Leia a crítica de “Fuga da Morte”, estreia da semana no Telecine.
Sinopse: Em “Fuga da Morte”, o departamento de um xerife corrupto em uma cidade rural montanhosa é desfeito quando uma testemunha involuntária joga uma chave em sua operação sombria.
Direção: Mike Burns
Título Original: Out of Death (2021)
Gênero: Thriller | Ação
Duração: 1h 36min
País: EUA
A Toque de Caixa
As vinhetas das inúmeras produtoras desconhecidas que abrem “Fuga da Morte“, estreia deste sábado na faixa première da rede de TV e serviço de streaming Telecine, nos faz lembrar que estamos diante de mais um longa-metragem que marca a fase final da carreira de Bruce Willis. Diagnosticado com afasia – e anunciando seu afastamento dos sets por tempo indeterminado por se tratar de uma doença que ataca diretamente as funções cognitivas – ele aceitou todos os papéis possíveis para estender um calendário de lançamentos com seu nome e permitir uma situação mais confortável para sua família na questão financeira.
O thriller dirigido por Mike Burns possui alguns problemas e, ao lermos as notas de produção, podemos especular que o atropelo que encontramos no corte final é reflexo do processo de filmagem. O filme é apresentado pelo olhar de Shannon (Jaime King), uma mulher que faz uma trilha na floresta para deixar ali as cinzas de seu pai. Essa homenagem ritualística se mistura com uma espécie de prestação de contas, já que ele nunca acreditou que a filha tivesse força e coragem para chegar ao fim daquele caminho em segurança. Porém, ao chegar ao tempo da estrada, ela será testemunha de um assassinato cometido por uma policial.
É sob este argumento que “Fuga da Morte” traz a velha dinâmica da corrupção policial sistêmica e de alguém que se será perseguida por ter se tornado um arquivo vivo. O protagonismo de quem não possui qualquer experiência com armas e toma decisões puramente reativas também não traz nada de novo. Podemos dizer que a montagem de R.J. Cooper auxilia em um ritmo bem mais vagaroso do que a média, apesar das histórias de ação serem sua zona de conforto na carreira. Todavia, o que há por trás disso é um número de diárias (e, por consequência, de takes) reduzidos pelas providências iniciais de isolamento social da pandemia de covid-19 em março de 2020.
Além disso, Willis estaria disponível por apenas um dia para seu trabalho. Seriam dois, mas ao adiantar toda a produção por força do vírus e ter como agravante a saúde do astro – até então desconhecida do público, mas administrada por seus agentes – fez com que sua participação fosse ainda mais limitada. Esse acerto de montagem não parece prejudicar tanto o resultado do longa-metragem em seus dois primeiros terços. É de se lamentar, entretanto, que o clímax baseado em uma revelação do paradeiro da personagem de King, que surge de forma bagunçada quase que na estrutura de um epílogo, afetando o conceito de protagonismo de Shannon.
Essa dificuldade de determinar quem comanda a ação, por sinal, surge na parte inicial. Burns abre a obra mostrando Jack Harris (Bruce Willis) apontando a arma para dois policiais no meio do mato. Corta para um flashback de vinte minutos e ali sabemos que retornaremos, em breve, àquele ponto da história. O tira aposentado vivido por ele, porém, é quase um companheiro de fuga menos efetivo de Shannon. Esse equilíbrio entre ter um rosto famoso no elenco sem necessariamente lhe dar o protagonismo é difícil para uma trama clássica para aqueles que acompanham a trajetória do ator.
Além dela, a policial Billie Jean (Lala Kent) surge como uma figura curiosa. É ela quem comete o crime e, por trás desta decisão, há uma corrupção sistêmica liderada pelo Xerife daquele Condado. Preocupado em se eleger Prefeito enquanto mantém seu esquema de pé, ele será resgatado pelo roteiro uma vez que seus comandados são limados ao longo da narrativa. Só que sua vilania mais caricata não parece tão interessante de acompanhar do que Billie. Quando ela precisa entrar em confronto com Shannon, por exemplo, temos ali uma outra mulher que também aparece com sintomas de medo e sentimento de vulnerabilidade. Ela é a peça de um tabuleiro mortal e prestes a ruir, já que foi gravada pelo celular daquele que matou enquanto parte de um esquema de venda de drogas.
Porém, sem chances de filmar mais do que nove dias, um feito para um projeto como “Fuga da Morte“, com sequências de perseguição, tiro e muito sangue falso, sobrou para a sala de montagem permitir algumas incongruências – no ritmo, na conclusão e na percepção dos personagens, como já citamos aqui. A primeira não compromete, mas as outras duas enfraquece a experiência. Talvez não o suficiente para o espectador menos exigente e para todos que farão a leitura empática e os motivos de levar um ídolo do Cinema até aqui.
Veja o Trailer:
Tirando o ótimo ator Bruce Willis a atuação dos demais chega a ser ridícula, principalmente da policial Billie 👎👎👎