Sinopse: Em “A Caminho da Lua”, uma garota constrói uma nave espacial e parte rumo ao espaço à procura da deusa da lua.
Direção: Glen Keane e John Kahrs
Título Original: Over the Moon (2020)
Gênero: Animação | Aventura | Comédia
Duração: 1h 35min
País: EUA | China
Intercâmbio de Fórmulas
Criticada por exagerar na adição de obras genéricas em seu catálogo exclusivo, a Netflix aos poucos se organiza para se equiparar em qualidade aos distribuidores com décadas de mercado. A aposta da empresa na temporada de prêmios em animação é “A Caminho da Lua“, uma coprodução da companhia ao lado da Pearl Studio (importante veículo de internacionalização da cultura chinesa, como se observa nessa reportagem, em inglês, da Variety), que ano retrasado obteve relativo sucesso ao lado da Dreamworks com “Abominável” (2019). Por enquanto, já angariou uma indicação ao Globo de Ouro 2021 na categoria. Uma das maneiras de encontrar caminhos bem-sucedido foi trazer o veterano diretor Glen Keane, que trabalhou por quase quarenta anos no departamento de animação da Disney – até vencer um Oscar em 2018 ao lado de Kobe Bryant com o curta-metragem “Dear Basketball“.
Aqui ele trabalha ao lado do cineasta John Kars (também ganhador de Oscar, em 2013, por “Paperman”). Ao contrário de Keane, ele tem mais experiência com a animação digital – e o filme parece ser um alinhamento da sensibilidade de um desenho clássico com a dinâmica moderna. Com financiamento chinês, o longa-metragem nos transporta para um vilarejo no Oriente, onde a jovem Fei Fei (Cathy Ang) ajuda seu pai (John Cho) na venda de bolinhos, quatros anos após o falecimento de sua mãe (Ruthie Ann Miles). Obcecada pela lenda de Chang’e (Phillipa Soo), ela organiza uma viagem à lua para encontrá-la.
O longa-metragem é um bonito conto sobre a aceitação da morte, de uma forma que apenas as manifestações culturais chinesas e norte-americanas conseguiriam mediar. Ao se vincular afetivamente a uma deusa que optou pela imortalidade e está há milhares de anos esperando o amor da sua vida, Fei Fei projeta uma realidade paralela, onde a morte de sua mãe não foi o fim de tudo. O roteiro foi escrito por Audrey Welles, que faleceu de câncer com apenas 58 anos, logo depois desse trabalho. Ela transitou pela carreira em propostas narrativas plurais sob encomenda, desde a comédia romântica de desencontros “Feito Cães e Gatos” (1996) até o drama “O Ódio que Você Semeia” (2018).
Veja o Trailer:
A resistência desenvolvida pela protagonista a um novo relacionamento do pai, enxergando que a memória do que foi sua família está se perdendo, não é um mote inovador. Porém, aplicado o suficiente para nos manter por quase metade da sessão conectados com o filme – que desenvolve sua aventura de maneira muito mais cadenciada e carregada de propósitos do que o irregular “Soul: Uma Aventura com Alma“(2020). Os alívios cômicos em “A Caminho da Lua” são pulverizados e cumprem determinadas funções de acordo com a trajetória de Fei Fei. isso evita o cansaço da imagem de personagens que não teriam tempo de tela para desenvolver tramas paralelas, como o menino Chin (Robert G. Chiu).
Usando as músicas como fio condutor, a animação encontra sua estética no surgimento de Chang’e – que aparece como uma diva pop, sendo suas partes as mais interessantes do filme. A partir dali o ritmo mais frenético e o colorido brilhoso toma conta, um desenvolvimento feito sob encomenda para os mais novos. Lembra as produções mais recentes da Pixar e parece que veremos essas repetições de trazer um pouco de “Divertida Mente” (2015) por um bom tempo – tanto na Disney quanto nas concorrentes. Porém, aqui vamos um pouco além disso. As canções mais melosas dividem espaço até com um rap, em uma montagem de cena próxima dos animes (a melhor sequência do longa-metragem, na partida de tênis de mesa entre Chang’e e Chin, na versão original chamada de “Hey Boy” – e em português “Abre o Jogo”).
Por trás de mensagens bastante exploradas, sobre a irreversibilidade da morte e a necessidade de seguirmos adiante, observamos que “A Caminho da Lua” é mais um da Netflix que desiste de reinventar a roda. Pinça elementos clássicos, atualizando o que é possível, para entregar ao público um diversão baseada em uma fórmula – bem menos algoritmizada do que ela insistia em fazer, mas ainda padecendo um pouco mais de sensibilidade.
Assista “Hey Boy”: