A Garota e a Aranha

A Garota e a Aranha Crítica Filme Poster

45ª Mostra SP LogoSinopse: Em”A Garota e a Aranha”, Lisa está se mudando. Mara é deixada para trás. À medida que as caixas de mudança são transportadas, as paredes são pintadas e os armários construídos, abismos começam a se abrir, anseios ocupam os cômodos e uma montanha-russa emocional se coloca em movimento nesta catástrofe tragicômica. Um conto poético sobre mudança e efemeridade.
Direção: Ramon Zürcher e Silvan Zürcher
Título Original: Das Mädchen und die Spinne
Gênero: Drama
Duração: 1h 38min
País: Suíça

A Garota e a Aranha Crítica Filme Imagem

Carrossel de Emoções

Uma dança de intenções. Assim poderia ser definido “A Garota e a Aranha“, produção suíça dirigida por Ramon e Silvan Zürcher, parte da Competição Novos Diretores da 45ª Mostra SP. Apresentado na seção Encontros do Festival de Berlim, o longa-metragem saiu vitorioso com os prêmios de direção e da crítica, em um drama urbana que capta bem a instabilidade, fragilidade e – sobretudo – fluidez das dinâmicas sociais contemporâneas.

Na trama, Lisa (Liliane Amuat) está saindo da casa em que mora com Mara (Henriette Confurius). Além dela, ajudam a protagonista a organizar a mudança sua mãe e a vizinha, se dividindo entre duas crianças pequenas e um gato bagunceiro. A inconveniência da mãe aparece logo no primeiro momento, quando, sem nenhuma cerimônia, aponta as herpes em vias de estourar nos lábios de Mara e questiona se a boca de Lisa não ficará assim.

Ramon e Silvan são irmãos que, ao que tudo indica, farão de suas formações complementos na carreira de realizações audiovisuais. O primeiro seguiu o caminho de estudos relacionados à dramaturgia, enquanto que o segundo iniciou na Filosofia e complementou com produção audiovisual. Antes de lançar com sucesso esta obra no circuito de festivais, fizeram em 2013 “A Gatinha Esquisita“, também exibida na Berlinale. Podemos testemunhar, então, algo parecido com os belgas Dardenne, que também colocam um pouco as relações mais íntimas e privadas pelo viés do enigma em suas propostas fílmicas.

O primeiro ato de “A Garota e a Aranha” é o mais próximo do convencional enquanto narrativa e linguagem. A história avança para caracterizar os personagens, sem entremeá-los. O que o espectador tradicional pode estranhar é que essas conexões não serão formuladas, de todo, até o final da sessão. Ao mesmo tempo que conta uma história, a obra é um jogo, no qual seus autores e as peças que eles utilizam se embaralham todo o tempo. Sacodem, assim como o asfalto naquela rua com seu sossego perturbado pelo, também inconveniente, barulho de uma britadeira.

Enquanto que para a mãe de Lisa toda aquela situação é intrigante e instigante, a vizinha parece se entreter. Fala de como seria divertido se fosse ela a se mudar para a casa de Mara. Já a protagonista promove alguns momentos oníricos a partir de uma imaginação impactada pela mistura de sentimentos. Temos aqui um ritual de despedida que mistura medo e alívio e dá a Lisa argumentos para despertar – junto, ao mesmo tempo e agora – ansiedade, angústia e esperança. A fluidez das dinâmicas na contemporaneidade é tanta que a mãe não deixará de iniciar um relacionamento maduro com o homem contratado para fazer pequenos reparos e pintar a residência.

Aqueles corpos transitam, convivem no mais alto grau de intimidade e, mesmo assim, não tiram de nós a sensação de que guardam segredos. Um jogo de intenções em um carrossel de relações fluidas – ao som de “Voyage Voyage” de Desireless faz de “A Garota e a Aranha” um território de incertezas, acima de alguma capital, que boa parte de nós gostaria de estar.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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