Sinopse: A violência e a desigualdade social unem a América Latina. O documentário América Armada acompanha três pessoas que vivem no Brasil, Colômbia e México e que, ameaçadas de morte, lutam contra a violência alimentada pelo Estado e pela indústria bélica. Três histórias, três países, a mesma opressão.
Direção: Alice Lanari e Pedro Asbeg
Título Original: América Armada (2020)
Gênero: Dodcumentário
Duração: 1h 18min
País: Brasil
Guerra Contra o que e Contra Quem?
Filmado em 2017 entre Colômbia, México e Brasil, o documentário “América Armada” estreia nas principais plataformas de streaming no dia 11 de março e, no dia 25 de abril, terá sua primeira exibição no canal de TV por assinatura Globo News. Seu formato é semelhante às boas reportagens investigativas que marcaram o “Globo Repórter” na década de 1980 e todo o conteúdo que o núcleo de jornalismo desenvolve no conglomerado que inclui a rede de notícias.
Tanto que o “Globo Repórter” acumulou prêmios e reconhecimento internacional – aqui mesmo na Apostila de Cinema revisitamos duas obras daquela época, que fizeram parte da retrospectiva especial sobre a TV na edição do ano passado da CineOP: “Theodorico, O Imperador do Sertão” (1978) de Eduardo Coutinho e “Wilsinho Galiléia” (1978) de João Batista de Andrade (ambos tratados no texto “Ocupação no Latifúndio Televisual“).
“América Armada” explora o mundo doloroso e controverso do tráfico de drogas na América Latina. Entendendo que o narcotráfico é uma das questões nodais da estruturação dos países no continente, corre atrás da história de pessoas que se envolveram direta ou indiretamente nessa complexa trama. Sem fazer um julgamento moral desse envolvimento, Alice Lanari (que fez parte da equipe de “Democracia em Vertigem”) e Pedro Asbeg (de “Democracia em Preto e Branco”) optam por destrinchar a violência que acompanha a não resolução do embate e que acaba por – novamente – nos deixar com uma série de cidadãos desaparecidos. O processo de violência, invisibilidade e culpabilização do elo mais fraco se repete sem deixar muitas alternativas para aqueles que vivem nas extremidades de uma estrutura montada apenas para alguns.
Assim como esse texto não é uma defesa das alternativas vivenciadas pelos narcotraficantes, o filme também não o é. Ele só evidencia aquilo que sabemos, mas que fingimos ignorar justamente porque a realidade que nos cerca faz parte de uma constelação de problemas advindos de outras décadas, outros séculos. Ao percorrer as ruas do Complexo do Alemão, algumas cenas e abordagens violentas são facilmente reconhecidas pelos cariocas – e, brasileiros. 16 mortes por dia. 16 mortes por dias em “tempos normais”. Assim segue nosso país. O perfil dos mortos? Precisamos mesmo escrever?
Em uma guerra que não deveria ser entre policiais e cidadãos, infelizmente, o que “América Armada” nos mostra em seu início é isso. Como deixamos chegar a esse ponto? Como viver em/com um eterno medo daqueles que deveriam zelar pela nossa proteção? E, talvez seja essa a pergunta mais importante: Como ver o extermínio de ambos os lados sem desacreditar diariamente da coletividade? Fica mesmo difícil lutar quando tudo se coloca como obstáculo.
Na Colômbia e no México o mesmo desamparado é denunciado nos conectando em nossas fraquezas e representações da pior maneira possível. Aquilo que se mostra como uma guerra civil tem origens em nossas desigualdades sociais e econômicas. Há que se resolvê-las para tentar caminhar por outras trincheiras. Os desaparecidos de hoje e outrora ecoam nos corpos daqueles que permanecem à espera de uma resolução ou definição.
Tragicamente, como o próprio texto da assessoria nos lembra, hoje a questão do armamento está condicionada a outros fatores- ainda mais preocupantes. Uma incompreensão de nossas feridas que nos coloca repetidamente como inimigos de nós mesmos.
Veja o Trailer: