White Eye

White Eye Crítica Curta Oscar 2021 Pôster

Sinopse: Um homem encontra sua bicicleta roubada, que agora pertence a um estranho. Ao tentar recuperá-lo, ele luta para permanecer humano.
Direção: Tomer Shushan
Título Original: White Eye (2019)
Gênero: Drama
Duração: 20min
País: Israel

White Eye Crítica Curta Oscar 2021 Imagem

Same Old Story

A expressão que compõe o título, que só tem a potência necessária caso não fosse traduzida, é muito usada na língua inglesa quando ouvimos (ou contamos) aquela “velha história de sempre”. Há muitas formas de se aplicar essa sentença a “White Eye“, curta-metragem indicado ao Oscar 2021 – tanto em sua forma quanto no seu objeto.

Começaremos pela forma. Com uma câmera só, em um plano-sequência, o diretor israelense Tomer Shushan, de pouco mais de trinta anos, nos apresenta uma obra que usa – quase como um manual – a linguagem de produções desta duração. Um drama simples, episódico, que forma uma base sólida de maneira sucinta, para promover seu debate. Quase sempre uma questão social, mas aqui entraríamos no campo conteudista. O cineasta (e também roteirista do filme) articula bem a representação, nos mantém presos à narrativa, aguardando sempre o próximo passo. A perspectiva será sempre a de Omer (Daniel Gad), o qual acompanhamos ao longo dos vinte minutos da sessão.

Nessa junção do tradicionalismo da linguagem com a atualização da mensagem, “White Eye” conquistou públicos e jurados dos mais distintos festivais. Vamos citar dois Grande Prêmios de Júris para ilustrar. O primeiro é o troféu do Curta Cinema do Rio de Janeiro, que ao mencioná-lo na competitiva internacional foi um importante palco para chegar ao Oscar (justamente por ser uma mostra tradicional). O segundo é o do SXSW, um evento que extrapola o audiovisual e as manifestações culturais e se propõe a relacionar os avanços tecnológicos e a modernidade e as novas leituras e dinâmicas da sociedade.

É aqui que passamos a falar do conteúdo. O filme conta a história de um jovem que encontra sua bicicleta roubada. Entra em contato com a Polícia e, em uma das grandes características dos centros urbanos pautados pela pós-modernidade, precisa enfrentar um importante obstáculo: a burocracia. Enquanto aguarda a chegada da viatura para registrar a situação, uma moça tenta fazer a mediação entre um imigrante da eritreia, Yunes (Dawit Tekelaeb), que alega ter adquirido de boa-fé o bem (há tempo não gasto meu Direito por aqui) e o protagonista, que mantém a afirmação de que a bicicleta é sua propriedade. Ela age para romper com a barreira idiomática e interpretações atravessadas que podem delas surgir, mas o preconceito enraizado grita quando os agentes da lei aparecem.

Omer, então, vai do lamento pelo excesso de burocracia a uma revolta contida e internalizada pela condenação sumária de Yunes – trabalhador de um restaurante que será extraditado pela mesma burocracia que o outro achou que funcionaria apenas para reaver a famigerada bicicleta. “White Eye” é um exercício de epifania que, na prática, é quase impossível de acontecer. Somos levados a presenciar ou fazer parte de situações parecidas com essa cotidianamente. Em um mundo cada vez mais individualista, mitigar o direito a propriedade soa como uma humanidade excessiva. Para a carga anticlimática dar o tom desta obra potente, faltava apenas uma conclusão coerente. E, por fim, quase como se refletisse sobre o caminho alegórico ao qual chegaria, Shushan nos mostra que, por mais crítico que se torne o olhar, é difícil não deixar de pegar o próprio pirão primeiro.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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