A Sentinela

A Sentinela Filme Netflix Olga Kurylenko Crítica Pôster

Sinopse: “A Sentinela” conta a história da soldado francesa Klara, interpretada por Olga Kurylenko. Transferida para casa depois de uma missão traumatizante, ela usa suas habilidades letais para caçar o homem que feriu sua irmã.
Direção: Julien Leclercq
Título Original: Sentinelle (2021)
Gênero: Ação | Thriller | Drama
Duração: 1h 20min
País: França

A Sentinela Filme Netflix Olga Kurylenko Crítica Imagem

Antes que Eu me Esqueça

Aos poucos a estratégia de explorar as tentativas e ampliar os tentáculos pelas diversas indústrias audiovisuais ao redor do mundo, vai sendo lida de melhor forma pela Netflix. Isso acaba tornando compreensível determinadas decisões, mostrando que acertos e erros dividem espaço quando se fala de produção de conteúdo. “A Sentinela“, por exemplo, chegou essa semana à plataforma de streaming com pouca movimentação da empresa. Ao contrário dos lançamentos das últimas semanas, como “Eu me Importo” e “Loucura de Amor” – que possuem críticas que denotam a positividade do gosto pessoal do crítico – o longa-metragem estrelado por Olga Kurylenko sequer foi merecedor de um trailer no canal oficial da plataforma no YouTube (por isso você vê ao final do texto a versão dublada, postada por um canal alternativo). O mesmo pode ser dito para as artes dos pôsteres, feitas sem qualquer originalidade.

Escrito e dirigido por Julien Leclercq (quase vinte anos de serviços prestados para o cinema de ação), é difícil não classificar a obra como genérica. Co-roteirizado pelo pouco experiente Matthieu Serveau, a surpresa inicial pela duração do filme (uma hora e vinte, algo fora do padrão da Netflix, que parece quase fazer uma política de produções de quase ou mais de duas horas) se esvai quando percebemos que há pouco a ser mostrado, contado, dito. Se podemos questionar a maneira frenética com qual “Monster Hunter” (2020) abandona a narrativa, entrega um ato inaugural de tirar o fôlego e tenta aparar arestas depois, aqui a tática é ainda mais falha.

“A Sentinela”, como não deveria ser diferente, se vende a partir da imagem de Kurylenko, famosa e experiente atriz. Carro-chefe do projeto, mesmo que sua carreira nunca tenha, de fato, engrenado após “007: Quantum of Solace” (2008). A ucraniana tem emplacado trabalhos na França, inclusive o simpático “Os Tradutores” (2019), uma atualização de narrativa de mistérios bem menos comentada do que “Entre Facas e Segredos” (2019). Não é a primeira vez que ela aceita o papel de heroína de ação e há uma ideia ainda estereotipada de vincular os traços do leste europeu com serviços de inteligência e guerras que acaba atraindo Olga para obras desta natureza.

O prólogo nos mantém em alerta, uma vez que traz a soldado Klara no campo de batalha, auxiliando em uma tradução. Na abordagem de uma mulher, as tropas francesas inseridas no cansado contexto de “guerra ao terror”, tentam obter informações que levem à prisão do marido da detida. A protagonista, então, cria uma relação humanizada, um raro exemplo de empatia em meio a um conflito. É como contrapor a ambientação narrativa de “Bela Vingança” (2020), que coloca a personagem de Carey Mulligan sedenta por caos em meio a espaços controlados, com suas dinâmicas burocratizadas.

Porém, nada disso se sustenta, quando o início do longa-metragem é interrompido por um jogral em intertítulos explicando o que é a Operação Sentinela, em um slide show que usa pontos turísticos de Paris ao fundo. A história coloca de volta à “vida normal” uma combatente carregada de traumas e que tenta, quando possível, aplicar os protocolos de guerra ao cotidiano. Assim, ela aborda de forma vigorosa um homem que está praticando violência doméstica com outra mulher na beira da praia, por exemplo. Um processo de readaptação difícil, que piora quando um fato afeta a sua família.

O que vai minguando o espectador é que esse acontecimento, envolvendo a irmã da protagonista, surge após uma lenta exploração dessa caracterização básica de Klara. Parece que “A Sentinela” quer ser apenas esse registro de uma pessoa, se forçando a desenvolver um thriller de ação quase que por obrigação. Estende injustificadamente um drama pouco profundo, que transforma a humanização como marca da personalidade da soldada quase como uma esquete solta no início e não é capaz de promover nenhuma sequência que potencialize a manutenção de expectativa buscada com o ritmo lento. Nem mesmo rediscutir o que envolve a própria Operação Sentinela e a polêmica de um militarismo antiterrorista em uma grande metrópole.

Por fim, o grande vilão, responsável direto pelo crime de violência, é quase invisível. Há uma linha de abordagem com força para crescer aqui, mas dificilmente uma obra de Julien Leclercq desenvolveria tal premissa. Estamos falando do homem protegido pelo poder – tanto financeiro e social, quanto por sua condição de homem. Klara precisará investigar, interpelar e, por fim, buscar justiça por meios que fujam da ortodoxia, porque parece impossível a solução de um caso tão simples. A posição dela enquanto autoridade foi desautorizada por conta dos traumas – e ela entende que manter-se invisível será bem mais proveitoso.

Agora, como “A Sentinela” faz isso? Em um clímax de dois minutos, brincando com o público em uma falsa conclusão. De forma atabalhoada o filme se encerra, porque entenderam que faria mais sentido criar um checklist frio de cenas, que somente existem (algumas objetificantes, por sinal) para ocupar um espaço do nosso final de semana.

Veja o Trailer:

 

Clique aqui e leia críticas de outros filmes da Netflix.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *