Caçador de Tormentas

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Sinopse: Em “Caçador de Tormentas”, William segue os passos de seu pai caçador de tempestades e agora enfrentará o maior desafio da sua vida para seguir seu legado.
Direção: Herbert James Winterstern
Título Original: Supercell (2023)
Gênero: Ação | Aventura | Drama
Duração: 1h 40min
País: EUA

Caçador de Tormentas (2023) Crítica do Filme

Instabilidade

A primeira novidade no catálogo de 2025 do Amazon Prime Video é “Caçador de Tormentas”, aventura que reúne elenco de veteranos de Hollywood como Skeet Ulrich, Anne Heche e Alec Baldwin. O filme conta a história de William (Daniel Diemer), adolescente que viaja da Flórida para o Texas para encontrar o amigo do falecido pai, famoso caçador de tornados. Dirigido por Herbert James Winterstern, o roteiro é assinado por ele e Anna Elizabeth James, que já apareceu aqui na Apostila de Cinema pelo texto de “Por Trás a Inocência” (2021), longa-metragem do catálogo da Netflix que também parece saído dos anos 1990.

À primeira vista, a produção parece uma versão genérica de “Twister” (1996), que teve uma continuação lançada ano passado, “Twisters”. Até mesmo as atualizações para os tempos atuais são semelhantes, como o desenvolvimento da trama denota.

A primeira sequência de ação de “Caçador de Tormentas” ocorre dez anos antes, quando William ainda é uma criança. É a caça mal sucedida de seu pai, Bill (Richard Gunn), que morre junto com outros dois homens em um acidente provocado pelo tornado. Seu colega, Roy (Skeet Ulrich), sobrevive porque está em outro veículo. Ali estamos diante de uma dupla de pesquisadores, interessados em conhecer mais do fenômeno natural, com o objetivo de criar alternativas que o tornem ricos como consequência. A diferença para a maioria dos cientistas está na ousadia em encarar de frente tempestades devastadoras. Com o adicional de que Bill tinha descrédito da comunidade científica pela ausência de diploma.

Quando o tempo avança, o testemunho de tornados se torna, por si só, uma experiência monetizada. No crítica de “Twisters” destacamos essa nova leitura de sociedade, a partir da espetacularização de produtores de conteúdo para a internet, criando imagens virais. Aqui a nova realidade de Roy envolve um sócio, Zane (Alec Baldwin), que adquiriu a empresa do pai de William e a transformou em uma espécie de agência de turismo que leva quase ao olho do furacão qualquer um que se disponha a pagar sem ter medo da morte.

A base narrativa de “Caçador de Tormentas” é bem construída no primeiro terço. Após a morte de Bill, a viúva Quinn (Anne Heche, que faleceu antes do lançamento do filme em virtude de um grave acidente de carro) decide abandonar a rotina de aventura e se deslocar para outro lado dos Estados Unidos com o filho. Prioriza a estabilidade, a organização e uma dose de carinho, como é representado nas cenas familiares. Por outro lado, nega a William informações sobre a vida do pai, ampliando a sensação confusa que mistura a dor da perda com a ausência a partir da ignorância sobre o passado. Esse fato dificulta a própria aceitação da morte e, mesmo sem essa verbalização, é nítido o medo de Quinn de alçar o falecido marido à figura de herói.

Ao buscar informações sobre Bill na internet, William desenvolve uma obsessão por continuar ou provar o trabalho do pai. Ao receber o diário de bordo em correspondência enviada por Roy, vai atrás do passado de sua família, uma vez que a realidade foi maquiada por sua mãe. Winterstern inclui outras cenas emocionantes próximas às tempestades, todos elas reais e captadas ao longo de quatro anos pelo próprio diretor ou por um verdadeira caçador de tempestades contratado. Todavia, não consegue tão bem articular a base narrativa já citada com o desenvolvimento da trama.

A transição para o terço final se dá a partir de três grandes diálogos, que beiram o enfadonho e leva a intensidade do filme quase a zero. No primeiro William explica seus motivos para Roy. Aliás, o comportamento do protagonista no curso do longa-metragem é tão instável que a construção da ideia de estabilidade no arco introdutório perde todo o sentido. Há momentos em que ele é desastradamente lento, como na vez em que precisa se proteger de um tornado na cabine telefônica porque perdeu tempo demais na loja de conveniência do posto de gasolina. Já em outros momentos ele parece inteligente e esperto a ponto de colocar em prática as informações do diário do pai, como se fosse dotado de algum poder magicamente constituído.

Depois disso, Quinn conversa com Harper (Jordan Kristine Seamón), interesse amoroso o filho, sobre as suas motivações, ampliando a tática da “explicação audiovisual” que tanto irrita. Por fim, temos uma sequência com Zane ainda mais grave. Até aquele momento, o personagem de Baldwin era um antagonista apresentado enquanto empresário ganancioso, a ponto de Roy perder de vez as estribeiras por uma ação sua. Parecia, aliás, que seu tempo de tela estava encerrado, o que tornaria o ator mais conhecido do elenco em alguém mal aproveitado (foram só cinco diárias de Baldwin, por sinal). Todavia, após um breve sumiço do filme, ele retorna como uma espécie de admirador da lenda de Bill e amigo de William sem qualquer consistência que nos permita aceitar essa mudança de comportamento (a não ser uma ganância disfarçada, o que nunca é atraído para a narrativa).

Após essa quebra de expectativa, a parte final de “Caçador de Tormentas” fica bem menos interessante, já que a conclusão da história pode ser imaginada por grande parte do público. Até as cenas finais parecem poucos inspiradas depois do jogral de autoanálise que colocou cada personagem em seu lugar. De positivo, podemos citar as saídas encontradas pela produção e edição do filme no clímax da obra – utilizando uma piscina e pouca luz para as representações. Sem ter como colocar o elenco nas lindas imagens de tempestades captadas por conta do orçamento de quermesse, restou a Herbert James Winterstern abusar da criatividade.

Veja o trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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