Sinopse: O artista baiano Mateus Aleluia, ex-integrante da banda Os Tincoãs conta sobre sua vida, seu trabalho e sua espiritualidade.
Direção: Tenille Bezerra
Título Original: Aleluia, o canto Infinito do Tincoã (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 07min
País: Brasil
O Canto que Abre Caminhos
Documentário da baiana Tenille Bezerra, “Aleluia, o Canto Infinito do Tincoã” exibido no Festival In-Edit-Brasil 2020, concentra as atenções em Mateus Aleluia. O musicista fez parte da formação mais duradoura da banda Os Tincõas. Piaya cayana, pataca, pato-pataca, piá, picuá, rabilonga, tincoã: pássaro natural da América Latina que dá nome à banda. Tal qual o pássaro, Os Tincoãs também optaram pela liberdade e atravessaram o Atlântico em busca de uma aproximação maior com a África – que já se fazia presente em sua música.
Os cantos que misturam influências de terreiro e ritmos africanos após fazerem enorme sucesso no segundo álbum de 1973, já contando com a presença de Mateus, chegam à Angola. Em Luanda, o grupo se estabelece desde 1983 até seu fim, em 2000. Com a morte de Dadinho, um de seus líderes, o grupo decide parar. Mateus foi figura essencial para essa virada de eixo do grupo que começou tocando bolero. Com a chegada do jovem, porém experiente musicista, a influência do candomblé foi rapidamente incorporada à sonoridade do grupo.
Em seu documentário que, em parte é sobre Mateus, mas conta também um pouco da história do grupo, Tenille também resolve optar por uma narrativa livre, sem utilizar um formato duro como linguagem. Arma-se de imagens de arquivo, pedaços de filmes antigos, entrevistas- que mais parecem um bate-papo- com Mateus e deixa sua personagem livre para flutuar pelas lembranças.
O musicista, sempre simpático e carismático, faz da experiência de “Aleluia, o Canto Infinito do Tincoã” um leve contar de histórias. Desde sua relação íntima com a África , que se deu assim que pisou em Luanda, até as alterações na formação, todas palavras parecem meio encantadas ao saírem da boca de Aleluia. Poucas vezes uma única expressão emociona. E , a de Mateus nos deixa com os olhos marejados. Talvez porque o artista esteja falando de uma relação de afinidade sutil, porém intensa. Essa relação que estabelecemos entre Brasil e África mesmo após séculos de sequestro de um(ns) povo(s) e sua(s) cultura(s).
Com a poesia que lhe é característica, diz uma das frases mais bonitas sobre essa conexão ancestral. Ao falar sobre a ida definitiva para o continente diz ser bonito como a história deles começa em uma baía(a de todos os Santos) e termina em outra(a de Luanda). Assim, ainda que não soubessem, Os Tincoãs ao nascerem em Cachoeira(cidade do Recôncavo Baiano), estabeleceram um vínculo com o continente Africano. Separados apenas por um mar, mas conectados em sua origem, criaram um repertório que pôde ser facilmente compreendido quando migraram de vez para Luanda.
Mateus , que entrou na banda por acaso, após desistência de um integrante, caminha pelas ruas de Luanda como se fosse sua casa. E, o é. Assim como Cachoeira. A cidade, aliás, parece ter parado no tempo. Mas, de uma maneira boa. Esse canto do Recôncavo guarda tradições e encantamentos de um passado doloroso e um sentimento de pertencimento que ,é bem possível, só seja possível de ser compreendido quando é sentido. Assim como Aleluia diz ser a arte. Algo que acontece em um momento, em um segundo. No próprio momento da sensação.
Não há como aprisionar o que muda e permanece o mesmo o tempo todo. Às vezes, me parece que a nossa relação com África também é um pouco assim. As histórias, as saudades- às quais se refere Mateus- só podem vir de um sentimento que se faz lugar. Espaço e tempo se confundem. “Aleluia, o canto Infinito do Tincoã” é isso tudo: espaço, tempo e arte de Mateus Aleluia.
Veja o trailer: