Swingueira

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Sinopse: Nas periferias do Nordeste do Brasil, a swingueira movimenta a juventude. Quatro jovens disputam um campeonato de dança enquanto tentam sobreviver. A dança, a música e a arte se misturam com a falta de dinheiro, as condições precárias de moradia e os problemas da vida. Uma cultura quase invisível, mas cultivada por milhares de pessoas. Quem vai ser campeão? Quem vai sobreviver?
Direção: Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula
Título Original: Swingueira (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 25min
País: Brasil

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Corpos Periféricos em Brasa

A periferia de Fortaleza surge com a marca da mesma partição de outros grandes centros urbanos. “Swingueira“, documentário dirigido por Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula e apresentado no 15º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, surge como o registro de uma manifestação cultural jovem, ainda em formação – e que seus agentes têm a preocupação de deixar em aberto a possibilidade de ser uma moda passageira.

Há quem atribua ao filme notas, com o peso de um julgamento técnico – ainda mais pelo formalismo e o tradicionalismo de sua narrativa, em oposição às possibilidades de atualização do gênero do filme “Todas as Melodias“, exibido no mesmo dia. Porém, para nós o registro de um espaço, a visibilidade de um território ainda pouco explorado, não só justifica as escolhas estéticas da obra, como também dão um peso ao seu entendimento.

Não tivemos a oportunidade de assistir ao curta-metragem “Swinguerra”, que circulou em festivais no ano passado. Porém, lembrando o que Bárbara Wagner e Benjamin de Burca fizeram no inesquecível “Terremoto Santo” (2017), a expressão pela corporalidade deve ser fundamental também neste trabalho. Aqui, o grupo de quatro cineastas fazem uma abordagem mais direta. Um prólogo informativo tenta caracterizar a swingueira como um movimento. Remonta ao sucesso dos anos 1990 de grupos como É o Tchan e Harmonia do Samba, em uma sistematização de um fenômeno que teve uma onda nacional e que rendeu desdobramentos, se consolidando em Salvador – pelo subgênero de Pagodão Baiano.

Os primeiros minutos de “Swingueira”, então, têm essa levada contextualizante – sem nos deixar um segundo sem o som da percussão. Ao contrário de produções como “Guitarra Baiana – A Voz do Carnaval” (2016), que usam depoimentos para tratar de assuntos do passado, aqui há que se olhar para frente. Mais do que a simbologia e as sensações que os grupos de dança que se formam para participar de concursos em festas de Fortaleza, o longa-metragem tem como principal função a entrega de um material que mostra a gênese de uma prática cultural que ainda não sabemos qual a força. Na capital do Ceará já são mais de trinta grupos, que organizam campeonatos. As apresentações geram pontuações em quesitos como: simpatia, alinhamento e coreografia.

Para aqueles jovens, há uma relação direta entre a liberdade de movimentos com o direito de ser o que se quer. Ou, de poder sonhar. “Quem não tem piscina, se diverte na esquina“, diz um deles que entende o quão fundamental é tomar para si a exploração do espaço urbano, mesmo que o Poder Público lhe renegue. A swingueira vem sofrendo o mesmo tipo de perseguição que os bailes funks e as batalhas de MC. Talvez por isso, aqueles que gostam dos sons e ritmos a ela atrelados naturalmente vincula esses gêneros. A consequência direta – aqui ainda mais forte pelos constantes ensaios e objetivos das competições – é a mesma: a ideia de pertencimento, o alcance de uma unidade enquanto comunidade. Quando um dos entrevistados diz que ouve críticas sobre aquela manifestação não ser Cultura, respondemos que ela é, sim – independente da leitura, tanto a que a aproxima de arte quanto aquela atrelada às formas de uma sociedade se relacionar.

Os cineastas poderiam seguir um caminho de exaltação, aproveitar o acesso a Léo Santana e a Márcio Victor, vocalista do Psirico (expoentes entre os artistas mais ouvidos do movimento). Porém, como a ideia é trazer a força da periferia, ser periférico na narrativa é fundamental. Mesmo que se observe certa repetição de discursos em determinado momento e a difícil captação de som ambiente para suprir uma pós-produção complicada caso a adição de elementos musicais se tornasse expediente. Abandona uma proposta de foco na intimidade de algumas pessoas (que parecia ser o tom com pouco mais de vinte minutos de filme). Mostra, entretanto, os preparativos da disputa entre Uz Patifez e o Tommy Swing como exemplo da codificação que o movimento começa a traçar e reencontra seu rumo mais adiante.

Com isso, somos levados a interessantes caminhos. Um deles é a onipresente roda de oração que antecede as apresentações dos grupos – prova de que a insistência entre a polarização cultura popular x religiões neopentecostais gera apenas debates enviesados. Na estética das apresentações, as referências a personagens de videogames com a adição da violência urbana testemunhada diariamente por aquelas pessoas. O fato de membros da Polícia Militar, por vezes, serem oriundos da mesma periferia que eles tão desumanamente abordam, é a prova de que a política da corporação serve como uma máquina de moer pensamento crítico.

Em 2021 não teremos Carnaval de rua (pelo menos na data tradicional). Lembrar disso torna ainda mais urgente a superação desta crise sanitária, para que mais momentos como o que testemunhamos em “Swingueira” possam ocorrer em Fortaleza. Uma nova manifestação cultural, com grupos que encontram estilos próprios e levam cada vez mais a sério a brincadeira mais divertida que podemos ter: a de viver com o vento da liberdade soprando em nossos corpos suados de alegria.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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