Um Príncipe em Nova York 2

Um Príncipe em Nova York 2 Crítica Filme Amazon Prime Video Pôster

A nostalgia de “Um Príncipe em Nova York 2” chegou na Amazon. Leia nossa crítica.

Sinopse: Situado no luxuoso país da realeza Zamunda, o recém coroado Rei Akeem e seu confidente Semmi embarcam em uma nova aventura que os levará ao redor do mundo: de sua grande nação Africana ao Queens, bairro de Nova York – onde tudo começou!
Direção: Craig Brewer
Título Original: Coming 2 America (2021)
Gênero: Comédia
Duração: 1h 50min
País: EUA

Um Príncipe em Nova York 2 Crítica Filme Amazon Prime Video Imagem

Sustentabilidade Audiovisual

Difícil não transformar um pouco do debate sobre “Um Príncipe em Nova York 2” em um registro sobre memória. A produção, que chegou essa semana à plataforma de streaming da Amazon Prime Video, é a continuação de uma comédia lançada em 1988. Por sinal (e até de forma inacreditável), nunca fez parte da minha agenda de cinefilia – assisti pela primeira vez há poucos anos.

Uma obra revisitada após tanto tempo quase exige do espectador um exercício de lembrança, uma provocação de nostalgia. Por mais que afaste essa ideia pessoal de que meus vínculos com o longa-metragem original lançado no auge do estrelato por Eddie Murphy são menores do que o público em geral, observa-se no texto de Barry W. Blaustein e David Sheffield um esforço constante para fazer essa afetividade se impor – evitando qualquer aspecto renovador na narrativa. Os créditos trazem não apenas os dois roteiristas de confiança do astro da comédia, como a adição de Kenya Barris, várias vezes indicado ao Emmy pelo seriado “Black-ish” (esse sim marcado por uma representação moderna).

O mesmo não acontece na estética. A direção de Craig Brewer é protocolar (bem diferente do bom “Meu Nome é Dolemite“, de 2019), foge de objetificações e apelações sexuais anacrônicas dos anos 1980, mas aposta no excesso de computação gráfica – uma ferramenta utilizada em quase todas as obras atualmente e que, nem sempre, tem um resultado vantajoso. Por vezes, a troca das maquetes pelo CGI tem levado a cenários constrangedoramente falsos. A direção de arte aos poucos vai se limitando a uma equipe mais focada na programação. Não deixa de ser um ofício criativo, mas nos leva a ambientações pouco inspiradas.

“Um Príncipe em Nova York 2” ainda possui uma agravante, pois a montagem de David S. Clark, Billy Fox e Debra Neil-Fisher adiciona um elemento ainda mais falso, escancarado por essas escolhas. Usa trechos da obra original em um corte direto para novas sequências usando o rejuvenescimento digital, técnica que nos remete diretamente a “O Irlandês” (2019), que virou notícia nessa proposta desenvolvida por Martin Scorsese. Permite ao espectador identificar a forma ainda embrionária (será? Isso me dá medo) como a técnica se desenvolve.

No mais, a obra não encontra um rumo em relação às representações que fará com essa narrativa. Não consegue abraçar o humor original e não encontra elementos suficientes de atualização. Talvez um reflexo direto de um intervalo muito longo entre as duas produções – e a consequência direta é que temos quase quatro décadas de uma história que amadureceu seu impacto cultural. Por óbvio, isso gera expectativas – e é possível que o tempo faça bem à continuação.

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Esse retorno ao produto original, inserindo cenas do primeiro filme e até criando diálogos em que personagens “contam” o que aconteceu só não torna o longa-metragem mais engessado porque ainda é aplicado com moderação (nunca esqueço a forma como “Frozen 2” de 2010 faz isso, quase mendigando memória afetiva e esquecendo que há uma nova trama a ser desenvolvida). Quando precisa se ancorar no presente, Brewer não encontra foco. Ao propor um reencontro com um filho primogênito norte-americano, futuro herdeiro de uma Zamunda presa ao patriarcado, observa-se que há dificuldades em se afastar do protagonismo de Murphy.

Isso fica nítido no segundo ato, após um longo período em que o (agora) Rei Akeem perde tempo de tela – chegando a sumir por alguns minutos. Uma forma de transformar Lavelle (Jermaine Fowler) em protagonista, mas que parece não ser abraçada de vez no corte final. Situações forçadas exigem que Eddie Murphy volte aos holofotes, em gags que funcionam pouco. A busca por espetacularização traz algumas cenas musicais pouco divertidas e indiferentes para a trama – apesar de contar com grandes nomes como En Vogue e Gladys Knight. Há momentos em que sentimos assistir uma paródia e não uma continuação de “Um Príncipe em Nova York” (1988). É quase um reaproveitamento, uma reciclagem, que quer a todo instante reiterar personalidades e situações pelas quais já rimos há trinta anos – e, portanto, não consegue despertar a mesma reação.

O que segue funcionando é a barber shop, provavelmente o que há de mais anacrônico na produção original e que conseguiu minimamente se atualizar. Duas esquetes, de fato, engraçadas e que chegam a mencionar a série de filmes “Barber Shop” (sendo o primeiro traduzido genericamente para “Um Turma do Barulho” de 2002), que só existiram por conta de sucessos de filmes como o de Murphy. Parece que o grande problema é não ter, de fato, dado liga uma revisitação do personagem (o que quase acontece em “Borat: Fita de Cinema Seguinte” – e passar o bastão para a Tutar de Maria Bakalova foi fundamental para minimizar os danos). Alguns merchandisings deslocados, humor pouco inspirado e um reencontro frio de personagens que deixaram a sensação de serem podados pelo medo de fazer um pouco diferente. Vem aí “Um Tira da Pesada 4” e veremos as reais intenções do ator nessa proposta caça-níquel de revisitar seus personagens clássicos.

Como dito, talvez o tempo caia bem para “Um Príncipe em Nova York 2“, que chegou com uma receita tão consagrada, que parecem ter se preocupado pouco com o recheio.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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