamento de gás. Entretanto, o viúvo dá a ela outra versão, a de que foi um acidente de carro. Ao receber a notícia de que Eun-soo teria deixado uma apólice de seguro de vida no nome de Eun-mo – aparentemente retirada pelo marido – ela começará a suspeitar do que há por trás do falecimento.

As desconfianças dessa primeira abordagem se adensam quando recebemos informações pretéritas dos cunhados. Por mais que cheguemos perto da frustração pelo ritmo da primeira metade do filme, essa instigação ainda funciona melhor do que o que lhe sucede. A história periférica, envolvendo a resistência civil às remoções cruéis do Estado, não se sustenta, parece deslocada no meio de uma junção de drama e de suspense em narrativa estilingada, o que torna esse elemento inexistente em vários momentos. Soa como um esforço da cineasta de entregar uma leitura social e de viés democrático a um plot que pouco se conecta com tudo isso. Justifica, claro, a condição de fuga constante das autoridades por parte de Joong-sik, mas impacta apenas na duração da obra sem que lhe dê intensidade, pelo contrário.

Há, ainda, um ensaio para que a busca pela verdade por parte de Eun-mo faça do longa-metragem um thriller investigativo, com elementos policiais. Um balão de ensaio que não vai adiante, porque o texto de Park decide criar uma matrioska de flashbacks para elucidar todas as questão. O bom é que não tenta “resolvê-las” e sim prover ao público argumentos para refletir sobre as atitudes dos dois personagens. Ela envolve um tipo de sistema de proteção, cuja conexão do público dependerá do que acredita ser motiva pelo amor de Joong-sik. Foge do óbvio, mas em um ritmo irregular, provocando até certo cansaço.

Por fim, “Paju” perde a chance de desenvolver duas grandes propostas de dinâmicas socioeconômicas, tanto envolvendo o núcleo familiar quanto a comunidade onde está inserida. Não chega a ser confuso, mas é menos impactante e revelador do que ousa ser.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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