Sinopse: Em “Amizade Maldita”, Kevin e Beth notam que seu filho de oito anos, Josh, tem passado bastante tempo brincando com um novo amigo imaginário, chamado Z. O que a princípio parece uma relação inofensiva, rapidamente se transforma em algo destrutivo e perigoso. É quando Beth começa a desvendar o seu próprio passado, que ela descobre que Z pode não estar apenas na imaginação do filho.
Direção: Brandon Christensen
Título Original: Z (2019)
Gênero: Horror | Drama
Duração: 1h 23min
País: Canadá
Imaginação em Família
Retomando a série de produções de gênero de pequenos e médios estúdios na faixa Superestreia de sábado, o Telecine apresenta essa semana o canadense “Amizade Maldita“. Quando a Apostila de Cinema fizer seu balanço do ano, em que as listas dos conteúdos produzidos levarem a uma reflexão, esta é mais uma obra da plataforma de streaming que se juntará a um grupo que se caracterizará pela semelhança. Ou melhor, pela formatação genérica. Será difícil até mesmo individualizar alguma sequência específica, porque o longa-metragem dirigido por Brandon Christensen não consegue nos trazer imagens marcantes em nenhum momento.
Uma narrativa baseada em um argumento interessante, mas que não sai disso. O filme conta a história de uma família de três pessoas. O menino Joshua (Jett Klyne) desenvolve uma amizade com o amigo imaginário Z (ainda bem que o título em português não criou a anomalia que seria confundir esse filme com o clássico de Costa-Gavras), algo normal na idade. De início, seus pais acham engraçado e até estimulante para a imaginação e desenvolvimento do garoto – apesar da apresentação do colega ter um aspecto de mediunidade, com seu nome desenhado com um toque de incorporação pelo menino.
Até que há uma cisão de leituras aqui. Z começa a prejudicar a vida de Josh no colégio, que apresenta problemas de sociabilidade. Sua mãe, Beth (Keegan Connor Tracy) é surpreendida com a informação de inúmeros avisos enviados por professores e pedagogos pelo aluno. Informação omitida e acobertada pelo pai, Kevin (Sean Rogerson). Quando a mulher percebe que aquilo tudo, apesar de ser apenas uma fase, terá importantes consequências no futuro do filho, é tarde demais. O amigo imaginário começa a habitar também a mente dela e torna a solução bem mais difícil. Uma maneira de trazer para a protagonista enquanto realidade o que, no ato inaugural, ela trata como uma mentira. Neste ponto, lembra um pouco “A Maldição do Esquecidos” (2018), obra estrelada por Florence Pugh e parte do caldeirão que o Telecine trouxe em sua programação nas últimas semanas.
“Amizade Maldita” traz a possibilidade de uma espécie de transferência do poder de visualizar Z. Por sinal, o brinquedo eletrônico saudosista, uma mistura de Pense Bem com tabuleiro ouija é uma das poucas dicas e do sopro de originalidade do roteiro de Brandon ao lado de Colin Minihan. A ideia de transmissão genética de seus traumas e medos para os descendentes é uma premissa interessante para o desenvolvimento do terror. Entretanto, o filme pouco acrescenta, já que não encontra inspiração nem na metáfora e nem enquanto exercício de gênero.
As cenas se conectam, no objetivo único de avançar na história. O orçamento limitado traz representações esquecíveis e assim o espectador vai ficando com a sensação de que aqueles minutos da noite de seu sábado parecem escorrer pelo ralo. Se bem que, congestionados com o volume de possibilidades de escolha das plataformas de streaming, boa parte das nossas sessões caseiras terminam sob essa perspectiva.
Nem mesmo o ato final, que se concentrará na mente de Beth, é muito aproveitável. Uma mulher escravizada por si mesma, se pautando por alucinações que a tornam um esboço do que era. Quando o momento chega, o marido não está mais presente e o filho, aparentemente, está em segurança. Apenas a imaginação dela é capaz de gerar novos riscos. Imaginação que faltou aos realizadores de “Amizade Maldita“, que elevaram seu promissor argumento à única possibilidade narrativa e parece que acharam desnecessário ir além disso.
Veja o Trailer: