Dupla Jornada

Dupla Jornada 2022 Filme Netflix Crítica Poster

Leia a crítica de “Dupla Jornada”, novidade da semana na Netflix.

Sinopse: Em “Dupla Jornada”, um caçador de vampiros tem uma semana para conseguir dinheiro para pagar as despesas da filha. E ele vai lutar com unhas e dentes para garantir o sustento da família.
Direção: J. J. Perry
Título Original: Day Shift (2022)
Gênero: Ação | Terror | Fantasia | Comédia
Duração: 1h 53min
País: EUA

Dupla Jornada 2022 Filme Netflix Crítica Imagem

Porque Vocês Todos são Vampiros
(E todas suas histórias não são novidades)

Grande aposta no final de semana da Netflix, a junção entre comédia, ação e terror “Dupla Jornada” traz de volta à plataforma de streaming mais popular do mundo o astro Jamie Foxx, estrela de “Power” (2020), sucesso de público há dois anos. Aqui ele vive Bud Jablonski, pai de família que mente que é limpador de piscinas mas, na verdade, caça vampiros e vende seus dentes raros e outros pertences no mercado alternativo. Quando a esposa (separada de fato em virtude da crise no casamento) e a filha precisam de dinheiro com urgência, sob ameaça de se mudarem para longe, ele precisará ir a campo com maior intensidade.

A estreia do diretor J. J. Perry é recheada de referências ao jovem clássico “Os Garotos Perdidos” (1987), longa-metragem de Joel Schumacher. Com larga experiência de dublê por sua formação em artes marciais, ele possui créditos em mais de cem produções. Aos poucos, se tornou coordenador de equipe, diretor de segunda unidade e passou a ganhar créditos como ator. Por mais que ele atraia para sua obra essa aura oitentista, o que funciona melhor enquanto estilo é o diálogo com o gangsta rap que encontrou seu auge na década seguinte. Não apenas porque a Los Angeles do protagonista é apresentada a partir da canção “California Love”, parceria de 2 Pac e Dr. Dre. Mas é a maneira como esse diálogo se alia à trama, que foge do lugar-comum das histórias vampirescas.

Dupla Jornada” possui uma solaridade incomum ao subgênero no qual se coloca – e mesmo assim com total coerência e pertinência para o território no qual se passa. As sequências que unem fantasia e ação são bem executadas e coreografas (temos um realizador com expertise, nada mais justo), viajando em propostas parecidas com a de Zack Snyder em “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas” (2021), lançado pela mesma Netflix ano passado. Saem os zumbis e entram vampiros contorcionistas e denotando uma evolução que torna mais difícil o trabalho de Bud. Acostumados com a Hollywood Boulevard, se besuntam de protetor solar para não depender da noite. Já Perry usa, mas não abusa, da câmera em slow enquanto ferramenta para contar a história.

O protagonista surge como um pária dentro da própria comunidade de caçadores. Devido aos insistentes desrespeitos ao código de conduta do sindicato da categoria, ele foi banido do grupo. Para capitalizar as “segundas mortes” dos seus inimigos, ele precisa apelar para a venda paralela. Porém, o resultado não renderá o suficiente para manter a filha perto de casa – e ele tem pressa em resolver. Sendo assim, embarca no plano do amigo John (Snoop Dogg) e aceita uma nova chance prestando serviço de forma oficial. Porém, fará obrigatoriamente no turno do dia. O pior está por vir quando a dupla designada para ele é o jovem Seth (Dave Franco).

O parceiro de Bud aparece em contraposição a todas as características e comportamentos do homem vivido por Foxx. Com ele no carro, sai 2 Pac ou a banda de metal que revelou Ice Cube, outro ícone do gangsta rap, Body Count. No lugar, entra a balada do Nickelback. Seth é um burocrata, que deseja ficar longe das ruas e realizar procedimentos administrativos do sindicato pelo resto da vida.

Ou seja, a pessoa ideal para fiscalizar e controlar a forma como Bud irá agir dali em diante. O ato final de “Dupla Jornada” se abre a partir de uma mudança corporal dele, uma das formas como a história de Tyler Tice coloca a comédia sem nunca ser a base da narrativa. É pelo flerte com o grotesco, uma ponta de body horror misturada na violência e brutalidade das sequências mais emocionante, que encontramos os melhores momentos aqui. Não à toa é travam-se diálogos com a franquia John Wick ou até mesmo com o filme de Snyder já citado. O roteiro do longa-metragem é assinado também por Shay Hatten, responsável por “Army of the Dead” e “John Wick: Parabellum” (2019).

Por mais que “Dupla Jornada” tenha seu prazo de validade dentro da lógica algorítmica do streamings, ao final da sessão entendemos que assistimos a um diretor novato que absorveu bem as propostas de linguagem da fantasia hollywoodiana contemporânea. Com o carisma de um ator bem recebido pelo público e uma vitrine do tamanho da Netflix, deve terminar a semana com a sensação de que chegou chutando a porta, estreando com um sucesso na prateleira.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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