Sinopse: Em “A Chorona”, o general aposentado, Enrique, finalmente enfrenta julgamento pelo massacre genocida de milhares de maias décadas atrás. Enquanto uma horda de manifestantes raivosos ameaça invadir seu lar opulento, as mulheres da casa – sua esposa arrogante, filha em conflito e neta precoce – refletem sobre sua responsabilidade de proteger Enrique, errático e senil, contra as verdades devastadoras que são reveladas publicamente enquanto começam a sentir uma força sobrenatural em busca de vingança por seus crimes. Enquanto isso, grande parte dos empregados da família foge, deixando apenas a governanta leal Valeriana até que uma misteriosa jovem indígena chega…
Direção: Jayro Bustamante
Título Original: La Llorona (2019)
Gênero: Horror | Crime | Drama
Duração: 1h 37min
País: Guatemala | França
Em Águas Nada Calmas
Jayro Bustamante começa “A Chorona“, que disputa uma vaga para a 93º edição do Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro, com uma sequência angustiante. Uma oração aflita que se aproxima de um transe. Velas e palavras marcantes incrementam o cenário do filme de horror. Por isso, não é difícil compreender o certo encanto que essa produção da Guatemala vem causando nos que gostam do gênero. O longa-metragem aparece como um respiro trazendo uma versão do folclore latino-americano que já figurou em outros filmes, mas sem grande sucesso.
Nessa versão, o cineasta coloca em cena os fantasmas da ditadura guatemalteca que se renovam como membros mortos do povo indígena Maia Exil. Quase inteiramente exterminados nas décadas anteriores, voltam quando general Enrique Monteverde é, finalmente, condenado. Assim como aconteceu em uma dolorosa narrativa fora da ficção, o filme também nos mostra como a fragilidade desses povos exterminou aldeias inteiras e deixaram marcas que não se dissolvem (e não deveriam) com o tempo.
“A Chorona” é daquelas obras que agradam à crítica, aos votantes das premiações e ao público. Com personagens combativas e um desenvolvimento que beira o desespero, aposta em acontecimentos fortes e em uma tensão contínua que nos fazem ansiar por e temer o desenrolar da trama. Nesse momento, a produção encontra-se entre os quinze semifinalistas, mas sua presença ao lado de “Druk – Mais uma Rodada” é dada como certa.
Embora para o espectador fique evidente que o general Monteverde realmente cometeu todas as atrocidades das quais é acusado, sua esposa Carmen (Margarita Kenéfic) – com mais convicção – e sua filha (Sabrina De La Hoz) parecem querer acreditar nas mentiras repetidas. Além delas, permanece ao lado de Enrique, uma funcionária de muitos anos vivida por María Telón, Valeriana – nome constantemente repetido durante a trama. A relação dela com a casa e a família não é nada simples e também revela outro lado perverso dos Monteverde. As atrizes, que já estiveram no filme anterior do diretor, “Tremores” (também de 2019), mostram afinidade em cena.
No entanto, tudo se intensifica com a chegada de Alma (María Mercedes Coroy). A jovem carrega histórias que não podem mais ser negadas, algo do domínio de outro plano, e vê uma chance de se aproximar da família quando os outros funcionários da casa (todos indígenas), deixam o emprego. Imediatamente cria uma relação de cumplicidade com Sara (Ayla-Elea Hurtado), neta de Enrique, e gera mais aflição com seu comportamento excêntrico, que percebemos, nos faz lembrar a personagem que dá título ao filme.
Embora seja a regra de todo bom terror, a ideia de provocar medo a partir do que somente se evidencia, mas não se mostra por completo, não é de simples realização. “A Chorona“, possivelmente, é um dos melhores filmes de terror dos últimos anos. No entanto, não esperem sangue ou vísceras. Essas só aparecem mesmo quando nos rememoram a brutalidade covarde que foi a ditadura. Sobra para as rãs – e Monteverde – o papel de assustar.
Veja o Trailer: