Sinopse: Em “A Migração”, Guillermo Lucena (Santiago Pedrero), músico argentino, viaja para Lima em busca de um amigo que não via há anos, tendo apenas um CD e um cartão-postal como pistas. Em sua busca, conhece Sofia (Paulina Bazan), uma adolescente inquieta que tem muito em comum com o amigo e que o ajudará em sua busca.
Direção: Ezequiel Acuña
Título Original: La Migración (2018)
Gênero: Comédia | Musical
Duração: 1h 19min
País: Peru
Saber Decir Adiós es Crecer
Integrante do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo de 2020 e atualmente disponível na plataforma de streaming Looke, a produção peruana “A Migração“, do diretor argentino Ezequiel Acuña é sua estreia em terras brasileiras. Já conhecido na Argentina por “Excursiones” (2010) e “Como um Avión Estrellado” (2005), sendo o último ganhador do BAFICI como melhor filme daquele ano, o cineasta aposta agora em uma situação híbrida que reflete um pouco de sua história.
Argentino radicado no Peru há quatro anos, resolve introduzir essa sensação de estar em outra terra em seu primeiro filme gravado em Lima. Contando a história de um músico decadente que resolve sair da Argentina até a capital peruana em busca de um antigo amigo, consegue desenvolver bem essa impressão de desterritorialização ou desorganização daquele que está fora de seu eixo ou seu lar.
Não que o diretor, ele próprio um migrante, defenda a relação integral com seu território de nascimento, mas precisamos admitir que migrar nem sempre é fácil. Embora Guillermo Lucena (Santiago Pedrero), nosso músico sem aplausos, viaje a Lima por vontade própria, há algo nele que está sempre em trânsito mesmo após sua chegada. Quem teve (ou tem) a experiência de chegar a um novo lar sabe como o medo convive com as expectativas e esperanças depositadas no recomeço. Ainda que esteja em um país vizinho e com o mesmo idioma (mas não o sotaque!), a sensação de incômodo permanece. Posteriormente, iremos ver que ela não tem relação apenas com o território.
Veja o Trailer:
Em “A Migração“, o cartão postal misterioso que o protagonista recebe lhe dá poucas pistas da localização de seu antigo parceiro de banda. Acunã aposta nessa indefinição e deslocamento da personagem para fazer com que seu momento se conecte ao de Sofia (Paulina Bazan), adolescente de 17 anos que se torna sua melhor amiga. Ainda preso na década de 1990 (musical e emocionalmente), Guillermo vê na menina uma possibilidade de afeto há muito perdida.
É bem verdade que daqui a imaturidade de Lucena (infelizmente) parece bem familiar. Algo geracional, diriam. Talvez, o seja. Mais conectado aos teens que aos adultos de sua própria idade, permanece vivendo um tempo glorioso no qual a guitarra e os cabelos rebeldes eram a solução para tudo (ou quase tudo). É preciso, no entanto, dizer que o filme perde um pouco a força ao explorar a vontade de Guille de voltar a outro tempo – embora esta não seja exatamente verbalizada. Para Sofia, o amadurecimento vindo do encontro funciona perfeitamente bem, para quem tem quase quarenta soa, por vezes, um pouco bobo – como somos todos nós que vivemos um tanto do passado.
Entre todas as viagens – metafóricas ou não – que a vida nos apresenta, em algum momento, a gente aprende. Mais aos trinta ou aos quarenta, dependendo de quais ondas nos atravessem, percebemos que a despedida é necessária para o crescimento e o(s) renascimento(s).
Para quem gosta de rock latino-americano, “A Migração” é uma oportunidade de escutar e conhecer a cena alternativa do Peru.
Ouça “Sentir la Noche Inmensa”, de Submarino: