Programa É Fazendo que se Aprende
O que Passou e O que Ficou
O projeto Documentando, que compõe com dois curtas-metragens o Programa É Fazendo que se Aprende da Mostra Cinemas do Brasil, é desenvolvido pelo cineasta Marlom Meirelles e promove oficinas audiovisuais em várias cidades de Pernambuco. Em 2014, por exemplo, o também diretor executivo da Eixo Audiovisual percorreu catorze municípios, entre julho e dezembro, iniciando em Santa Cruz de Capibaribe e passando, dentre outras, por Salgueiro, Petrolina e Garanhuns.
Garanhuns foi um dos primeiros lugares que a Apostila de Cinema “foi sem ir”. Lá que ocorreria a versão presencial do 2º Festival de Cinema do Meio do Mundo – FestCiMM (e no link você tem acesso à nossa cobertura especial). Ela aconteceu de forma virtual. Lá, uma parceria com o Sesc de Pernambuco também trouxe produções feitas em oficinas – porém reservada a crianças e adolescentes. No meio da quase mil produções que passaram por nossa plataforma em 2020, assistimos àquelas três, porém não foi possível escrever sobre.
Retomamos em outros momentos a importância do desenvolvimento de produtos audiovisuais a partir de construções coletivas em espaços de ensino. O 15º Festival de Taguatinga foi um dos que abraçaram na Mostra Popular (que reuniu quase quinhentos curtas-metragens que atingiram os critérios técnicos de seleção) essa linguagem. Foi lá que “Cineclube Majestick” foi apresentado na edição do ano passado.
Localizado no bairro de Boa Vista, no Recife, o documentário conta a história de um daqueles cinemas de rua que recorreu aos filmes eróticos para sobreviver, como aconteceu em cidades maiores. A leitura que Meirelles e os coletivos formados dão às obras é muito interessante, posto que carregada de humanismo. Parte de um fato para falar de pessoas, das relações entre elas e dos poderes e seus meios. A mulher lida como prostituta por gostar de frequentar a sala e o rapaz que explora essa atividade são colocados ao lado do funcionário que testemunha casos em que os frequentadores se animam como filme, na falta de expressão melhor.
A partir dessa abordagem inicial, os dois filmes conseguem trazer o que há de mais contemporâneo nas pautas sociais. Se em “Cineclube Majestick” está mais vinculado a questões de gênero, o recorte de classe é o destaque de “Pode Entrar“. No meio de um conjunto de produções que se vinculam à perspectiva histórica, essa atualização do tema acaba tornando os dois filmes destaque na Mostra Cinemas do Brasil.
Mais curto do que o primeiro, em “Pode Entrar”, Marlom Meirelles e seu coletivo nos propõem uma experiência: colocar pessoas que exercem atividades próximos às salas de cinema e ali nunca entraram – ou frequentaram há muitos anos. É materializar a ideia de sociedade como um organismo vivo, em que o conjunto das relações se pautam em objetivos concretos – enquanto outros, que para nós pode parecer extraordinários, para outros é ignorado (seja qual for o motivo).
Quem esperava o deslumbre encontra uma visão bem menos romantizada. Não há uma quebra de encanto porque não foi, de parte de alguns deles, criada qualquer expectativa. É curioso como toda a aura gestada por nós e alimentada pelas experiências dos outros filmes da Mostra, se encontram com a realidade no Programa É Fazendo que se Aprende: para muitos, o passado é algo que somente ficou para trás.
Ficha Técnica do Programa É Fazendo que se Aprende
Cineclube Majestick (Marlom Meirelles e coletivo da oficina Documentando Eixo Audiovisual Produções Cinematográficas, 12′ – Brasil, 2018)
Sinopse: Cineclube Majestick, cinema pornô situado no bairro da Boa Vista, reúne histórias e personagens que fazem parte do universo erótico e pornô da cidade do Recife, desde os frequentadores, profissionais do sexo e até trabalhadores do local. O curta aborda sexualidade e gênero, oferecendo aos espectadores um recorte sobre esse mundo.
Pode Entrar (Marlom Meirelles e coletivo da oficina Documentando Eixo Audiovisual Produções Cinematográficas, 7′ – Brasil, 2014)
Sinopse: Abrimos as portas do Cinema São Luiz para pessoas que nunca haviam entrado nele. As reações são incríveis!
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