Aos Olhos de Ernesto

Aos Olhos de Ernesto

Sinopse: “Ao olhos de Ernesto” narra o processo de envelhecimento de Ernesto, fotógrafo uruguaio que mora em Porto Alegre há anos. Acostumado a viver sozinho depois da morte de sua esposa e da mudança de seu único filho para São Paulo, a vida de Ernesto começa a mudar a partir do encontro com a jovem Bia, “sobrinha” de uma vizinha.
Direção: Ana Luíza Azevedo
Título Original: Aos Olhos de Ernesto (2019)
Gênero: Comédia Dramática
Duração: 2h 3min
País: Brasil

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“Envelhecer é perder os que entendem nossas piadas, nossos silêncios e até nossas ausências”

Ana Luíza Azevedo e Jorge Bolani conseguem em “Ao Olhos de Ernesto” fazer o que pareceria aos olhos de qualquer outro impossível. Ambos (com a ajuda da fotografia de Glauco Firpo), trazem um pouco da América do Sul para dentro do escritório de Ernesto (Jorge Bolani). Uma América do Sul nostálgica que, assim com o próprio personagem, sabe que já viveu tempos mais felizes. O escritório do protagonista é Porto Alegre, é São Paulo, é Buenos Aires e é, acima de tudo, Montevideo -não Montevidéu, como nos corrige.

Um Ernesto, à principio satisfeito com o mundo que criou em seu próprio escritório mesmo que já não o possa mais enxergar, começa pelas mãos da conflituosa Bia (Gabriela Poester) a ver que sua Sudamerica pode ir para além de um quarto.

Sempre resistente à qualquer figura que tente se aproximar, o protagonista vê na jovem a paixão que um dia sentiu em suas veias. Primeiro através da literatura, segundo através de uma relação inusitada de amizade que se estabelece entre os dois. Ernesto tem ao filho Ramiro (Júlio Andrade), que mora em São Paulo, e ao vizinho Javier  (Jorge D’Elía), um senhor argentino turrão e engraçado (como só os senhores argentinos podem ser) em sua vida. Ainda assim, nenhum se mostra capaz de reavivar os sentimentos há muito adormecidos.

Ao receber a carta de uma antiga paixão, Bia se torna figura central para que o enamorar-se possa se desenvolver. O amor e a paixão não deveriam ser vistos como sentimentos dos quais podemos desfrutar somente na juventude e é Bia, uma jovem de apenas 23 anos, que ensina isso ao fotógrafo.

Acompanhamos o despertar do uruguaio e testemunhamos a volta de sua vontade de viver para além do microcosmo que criou. Ele mesmo dá à Bia uma importante troca: há muitos tipos de amor. Inúmeros e, provavelmente, incontáveis.

Envelhecer deve ser realmente difícil e a parte mais dolorosa, talvez, seja a de perder os amores que fomos construindo pela vida. Mas não precisa ser assim. Não precisamos pensar sempre que a nostalgia será nosso refúgio (e aqui digo para Ernesto, mas também para a América do Sul).

A cada nova música, novo passo, novo vinho, nova citação vemos Ernesto rejuvenescer. Mesmo que seu corpo continue a mostrar a fragilidade.

“Aos olhos de Ernesto” é um filme que mostra como diversos tipos de amor podem revelar-se, quando já não mais os esperamos. E, é bonito ver todos ali entre as cidades sul-americanas, transitando pelo mapa na voz de Benedetti, no ritmo de Ruben Rada (“parecido com o ritmo brasileiro, mas diferente”) e na interpretação de Caetano para a linda  canção de Fitó Paezimortalizada por Mercedes Sosa.

Afinal, por que continuamos mesmo a cantar?

“si cada noche es siempre alguna ausencia
y cada despertar un desencuentro
usted preguntará por qué cantamos
cantamos porque el río está sonando
y cuando suena el río / suena el río”

Mario Benedetti

Veja o Trailer:

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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