Programa É Fazendo que se Aprende

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Programa É Fazendo que se Aprende

Mostra Cinemas do Brasil 2020

O que Passou e O que Ficou

Cineclube Majestick Curta Programa É Fazendo que se Aprende
Cineclube Majestick (2018)

O projeto Documentando, que compõe com dois curtas-metragens o Programa É Fazendo que se Aprende da Mostra Cinemas do Brasil, é desenvolvido pelo cineasta Marlom Meirelles e promove oficinas audiovisuais em várias cidades de Pernambuco. Em 2014, por exemplo, o também diretor executivo da Eixo Audiovisual percorreu catorze municípios, entre julho e dezembro, iniciando em Santa Cruz de Capibaribe e passando, dentre outras, por Salgueiro, Petrolina e Garanhuns.

Garanhuns foi um dos primeiros lugares que a Apostila de Cinema “foi sem ir”. Lá que ocorreria a versão presencial do 2º Festival de Cinema do Meio do Mundo – FestCiMM (e no link você tem acesso à nossa cobertura especial). Ela aconteceu de forma virtual. Lá, uma parceria com o Sesc de Pernambuco também trouxe produções feitas em oficinas – porém reservada a crianças e adolescentes. No meio da quase mil produções que passaram por nossa plataforma em 2020, assistimos àquelas três, porém não foi possível escrever sobre.

Retomamos em outros momentos a importância do desenvolvimento de produtos audiovisuais a partir de construções coletivas em espaços de ensino. O 15º Festival de Taguatinga foi um dos que abraçaram na Mostra Popular (que reuniu quase quinhentos curtas-metragens que atingiram os critérios técnicos de seleção) essa linguagem. Foi lá que “Cineclube Majestick” foi apresentado na edição do ano passado.

Localizado no bairro de Boa Vista, no Recife, o documentário conta a história de um daqueles cinemas de rua que recorreu aos filmes eróticos para sobreviver, como aconteceu em cidades maiores. A leitura que Meirelles e os coletivos formados dão às obras é muito interessante, posto que carregada de humanismo. Parte de um fato para falar de pessoas, das relações entre elas e dos poderes e seus meios. A mulher lida como prostituta por gostar de frequentar a sala e o rapaz que explora essa atividade são colocados ao lado do funcionário que testemunha casos em que os frequentadores se animam como filme, na falta de expressão melhor.

Pode Entrar Curta Programa É Fazendo que se Aprende
Pode Entrar (2014)

A partir dessa abordagem inicial, os dois filmes conseguem trazer o que há de mais contemporâneo nas pautas sociais. Se em “Cineclube Majestick” está mais vinculado a questões de gênero, o recorte de classe é o destaque de “Pode Entrar“. No meio de um conjunto de produções que se vinculam à perspectiva histórica, essa atualização do tema acaba tornando os dois filmes destaque na Mostra Cinemas do Brasil.

Mais curto do que o primeiro, em “Pode Entrar”, Marlom Meirelles e seu coletivo nos propõem uma experiência: colocar pessoas que exercem atividades próximos às salas de cinema e ali nunca entraram – ou frequentaram há muitos anos. É materializar a ideia de sociedade como um organismo vivo, em que o conjunto das relações se pautam em objetivos concretos – enquanto outros, que para nós pode parecer extraordinários, para outros é ignorado (seja qual for o motivo).

Quem esperava o deslumbre encontra uma visão bem menos romantizada. Não há uma quebra de encanto porque não foi, de parte de alguns deles, criada qualquer expectativa. É curioso como toda a aura gestada por nós e alimentada pelas experiências dos outros filmes da Mostra, se encontram com a realidade no Programa É Fazendo que se Aprende: para muitos, o passado é algo que somente ficou para trás.


Ficha Técnica do Programa É Fazendo que se Aprende

Cineclube Majestick (Marlom Meirelles e coletivo da oficina Documentando Eixo Audiovisual Produções Cinematográficas, 12′ – Brasil, 2018)
Sinopse: Cineclube Majestick, cinema pornô situado no bairro da Boa Vista, reúne histórias e personagens que fazem parte do universo erótico e pornô da cidade do Recife, desde os frequentadores, profissionais do sexo e até trabalhadores do local. O curta aborda sexualidade e gênero, oferecendo aos espectadores um recorte sobre esse mundo.
Pode Entrar (Marlom Meirelles e coletivo da oficina Documentando Eixo Audiovisual Produções Cinematográficas, 7′ – Brasil, 2014)
Sinopse: Abrimos as portas do Cinema São Luiz para pessoas que nunca haviam entrado nele. As reações são incríveis!

Clique aqui e conheça a página oficial da Mostra Cinemas do Brasil – No Mundo de 2020.

Clique aqui e conheça a nossa cobertura da Mostra Cinema do Brasil – No Mundo de 2020.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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