Sinopse: Felappi Montparnasse recebe um convite para jantar com velhos amigos, mas não sabe se deve aceitar.
Direção: Gabraz Sanna
Título Original: Aqui Jaz o Teu Esquema (2021)
Gênero: Documentário | Experimental
Duração: 1h 20min
País: Brasil
Pequena Síntese do Rio
“Aqui Jaz o teu Esquema” é uma intimista e reveladora obra que dialoga com o musicista Felappi Montparnasse. O filme, exibido na Mostra Embaúba Play, começa com sua dúvida ao redor de um convite que recebe de alguns amigos. O jantar, em Niterói, seria um pedido de perdão por uma atitude (EXTREMAMENTE) homofóbica que tiveram anos antes.
Gabraz Sanna, diretor do documentário de 80 minutos, nos leva até a casa de Montparnasse para escutar essa história. Porém, o filme não é sobre isso. E, é. Em uma fala contínua e confusa, o musicista revela seus maiores temores e fragilidades. Aos poucos, vamos entendendo sua relação com a família, com a arte e com as rejeições.
É tudo tão confuso também porque nosso interlocutor está completamente bêbado, mas para além do álcool há o Estado que corre em nossas veias. A palavra medo é repetida em algumas partes do filme que, basicamente, consiste em uma câmera parada no mesmo enquadramento que deixa Montparnasse ir e vir em suas conexões desconexas. O assustador: tudo faz muito sentido.
A câmera fixa faz com que prestemos atenção à cada detalhe do que está em cena. A garrafinha de cachaça muito barata, uma certa quantidade de objetos empilhados, o cigarro nas mãos, uma foto 3X4 na janela. O medo. As quedas. As fugas. As relações complexas.
Não dá para saber se Felappi Montparnasse seria tão magnético caso estivesse sóbrio (minha aposta é que sim, acompanhando a singularidade de sua música). Se não fizermos o exercício de não tentar descobrir o que é verdade ou não, caminhamos de acordo com a verdade da personagem. Tudo bem. Tudo ótimo.
Anoitecemos com Sanna e Montparnasse nos revelando cada vez mais de um Rio contemporâneo e das suas dores. Ainda somos contemplados com a trilha sonora igualmente estranha e que combina muito bem com essa cidade. Experimentalismo perigoso e fragmentário.
Sem buscar a perfeição personagem, música e filme encontram na convergência de seus ruídos o Rio de Janeiro. A ponte vem como alívio.