Sinopse: Artistas africanos que migraram para São Paulo falam de suas experiências artísticas e seu relacionamento com seu novo entorno.
Direção: Rose Satiko Hijiki e Jasper Chalcraft
Título Original: Afro-Sampas (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 43 min.
País: Brasil
Palavra e Resposta
Com título inspirado no famoso álbum de Baden Powell e Vinicius de Moraes (Afro-Sambas- 1966), “Afro-Sampas” (parte da programação do Festival In-Edit Brasil 2020) não é apenas um encontro entre Brasil e África. É também um encontro entre os antropólogos Rose Satiko Hijiki e Jasper Chalcraft e a antropologia e o documentário.
Após uma primeira conexão com músicos africanos em 2016, a antropóloga brasileira e o antropólogo inglês decidem registrar encontros desses com músicos brasileiros. Ao fazer entrevistas e trazer sonoridades do Togo, Congo, Moçambique ,dentre outros países africanos, a dupla de diretores mostra a multiplicidade de sons e ritmos que nasceram no continente. Esse é um dos pontos centrais do documentário que aposta na descoberta e surpresa dos brasileiros e no encontro dessas sonoridades africanas. Assim, o que vemos é uma dupla conexão, pois os próprios africanos também passam a aprender um pouco mais sobre os instrumentos utilizados em outros países do continente materno.
“Afro-Sampas” revela um tanto de sua verve antropológica ao explorar a maneira de tocar e a relação com a tradição( e , por vezes, a dificuldade dela). No encontro que promovem o que vemos é uma troca de informações e símbolos que podem ser reinterpretados e também contam com uma identificação que não se faz por correspondência, mas pelas diferenças. É sempre importante ressaltar que os diversos povos africanos que vieram para o Brasil se encontraram e, para poder fazer suas raízes sobreviverem aqui, criaram uma cultura única constituída por todas as outras. Assim, a nossa tão famosa mistura cultural se constitui de maneira bem mais complexa do que costumamos pensar em um primeiro momento. África- Europa- Índios naturais das Américas. Três divisões que em si inserem uma série de países e culturas.
O média trata também da capital do nosso grande Estado. Podemos ,então, pensar em São Paulo como cidade multicultural que é, aspecto que é retomado em diversos momentos durante o discursos de músicos brasileiros e dos africanos. E, embora seja cidade que recebe as mais diversas culturas, ainda assim, podemos perceber o resquício de discursos estereotipados sobre os africanos que moram na cidade. Mesmo que não seja o foco principal de “Afro-Sampas”, essa questão também é abordada por Satilo e Chalcraft.
A partir de 2014, o Brasil passou a receber uma nova leva de imigrantes, agora vindos de África. Chegando ao país principalmente para fugir de conflitos nos países de origem, esses imigrantes passaram a trabalhar das mais diversas maneiras possíveis. Podemos perceber um crescente número de restaurantes de gastronomia africana assim como lojas e ambulantes que vendem tecidos e roupas típicas. A reclamação que ouvimos no filme não nos soa como surpresa. Reconhecendo que o povo brasileiro pode ser receptivo e acolhedor – como podemos observar na mesa de café da manhã que um dos músicos monta para os colegas que receberá- o país é tido como um lugar de difícil adaptação para os que vêm de fora. A falta de políticas que efetivamente integrem esses imigrantes em posições que exerciam anteriormente é um dos motivos citados. Os músicos se veem obrigados a trabalhar de graça para mostrar sua arte. Sabemos , no entanto, que esse não é um problema particular desses artistas apenas. Viver de arte no país é difícil e, tem se tornado cada vez mais complexo.
O média documental parte de uma confluência e aborda inúmeras questões que vão desde o preconceito racial ,até essa dificuldade da classe artística no país. “Afro-Sampas” promove uma conexão afetiva de compassos diferentes. A fruição musical se faz dessa liga, quando não precisamos efetivamente entender a palavra dita , mas somos capazes de nos comover e (re)descobrir dentro da cultura do outro, um pouco de nossas próprias amalgamas culturais. Como acontece nessas reuniões que vemos na tela.
Veja o teaser: