O Relutante Fundamentalista

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Sinopse: Em “O Relutante Fundamentalista”, um jovem homem palestino (Riz Ahmed) decide tentar a sorte no mundo dos negócios em Wall Street. Contra sua vontade, ele é envolvido em um conflito diplomático envolvendo reféns, ao mesmo tempo em que sua família implora para que ele volte à Palestina. Aos poucos, seu sonho americano desmorona.
Direção: Mira Nair
Título Original: The Reluctant Fundamentalist (2012)
Gênero: Drama | Suspense
Duração: 2h 10min
País: EUA | Índia | Catar

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(22.05.2018)
*crítica originalmente escrita em 22 de maio de 2018

Utilizando duas linhas do tempo, a trama de “O Relutante Fundamentalista” é feito sob medida para séries que tentam mostrar a dupla interpretação dada à “Guerra ao Terror” promovida pelo governo dos Estados Unidos, com massivo apoio das potências do Ocidente. Quando da republicação deste texto, o longa-metragem dirigido pela cineasta Mira Nair, adaptando romance de Mohsin Hamid, chegava ao catálogo da MUBI no Brasil.

Expondo argumentos não só do lado Ocidental, como trazendo a visão do povo local (neste caso, o paquistanês), parece reflexo do cinema globalizado e em busca de representatividade, enquanto demanda mercadológica de Hollywood. Mesmo com todo potencial que a visão de uma diretora indiana pode dar ao tema, o filme evita correr riscos. Com montagem dinâmica e buscando um ar de suspense e ação, não espere ver muita coisa diferente de séries como “24 Horas” (2001-2010) e “Homeland” (2011-2020). Até Kiefer Sutherland, o eterno Jack Bauer do primeiro programa, está no elenco.

A primeira linha do tempo mostra o protagonista Changez (um jovem Riz Ahmed) vivendo o sonho americano, obtendo êxito bem jovem como analista financeiro de uma corporação preocupada com uma mensagem de tolerância. Uma das questões prejudiciais da narrativa é tentar abrir um leque de gêneros que pouco mais de duas horas não comporta da mesma maneira que uma temporada de 12 ou 24 episódios. Por vezes, parece que estamos diante de uma biografia, intercalando uma espécie de entrevista de Changez com o jornalista Bobby, vivido por Liev Schreiber, com partes fundamentais da história.

Ao ponto de pairar a dúvida no espectador de “O Relutante Fundamentalista” sobre estarmos diante de um texto múltiplo ou indefinido, ainda mais quando o roteirista Ami Boghani aposta em um romance interracial entre o protagonista e Erica, interpretada por Kate Hudson. Uma trama paralela que não funciona, mesmo partindo d  impressão de ser algo fundamental para o longa-metragem. Interrompida quando, no meio de seu desenvolvimento, o ataque ao World Trade Center quebra o ato inaugural – transferindo a história para o Paquistão.

Ali Changez larga tudo para ser professor em seu país. Com isso, perde até mesmo um aprofundamento na questão do próprio título. Temos um protagonista que aparenta ser um fundamentalista velado, apesar de em suas aulas dar a entender que aceita o uso da violência como ferramenta política. Como pano de fundo, entende que a derrocada norte-americana é um capítulo a ser enfrentado pela História.

Já Bobby é ainda pior aproveitado. Um escritor outrora preocupado com a visão das verdadeiras vítimas da Guerra ao Terror, se transforma em um colaborador informal da Inteligência de sua Nação, mas tem pouco espaço para se justificar nas cenas que lhe são dedicadas no corte final. Com isso, um bom plot sobre mudanças de pensamento e motivações é desperdiçado.

No fim, a mensagem de tolerância religiosa e étnica se revela na mesma profundidade de um seriado de ação bacaninha. Para os mais jovens, talvez “O Relutante Fundamentalista” permita ser uma porta de entrada para preocupações sobre a ciência política atualmente praticada. Para os mais velhos, algo para se discutir por um dia ou dois para depois empilhar na grande lista de filmes medianos sobre o assunto – muito por culpa de uma adaptação densa que parece recalcular rota junto com seus personagens.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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